Bauru terá videomonitoramento até final do ano, afirma vereador

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 Novo projeto de segurança terá abrangência em todo o município e revela o medo da violência dos bauruenses

Câmeras para videomonitoramento já estão em vias de ser instaladas em diversos pontos da cidade de Bauru. A medida, que tem como objetivo diminuir furtos, assaltos e outros crimes na cidade, foi um compromisso assumido pelo deputado federal Capitão José Augusto Rosa e tem previsão para ser finalizada até o final de 2017. São previstos inicialmente dez pontos de videomonitoramento para o projeto, que custará aproximadamente R$ 400 mil para o município.

As etapas iniciais já estão em andamento: no dia 31 de março deste ano houve uma reunião entre o presidente da Emdurb (Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru) Elizeu Eclair, do tenente-coronel Flávio Kitazume, do major Hudson Covolan, do vereador e ex-comandante da polícia militar Benedito Roberto Meira (PSB) e do vice-prefeito Antônio Gimenez. Foi anunciada nessa reunião a liberação de uma emenda parlamentar no valor de R$300 mil para o início da implantação do projeto em Bauru.

Em entrevista para o Repórter Unesp, o vereador Coronel Meira, um dos responsáveis pela iniciativa, afirmou que a principal expectativa com esse sistema é a prevenção criminal. Ele garante que esse projeto já se mostrou eficiente em outros lugares. “Nos municípios onde foram instalados sistemas de videomonitoramento houve redução de crimes, ou elucidação destes com o auxílio das imagens gravadas”, defende ele.

Segundo o Coronel, as câmeras serão instaladas em áreas de interesse de segurança pública, definidas pela Polícia Militar por meio de levantamento de indicadores criminais. Haverá câmeras nas regiões centrais e periféricas do município, embora os pontos inicias localizem-se em áreas centrais da cidade, nos principais cruzamentos de vias e na entrada e saída da cidade. Confira abaixo os principais pontos onde essas câmeras ficarão.

A pretensão é que o sistema seja expandido conforme a disponibilidade orçamentária. Porém, há interesse de parcerias com a iniciativa privada para “adquirir os equipamentos e interligar com o sistema existente”, segundo o ex-coronel.

Para entrar em funcionamento, o videomonitoramento depende de duas etapas, uma de responsabilidade da Prefeitura Municipal e a outra de responsabilidade da Polícia Militar. Há um recurso de R$ 700 mil da Polícia Militar para a preparação do Centro de Operações da PM para monitorar essas câmeras e garantir a manutenção do programa. Todos os processos são demorados e burocráticos, no entanto, Meira acredita que até o final do ano essas duas etapas estejam finalizadas.

Caracterizado como um “sonho antigo” pelo vereador Benedito Roberto Meira em entrevista para o Jornal da Cidade em maio deste ano, o projeto apenas conseguiu ganhar força agora, em um momento de baixo efetivo de policiais. Um levantamento feito pelo Globo em fevereiro deste ano apontou que o número de PMs nas ruas teve queda em cinco estados brasileiros nos últimos três anos. Dentre esses estados está São Paulo.

Segundo a pesquisa, todos os estados, em conjunto, tiveram uma perda de 17 mil PMs. São Paulo é o terceiro estado com mais habitantes por PM (580, atualmente). O Rio de Janeiro, que tem quase o dobro de mortes por arma de fogo do que São Paulo, de acordo com o Mapa da Violência de 2016, tem apenas 363 habitantes por PM e, ao contrário de outros estados, apresentou um crescimento de PMs nas ruas.

A iniciativa de Bauru, tem o objetivo de auxiliar essa baixa dentro da Polícia Militar. O projeto tem ampla participação de pessoas de corporações militares e ex-militares e já é realidade em outros pontos da cidade, normalmente privados, como condomínios, shoppings e estabelecimentos comerciais.

O Repórter Unesp foi às ruas perguntar para as pessoas se elas sabiam desse projeto e o que achavam de câmeras nas cidades como um programa de segurança pública. A grande maioria não tinha conhecimento da ação. No entanto, foi um consenso dos entrevistados a opinião de que isso trará melhorias para a segurança de Bauru. A grande maioria culpa a violência nas cidades por conta de uma suposta ineficiência na prevenção e punição de crimes.

Há quem aponte outras razões para o aumento da criminalidade nos últimos anos. A especialista em geografia do crime Vania Ceccato, em entrevista à Folha de São Paulo, expôs que um possível erro dos governantes do Brasil é desvincular a segurança pública das demais políticas sociais. “O Brasil é um país com alta tolerância à violência”, afirmou Vania Ceccato.

A especialista apontou que o conceito básico de cidade, “lugar de convívio coletivo”, tem desaparecido devido à separação das pessoas com maior renda em condomínios fechados, carros blindados e carros particulares, do restante da população, que não pode arcar com os custos de garantir uma boa segurança e depende de ações do Estado.

A procura pela segurança privada, é observada em diversas cidades do Brasil. Segundo dados da Federação Nacional de Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist) o faturamento do setor, em 2015, chegou a R$50 bilhões, o que resultou em um avanço nominal de 8,6% sobre 2014.

Segurança para quem pode

Bauru não foge dessa realidade do crescimento da segurança privada. Em 2014, o Repórter Unesp já destacou tal expansão do setor na cidade. No entanto, essa segurança não é direcionada para todos. Pessoas que moram em condomínios se sentem mais seguras, já as que não podem, não acreditam que Bauru é uma cidade tranquila.

De acordo com um levantamento de dados da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP/SP), em 2016, em Bauru, foram registrados 5.350 furtos, 1571 roubos e 1012 furtos e roubos de veículos. Todos esses números são maiores que os do ano de 2015. A violência na rua não diminui e os moradores da cidade sabem disso.

O Repórter Unesp foi às ruas saber como as pessoas se sentem em relação à segurança da cidade. O aposentado e morador de Altos da Cidade, Vanildo Lentra, acredita que Bauru já está “perdida para o crime”. “É muita malandragem hoje, muito ladrão, a gente não pode confiar em mais ninguém”. Em contra partida, a moradora do Bela Vista, Neuci de Oliveira, afirma:  “não acho Bauru perigosa. Nunca tive problemas com assaltos e furtos”.

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Para Carla Inácio da Silva e Wellington Almeida, moradores de Jardim Ouro Verde, Bauru não é uma cidade segura. “Já vi bastante assalto”, afirma ela. “Tem bairro, que nem o Jardim Estoril, que tem segurança na rua que os próprios moradores pagam, e isso na periferia já não tem” ressaltou ele.

A moradora do Pousada 1, Flaviana Lourenço, também destaca essa diferença de bairros. “Me sinto ameaçada com a violência nas ruas. No bairro em que eu trabalhava, que é onde fica o Centrinho, é tudo cercado, cheio de câmeras. É estranho, mas me sinto mais segura”.

O cenário é diferente para quem vive em condomínio, como é o caso de Karime Farache, moradora do Centre Ville.  “No condomínio fico com menos preocupações na cabeça do tipo ‘será que tranquei a porta?’”, afirma. Ingrid Ohana, moradora do Lago Sul, compartilha dessa opinião: “saber que temos certo controle de acesso ao condomínio, rondas 24h, ruas bem cuidadas e iluminadas, com certeza me faz sentir mais segura. Já morei na cidade e não voltaria”.

Foto em destaque: MichaelGaida/Pixabay

Reportagem: Jéssica Dourado

Produção Multimídia: Mariana Hafiz

Edição: Marina Kaiser

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