Nem todos os jovens antenados terão recursos para serem Millennials
Geração do Milênio, Geração da Internet, Geração Y. Há muitas formas de chamar os nascidos entre 1980 e meados dos anos 90. Entretanto, seria leviano observá-los apenas como jovens com maiores expectativas pessoais, que sabem manusear dispositivos eletrônicos como ninguém, que refletem muito sobre o futuro profissional e que gostam das mudanças constantes que a vida lhes dá. Existem características desses jovens que incluem comportamentos, decisões, causas e consequências de interações com as demais gerações. Muitos padrões de comportamentos e especificidades demandam esforço e recursos específicos, mas nem todos têm as mesmas condições para alcançá-los. Uma análise sobre os Millennials como grupo social, que interage e interfere nos comportamentos dos demais grupos, é necessária para refletir se todos os jovens são mesmo Millennials.
Os Millennials têm mais recursos que os Aspiracionais
As desigualdades sociais são comuns em sociedades capitalistas. A partir dessas diferenças, a empresa Geofusion, especialista em inteligência geográfica de mercado brasileiro, com auxílio de dados do Mosaic by Serasa Experian, produziu uma pesquisa sobre a Geração Y e os dividiu em dois grupos: os Millennials e os Aspiracionais. Em ambas, estão inseridos jovens de até 35 anos, que majoritariamente moram em regiões metropolitanas, solteiros, sem filhos e têm grande apego às tecnologias. Mas as semelhanças terminam aí. Os Millennials possuem maior poder aquisitivo e têm renda prevista de até 3 mil reais, enquanto os Aspiracionais possuem renda pressuposta de até 800 reais, bem aquém do primeiro grupo, e também têm menos acesso às tecnologias e em sua maioria cresceu em regiões periféricas. Isso significa que, assim como outros grupos sociais, a Geração Y não é homogênea.
Pode-se observar que concentração da Geração Y por região no Brasil se relaciona a participação no PIB de cada região do país, como mostrado em reportagem de 2016 da Nexo. Além disso, nas regiões Sul e Sudeste residem mais de 75% da Geração Y, dado relacionado diretamente à presença de melhores infraestruturas de comunicação nessas regiões, avaliado pela Geofusion. Desse modo, é possível observar que a questão financeira é um dos fatores que diferenciam os Millennials dos Aspiracionais. Os primeiros têm muito mais recursos que os últimos, e consequentemente, vivem mais conectados.
Privilégio dos Millennials
Ser Millennial não é só estar inserido numa faixa etária, é um privilégio social. Alguns comportamentos do Millennial, como, por exemplo, poder abdicar de um estágio por não se identificar com a função para buscar um “emprego ideal” é uma condição apenas de uma parcela dos Y’s. Esse apoio financeiro pode ser dado pelos próprios pais, nascidos em gerações anteriores, como a Geração X, ou mesmo os Baby Boomers.
Essas gerações antecedentes possuíam outras prioridades, como estabilidade profissional, o que lhes proporcionou uma vida financeira sólida. A Geração Y, em contrapartida, procura desafios profissionais, sem muitos interesses particulares além da própria tecnologia. Têm mentes mais individualistas e até uma certa indiferença com as gerações anteriores, podendo ser chamados de confusos ou até mesmo “mimados”. Além disso, as diferenças de idade refletem diretamente no uso da internet por faixa etária das pessoas. Em 2016, a Nexo fez uma análise demonstrando que cerca de 80% de jovens de média de 20 anos utilizou a internet nos primeiros meses daquele ano . A frequência, porém, se reduz ao decorrer das idades, se aproximando a 20% dos que têm em média 60 anos, os Baby Boomers.
Informação com acesso mais fácil
A Geração Y também trouxe consigo novas demandas, então o mercado adaptou-se para atrair a atenção desse grupo que não tem gostos particulares. Além do consumo material, no jovem Millennial há mais consumo intelectual. A Geração da Internet, assim como o próprio nome já expõe, teve contato com o mundo digital desde cedo. O fácil acesso às informações despertou a curiosidade de muitos nesse novo mundo que se abria ao ligar um computador. Entretanto, nem toda curiosidade evoluiu para produção de conhecimento.
O professor de História da Ciência da USP Francisco Queiroz afirma que todos os indivíduos, independente das gerações, sofrem influência das novas tecnologias de informação e comunicação, as TICs. “Há de fato um volume muito maior de informação em velocidade igualmente maior. Por outro lado, o que isso significa para o conhecimento?”, questiona.
As tecnologias influenciam à todos
As TICs são um conjunto de recursos tecnológicos usadas em diversas áreas para uma finalidade, como por exemplo para automatizar processos em uma indústria, no auxílio no gerenciamento comercial, na comunicação imediata, entre outros. O professor Francisco também avalia a super valorização digital pelos jovens. “Muitos consideram a internet e redes sociais responsáveis para mais conhecimento, melhoramento da educação, do trabalho, das relações, etc. A realidade não parece confirmar os prognósticos”, disse.
Além disso, essas novas alçadas tecnológicas podem influenciar as relações interpessoais, assim como afirma Juliano Domingues, professor pela Universidade Católica de Pernambuco, a Unicap. O Millennial passou a enxergar as responsabilidades de um novo modo, subvertendo hábitos que seus pais e avós praticavam.
Mesmo com muitas análises de diversas áreas sobre os Millennials, ainda existem discussões sobre a geração como um todo, uma vez que sua existência é muito próxima dos tempos atuais. Apesar disso, não se pode negar a forte influência das tecnologias de informação e comunicação, que mudaram a sociedade contemporânea. Esses recursos tecnológicos exigem um apoio financeiro maior, que nem toda essa geração possui, como retratado no caso dos aspiracionais. Assim, a Geração Y mostra-se heterogênea, já que a questão financeira é fundamental para o acesso tecnológico. Desse modo, podemos deduzir que a Geração do Milênio não se encaixa para todos.
Texto e Produção Multimídia: Camila Nakazato