O consumo de uma geração que já nasceu conectada e mais informada
Diferente das gerações passadas que viveram períodos intensos de ditadura e até mesmo guerras, os Millennials do Brasil cresceram numa realidade um pouco mais confortável, com grande acesso às informações e à internet. E tudo isso moldou não só a forma como esses jovens vivem a vida, mas também como os mesmos consomem desde roupas e comidas à drogas ilícitas e bebidas alcoólicas.
O álcool e as drogas ilícitas são substâncias extremamente presentes na vida das pessoas de um modo geral, mas em especial dos jovens adultos das geração Y que tem entre 20 e 39 anos. Segundo pesquisa realizada pela equipe do Repórter Unesp com 345 pessoas, apenas 10,5% afirmou não consumir nenhum tipo de bebida alcoólica. Enquanto isso, 33,5% afirmou nunca ter consumido nenhum tipo de droga ilícita.
Consumo mais moderado
A forma como esse consumo é realizado é bem diferente da geração passada, como explica o psiquiatra e pesquisador médico do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, Dr. Guilherme Kortas. “Quando o assunto é bebida alcoólica, há evidências de que o comportamento do jovem é moderado. Ser cool hoje é saber aproveitar os momentos de lazer sem perder o controle. O antigo hábito de beber muito se tornou uma prática mal vista por uma geração que se acostumou a ter sua imagem exposta nas redes sociais.”
O estudante de 21 anos Igor Bastos, por exemplo, vê na ressaca um grande aspecto negativo no consumo de bebidas alcoólicas. E apesar dessa geração se mostrar mais moderada, a pesquisa feita pela equipe de reportagem do Repórter Unesp apontou que 58,9% dos entrevistados já beberam a ponto de perder a consciência e 7,8% beberam ao ponto de precisarem ser levados ao hospital.
Motivos para beber
Contudo, não é difícil para o jovem nessa faixa etária enxergar aspectos positivos para beber. Igor, por exemplo, afirma consumir bebidas alcoólicas apenas por recreação, “o efeito desinibidor que o álcool tem costuma fazer os rolês um tanto mais divertidos”, conclui o estudante. Já para o designer de 31 anos que optou por não se identificar, a bebida está bastante atrelada à festas e baladas. “Bebida nas festas e baladas te ajuda a perder a timidez. Mas mais do que isso, sem bebida parece que sua experiência na festa não foi completa. Ao beber, tenho a sensação que estou aproveitando ao máximo o momento”, explica.
Entretanto, a psicóloga Letícia Fava que trabalhou com dependentes químicos em situação de rua por dois anos acredita que os motivos que levam as pessoas a beberem e usarem drogas é bem amplo e pode variar. “Acredito que os principais motivos são: a busca por algo que ajude a pessoa a esquecer os problemas e as dificuldades, falta de perspectiva com relação ao futuro, abandono e maus tratos familiares, desejo de sentir sensações novas e que sejam muito satisfatórias ao mesmo tempo, necessidade de se enturmar em determinado grupo social, busca pela alteração dos estados de consciência e experiências novas”, ressalta.
A Maconha para os Millennials
Em relação ao consumo de drogas ilícitas, a droga mais usada pelos Millennials é a maconha, como apontado na pesquisa feita pela equipe do Repórter Unesp. A maconha é também a droga mais utilizada pelos brasileiros num geral, como mostrou o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas feito em 2012 pela Universidade Federal de São Paulo. Mesmo sendo a droga ilícita mais utilizada, o usuário de maconha da geração Y ainda enfrenta certo preconceito das gerações anteriores, em grande parte por sua ilicitude e por existir uma crença de que ela é a porta de entrada para outras drogas. “Se você bebe álcool, ok. Agora maconha? Muitos dizem que é coisa de vagabundo. Porém acredito que esse pensamento está mudando”, salienta Igor.
Uma prova disso é a Marcha da Maconha, um evento que acontece anualmente em vários locais do mundo desde 1994 e no Brasil desde 2002. A marcha protesta a favor da legalização da maconha, da regulamentação do comércio e do uso. A droga que é extremamente debatida, é mais aceita nessa geração. Um motivo para isso pode ser o fato dela ser aparentemente menos nociva que o álcool e o cigarro, por exemplo. Além disso, os usuários relatam a necessidade de algo para conseguir relaxar, fugir do tédio.
Outras drogas
Outras drogas citadas pelos entrevistados são o Ecstasy e o Lsd. Cerca de 25% afirmou já ter consumido ou consumir essas drogas que, assim como o álcool, são comumente relacionadas à festas e baladas. A cocaína também foi menciona e pouco mais de 12% dos entrevistados afirmou consumir ou já ter consumido. Esse fato é extremamente relevante pois se distancia bastante do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas que afirma que apenas 2,3% da população geral fez uso de cocaína ao longo da vida.
Diferença entre as substâncias
A grande diferença entre esses consumos não diz muito respeito à suas composições e sim ao fato de o álcool ser legalizado e mais barato. Isso facilita a obtenção, já que não é tão simples obter drogas ilícitas. “Mas os danos, sociais e biológicos, que o uso nocivo do álcool pode causar são comparados aos das demais substâncias psicoativas. E na nossa cultura ainda existe uma valorização do álcool como sinônimo de virilidade e maturidade”, explicou a psicóloga Letícia Fava.
O abuso dessas substâncias também não tem muita diferença entre uma ou outra. “Todos esses abusos constam no mesmo capítulo da literatura, onde chamamos de transtornos mentais devido ao uso de substâncias psicoativas, onde entendemos que todas as substâncias que atuam no nosso psíquico são passíveis de abuso/dependência, não importando a princípio se são lícitas ou ilícitas. Não podemos deixar de citar que, apesar dessas informações, a ‘potência’ é diferente entre as substâncias psico ativas” finaliza o psiquiatra Fabricio Bertoli, atuante na cidade de Bauru.
Assim sendo, os perigos entre essas drogas, incluindo o álcool, vão além da dependência que em si já é grave. O uso a médio ou longo prazo, segundo informações dadas pelo Dr. Guilherme Kortas, pode acarretar em mais de 200 doenças como por exemplo a cirrose, o câncer, entre outras. Podendo inclusive desenvolver doenças mentais como a ansiedade, a depressão e a psicose. Além disso, há de se considerar também o prejuízo ao longo da vida social do usuário como os problemas pessoais que possam vir a surgir ou agravar-se junto com a dependência.
Repórter: Mariana Soares
Foto de capa: Mariana Soares
Produtora Multimídia: Marina Debrino
Editor de Ilha: Isaque Costa