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Os dois lados do encarceramento: os impactos prejudiciais na saúde mental

Detentos e agentes penitenciários são expostos a diferentes pressões psicológicas

O processo de encarceramento gera impactos na saúde mental nos dois lados: nos agentes penitenciários, que cuidam da manutenção do presídio; e nos próprios detentos, que veem sua liberdade sendo tirada de uma só vez.

Assim, a exclusão de um indivíduo do convívio social influencia no desenvolvimento de transtornos mentais. Segundo dados fornecidos pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), cerca de 12% dos custodiados federais já recorreram ao suicídio. Além dos 60% que sofrem com alucinações auditivas, psicose, desorientação, dentre outros problemas mentais.

De acordo com o portal BBC, estudos recentes provam que é praticamente inevitável que o tempo passado na prisão não provoque mudanças na personalidade dos indivíduos. Essas “alterações” são essenciais para que o detento sobreviva à prisão. Mas são contraproducentes para a sua vida pós-soltura.

A psicóloga do SINDCOP (Sindicato dos Servidores Público do Sistema Penitenciário Paulista), Vânia Pereira de Souza, trabalhou durante 22 anos em penitenciárias. Ela conta que os detentos passam por avaliações psicológicas desde o começo, quando ainda estão no CDP (Centro de Detenção Provisória). Portanto, o laudo feito pelos psicólogos da instituição o acompanham durante todo o período de encarceramento, como mostra no infográfico abaixo.

Essas entrevistas e avaliações dos psicólogos são de extrema importância para o futuro do presidiário. Pois, segundo Vânia, a decisão do juiz para a determinação de benefícios e de mudança de regime será embasada nesses laudos. Os detentos recebem auxílio psicológico para verificar se o mesmo está apto para voltar a conviver em sociedade. São avaliados e recebem certa assistência nesse quesito.

A falta de respaldo do governo

Carlos Eduardo Pioto trabalha como agente penitenciário há 19 anos. Passou por diversas penitenciárias e sente a pressão da sua profissão desde o primeiro mês, quando enfrentou uma rebelião no presídio.

Mesmo quando os dias estão aparentemente tranquilos, Carlos afirma que sempre tem um receio. “Na cadeia, nunca tem dia tranquilo, pois em 1 minuto pode virar um barril de pólvora e explodir. Aprendi a sempre ter cautela”. E completa, “se está tudo muito quieto, já fico com um receio maior. Você começa a entender a rotina da cadeia e a perceber o que pode acontecer”, conta.

O agente comenta que os níveis de pressão mudam repentinamente e que alguns acontecimentos podem deixá-lo mais apreensivo, como briga entre detentos, motins e ameaças. Ao ser questionado sobre os impactos da profissão na saúde mental, Carlos conta que teve depressão grave após quatro anos de trabalho. “Hoje, eu tento me desligar dos assuntos. Quando não estou trabalhando, saio para tomar uma cerveja com os amigos e o assunto ‘cadeia’ é proibido. Mas é impossível se desligar totalmente”, enfatiza.

Afinal, esse trabalho é o segundo mais estressante do mundo segundo um estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Conforme Carlos, o governo não toma medidas eficientes para dar assistência a eles. “Tem um programa de Saúde Mental dos Agentes de Segurança Penitenciária aprovado há anos. Mas até hoje ele não foi regulamentado pelo Governo do Estado de São Paulo e também não divulgam informações sobre o assunto”, ressalta.

Contudo, o SINDCOP oferece tratamento psicológico para os agentes penitenciários e para os familiares. Além de atividades esportivas, que funcionam como uma “válvula de escape”. Vânia conta, no vídeo abaixo, mais detalhes sobre as medidas tomadas pelo sindicato, sobre a pressão sofrida pelos agentes penitenciários e o impacto da reclusão na saúde mental.

 

Repórter: Luisa Volpe

Produção Multimídia: Júlia Pascoal

Editor: Thais Barion

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