A existência de cargas emocionais e físicas na realização de afazeres domésticos em conjunto ao emprego remunerado
Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 26 de abril de 2019, foi mostrado através de um módulo especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) que as mulheres trabalham, em média, 3,1 horas a mais que os homens. Para o cálculo foi considerado o tempo dedicado ao emprego e ao cuidado da casa e de seus moradores, a chamada jornada dupla.
Carga emocional e física
Essa carga extra é reconhecida amplamente por meio de pesquisas. Tanto que para o cálculo da idade de aposentadoria, são levadas em conta as horas a mais que as mulheres gastam cozinhando, limpando, passando, cuidando de animais e ajudando com o dever de casa dos filhos.
Por isso é considerado justo que se aposentem antes que os homens, já que, em média, são 53,3 horas dedicadas ao lar. Giovana Puppin, 23 anos e estagiária, diz que “a jornada dupla de trabalho das mulheres ainda é invisível para a maioria das pessoas, e longe de ser reconhecida como uma carga de trabalho de verdade”.
Zelinda Bonkoski tem 53 anos e está desempregada, quando perguntada sobre a divisão de tarefas com o marido disse que ele ajuda quando ela pede. Cláudia Biagini Suda Schlachta, 50 anos e bancária, responde que o cônjuge “ajuda quando solicitado”.
Maria Aparecida Martins da Silva, 71 anos e aposentada, diz que o marido ajuda, mas que os filhos não. Todas as respostas têm algo em comum: presumem a carga mental, que é o fato de sempre ter de pensar no que tem que ser feito e, diante disso, delegar as demais funções.
Em 2017, a francesa Emma publicou em seu Facebook uma série de quadrinhos explicando que, além das atividades físicas domésticas, as mulheres também têm a responsabilidade de estratégia e cronograma das atividades, pagamento de contas, agendamento de médicos e veterinários para o pets.
Como explicado na versão traduzida para o português, quando o homem espera da sua companheira que ela diga o que fazer, ele a vê como a responsável pelas atividades da casa. A carga mental é o fato de sempre ter de pensar no que tem que ser feito, e diante disso, delegar as demais funções.
Situações que homens não vivem
Analogamente, Giovana Pupin relatou que desistiram de chamá-la para participar de uma reunião, pois teriam muitos homens mais velhos, e com isso aumentaria a possibilidade de causar alguma situação de desconforto ou assédio.
Cláudia Biagini Suda Schlachta ressalta que também já passou por situações machistas em sua empresa, tendo que ouvir comentários como “o problema daqui é que tem muita mulher”. Contudo, Zenilda Bonkoski comenta que nunca passou por uma situação ruim, por não dar motivo para isso.
A questão do racismo
Em contrapartida, Maria Aparecida Martins da Silva vê com otimismo o mercado de trabalho para as mulheres atualmente. “A mulher que nasceu nos anos 60 não tinha muita possibilidade no mercado de trabalho, principalmente se fosse negra. As brancas tinham sempre mais chance. O que sobrava era ser doméstica, como foi meu caso. Contudo, no final dos anos 80 eu fui recepcionista, trabalhei em concessionária, de babá e cuidadora de idosos. Hoje em dia está muito melhor pras mulheres, elas estão tendo as oportunidades que sempre deveriam ter tido. Pra mim, não tem a menor diferença sendo mulher e homem, porque desempenho e inteligência no trabalho é igual”, complementa a trabalhadora.
Cláudia Biagini concorda que “as mulheres têm muito o que conquistar, vejo uma grande diferença da minha mãe para a minha realidade”. Entretanto, “ainda temos muito machismo para combater”, reiterou a bancária.
Reportagem: Nathalia Cunha
Produção multimídia: Ariely Polidoro
Edição: Mariana Pires