Os desafios da mulher ao volante

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Fernanda Siqueira da Costa é uma das mulheres que ainda sofrem preconceito por ser motorista. Segundo Fernanda, trabalha em empresas de transporte por aplicativo e há alguns dias com jornada 12x36h em um hospital. “Muitas vezes quando veem mulher dirigindo, já pensam ‘mulher no volante perigo constante.” Fora outras frases machistas que todo mundo sabe, relata.

Fonte: Arquivo Pessoal

Apesar disso, não existe comprovação de que mulheres dirigem pior que os homens. Dados do Infosiga SP, registram que mulheres se envolvem menos em acidentes graves. A pesquisa, realizada em 2017, mostra que a taxa de condutores homens envolvidos em acidente foi de 93,1%, enquanto 6,4% eram do sexo feminino.

Em 2017, a marca Renault do Brasil, realizou uma pesquisa com o objetivo de incentivar uma maior prudência no trânsito. A análise constatou que os homens são responsáveis por 70% das infrações de trânsito e 71% dos acidentes. Passar em sinal amarelo é outro exemplo: 15% das mulheres em comparação a 65% de homens que cometem a infração. A campanha usava a hashtag #EUDIRIJOQUENEMMULHER, incentivando todos a dirigir com mais cuidado.

História

O direito das mulheres de dirigir foi conquistado tardiamente em relação aos homens. A primeira mulher a tirar habilitação foi a Duquesa Anne d’Uzès, em 1898. A francesa também marcou história por ser a primeira mulher a ter recebido uma multa por excesso de velocidade.

No Brasil, a primeira foi Rosa Helena Schorling em 1932, em Vitória-ES. No ano seguinte, conquista o direito de conduzir motocicletas. Além disso era pilota de avião e esteve à frente do pioneirismo feminino no paraquedismo.

Muitas mulheres tiveram que fazer história para que hoje tivessem o direito de dirigir. Entre elas está Neiva Chaves Zelaya na década de 50, como a primeira caminhoneira de profissão no Brasil. E na década de 70, a paulista Maria de Lourdes virou notícia nacional por ser a primeira a dirigir oficialmente um ônibus de linhas urbana.

Mesmo assim, a aderência à profissão é pequena se comparado à quantidade de homens. O Transporte Coletivo Grande Bauru LTDA (Transurb) conta com apenas três motoristas mulheres, em comparação à 285 rapazes e nos últimos seis meses não recebeu currículos de moças para a vaga. Segundo a empresa, a contratação é de profissionais que tenham perfil para exercer a função independente do gênero. Para desempenhar a atividade é preciso ter habilidades com a condução do veículo e empatia com o público.

Adesão das mulheres pela profissão

Segundo dados do levantamento do Ministério das Cidades, o número de mulheres habilitadas no Brasil tem crescido nos últimos anos. Passando de 33,8%, em 2015, para 34,4%, em 2017. Apesar disso, nos últimos anos não foram observadas alterações significativas na adesão feminina na profissão de motorista, em Bauru. Segundo o Presidente do Sindicato dos Taxistas, Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bauru e Região, Vitor Moreira Tallão, “existe uma adesão maior (pelas mulheres) no transporte de alunos. Dentre alguns motivos, o da segurança é o que prevalece”.

Regina Aparecida Abrantes é instrutora em auto escola e trabalha na Prefeitura de Bauru há 9 anos. A motorista comenta não sofrer preconceito pela profissão escolhida. “Diariamente faço transporte dos funcionários, faço malotes e cuido da manutenção dos veículos pequenos. Sempre fui respeitada na minha profissão”, relata.

Fonte: Arquivo Pessoal

Plataformas

Infelizmente são muitas as histórias de mulheres que sofreram assédio nos meios de transporte, tanto coletivos quanto particulares (como as ferramentas de mobilidade). Com as motoristas não é diferente. Conforme pesquisa do aplicativo Lady Driver, quase 48% delas já sofreram algum tipo de assédio no trabalho.

“Uma vez peguei um passageiro que começou com umas conversas meio esquisitas. Eu já olhei: esse cara tá me cantando. Foi o único passageiro que faltou com respeito comigo”, conta a motorista Fernanda Siqueira.

No entanto, para incentivar mulheres a ingressarem em aplicativos de mobilidade, algumas medidas vem sendo tomadas. Uma delas é a promessa da empresa de transporte por aplicativo Uber, atrair 1 milhão de mulheres motoristas até 2020, além da criação de aplicativos exclusivos. O objetivo das empresas é trazer maior segurança às passageiras e condutoras. Desta forma, as passageiras têm a possibilidade de serem atendidas pelas motoristas.

Apesar de todos os problemas enfrentados, há algo bom que possa ser retirado da profissão, “você trabalha para você, faz o seu horário e não tem ninguém para mandar. Gosto muito de dirigir e também de fazer novas amizades”, conta Fernanda.

Reportagem: Thais Ap. Mello Barion

Produção multimídia: Ana Cristina Marsiglia

Edição: Gabriella Brizotti

 

*Este texto foi atualizado no dia 21/05/19 às 22:10h.

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