Os desafios de trabalhar na terceira idade

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Como os idosos conciliam a vida pessoal e o mercado de trabalho

O mercado de trabalho, assim como a nossa sociedade, está em constante mudança e para a terceira idade eles acabam representando alguns desafios. Existe a preocupação com a aposentadoria, competitividade, e a continuidade de uma atividade produtiva. Todas envolvem o futuro deste cidadão, tanto no seu local de trabalho, quanto na sua vida pessoal.

Uma das principais propostas do governo do presidente Jair Bolsonaro é a Reforma da Previdência. Em curto prazo, as propostas discutidas afetam, principalmente, os trabalhadores da terceira idade e os profissionais que estão a poucos anos de se aposentar.

De acordo com o advogado Ruan Campello Garcia, a reforma não afetará diretamente quem já é aposentado, por se tratar de direito adquirido, porém “o atual governo tem tido dificuldade em se posicionar com assertividade sobre o tema.”

Para Campello a medida é necessária para que não exista uma situação defasada na economia brasileira. “Não há uma forma de cortar gastos sem que todos percebam este corte em algum nível”, certifica o advogado.

 Hobby e necessidade

Iolanda Maria Ferreira Leite de Campos, 60 anos, trabalha desde os 12 e atualmente é aposentada, porém segue com seus dois empregos. Para ela, trabalhar em lugares diferentes é necessários para complementar a renda recebida pela aposentadoria “ Eu preciso continuar trabalhando, porque a aposentadoria não dá nem para o mercado”, revela.

Iolanda Ferreira se aposentou há 2 meses. Foto: arquivo pessoal.

Durante o dia, Ferreira é manicure e à noite ela é cuidadora de idosos. “Eu gostaria de trabalhar menos e descansar mais, mas com R$ 900 não dá”, explica a aposentada. No entanto, além das dificuldades o trabalho também representa uma atividade prazerosa. “Para mim é uma terapia fazer unha”, enfatiza a profissional.

Dentre as mudanças na previdência, as principais são o tempo e idade mínimos de contribuição que, com as alterações, irão prolongar o caminho do cidadão até a aposentadoria. O tempo de contribuição para se aposentar não estará em vigor e em troca será estipulado a idade mínima para garantir o benefício, sendo diferente para homem e mulher.

Infográfico: Ana Marsiglia

A competitividade em relação à idade

Estas alterações acabam não só afetando os trabalhadores da terceira idade, mas também aqueles que estão próximos de se aposentar. Carlos Alberto Batista, 50 anos, trabalha desde os seus 18 e atualmente possui um cargo em uma grande empresa bancária*

Ele projetava se aposentar em breve, porém teve que mudar seus planos de acordo com a reforma. “Tenho um planejamento de previdência privada para conseguir me manter daqui a 5 ou 8 anos, mas com estas prováveis mudanças vai ficar mais difícil” reforça Batista.

Carlos Alberto Baptista, mesmo obtendo destaque não conseguiu promoção na carreira. Foto: arquivo pessoal.

Desde que entrou na empresa para a área de informática, há 12 anos, começou a seguir um plano de carreira, contudo não conseguiu se promover. “A regra para plano de carreira aqui é até os 35 anos, após isso você não consegue ser promovido ou ter um aumento salarial” explica o profissional.

A manutenção do profissional no mercado

Denilton Pedro, 51 anos, está no mercado desde os 16 e, atualmente, é técnico de eletrônica e tecnólogo em desenvolvimento de sistemas de tecnologia bancária* “Para manter um cargo e ter perspectiva de carreira temos que nos superar, a aposentadoria só complementa”, afirma Pedro.

Em razão da reforma ele terá que exercer suas atividades por mais alguns anos além do planejado. Porém, é visto pelo profissional, uma preferência das empresas para o perfil mais jovem, que no seu caso é visto como menos competitivo. “A dinâmica de renovação favorece os jovens e sinto predileção pelas empresas por esse perfil”, assegura Pedro.

Denilton Pedro conta pensar em um bom plano e focar em uma atividade empreendedora. Foto: arquivo pessoal.

Para ele é necessário uma mudança de visão nas empresas em relação aos profissionais mais experientes “a capacidade de mudar é maior nos jovens, mas a experiência que temos equilibra a questão”, diz. Pedro acredita que a reforma deveria ser feita de outras maneiras. “Não tenho certeza se deveria ser tão radical, talvez mudanças de menor impacto para redução do rombo fosse menos traumática”, finaliza o tecnólogo.

*Foi pedido confidencialidade do nome das empresas citadas

Reportagem: Matheus Dias

Produção multimídia: Ana Cristina Marsiglia

Edição: Gabriella Brizotti

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