“Quebrou? Compro outro!”
O comércio de eletrônicos que rodeia a cultura digital, além de lançar inúmeros dispositivos e inovações, acaba produzindo um tipo de lixo que não é devidamente descartado. Culpa da obsolescência, cada vez mais presente nesse mercado.
Publicado em dezembro de 2013, um estudo da Universidade das Nações Unidas (UNU) mostrou que a produção de lixo eletrônico no mundo todo alcançou quase 49 milhões de toneladas métricas em 2012.
A maioria de nós está cercado por aparelhos eletrônicos em nossas casas: computadores, notebooks, smartphones, aparelhos MP3 e outras inúmeras invenções digitais. E, a cada vez que compramos um modelo mais novo, ficamos com um aparelho eletrônico que se torna obsoleto. Isso acontece porque a tecnologia continua evoluindo em um processo cada vez mais acelerado.
O advogado Douglas Ribas Jr., autor do texto ‘A Polêmica em torno da Obsolescência Programada’, acredita que “a descartabilidade seja um reflexo da cultura de massa, em especial do momento de consumo frenético que vivemos. No fundo, é um processo cultural. Os produtos são diretamente proporcionais ao interesse que os consumidores demonstram por eles. Isso faz com que se produzam bens menos duráveis, com custo de manutenção – por vezes artificialmente – mais elevado. É a cultura do ‘quebrou, comprou outro’”.
Como consumidor, ele acredita que a descartabilidade dos produtos é um ponto negativo e acaba gerando uma demanda por mercados alternativos. Douglas não tem dúvidas de que seria mais eficiente a construção de um dispositivo mais elaborado, com seu tempo de produção mais extenso. Entretanto, “essa vantagem mencionada se refere exclusivamente ao consumidor”, afirma Douglas.
O professor Sidnei Bergamaschi, atuante na docência de Sistemas de Informação, reforça que a atual dinâmica de negócios não permite um sistema mais lento na elaboração de eletrônicos. Não é uma coisa que se pode “combinar” entre as organizações.
Dessa forma, a montanha de “eletrolixo” só tende a crescer. Em 2017, o volume de lixo eletrônico no mundo aumentará 33%, de acordo com a pesquisa da UNU.
Qual seria a solução para diminuir esse número?
Reciclagem!
No Brasil, a Lei Federal 12.305 de 2010, chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos, teria sido responsável por acelerar a iniciativa de alguns empresários do setor da reciclagem em investir em tecnologias para o processamento de resíduos eletrônicos.
A Motorola, por exemplo, utiliza o Programa ECOMOTO para a reciclagem. Em 1998, a empresa deu início a um projeto cujo objetivo era coletar baterias pós-consumo. Em 2011, ele foi ampliado para um sistema global de coleta de baterias e equipamentos. O site da Motorola apresenta várias informações sobre o tema e disponibiliza uma lista de locais para o descarte seguro. Contudo, não conseguimos entrar em contato com a empresa pelo e-mail fornecido para o esclarecimento de dúvidas.
Em Bauru, interior de São Paulo, Denis Oliveira de Alvarenga exerce a reciclagem em sua loja de eletrônicos. A princípio, ele trabalhava apenas com reparos, mas, depois de um tempo, os dispositivos mais antigos acabavam sendo abandonados pelos consumidores e se acumularam. Ele conta que a reciclagem foi uma alternativa para conseguir renda com o que não tinha mais uso. “Eu sou um ponto de coleta voluntário (…) aqui é feita a triagem dos aparelhos para saber o seu destino: a revenda ou a reutilização de suas peças. Nós reaproveitamos o plástico, o vidro, o cobre e a infinidade do restante”, comenta Denis.
Jorge Stolfi, graduado em engenharia eletrônica pela Poli-USP e titular do Instituto de Computação da UNICAMP, acredita que chegará um tempo em que as pessoas não irão mais procurar por tecnologias na área digital. “Em questão de resolução de tela e velocidade do processador de vídeo e transmissão, eu creio que já estamos perto da saturação. O ‘gargalo’ não está no equipamento, mas na estrutura das redes de telefonia que limita a velocidade de transmissão”, afirma ele.
Reportagem: Maria Eduarda Amorim
Produção: Paula Monezzi
Edição: Paula Reis
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