Vitrines da Batista refletem histórias e tradições
O Calçadão de Bauru tem pouco mais de 20 anos mas, muito antes disso, várias lojas já se encontravam na região. Mesmo com o aumento no número de estabelecimentos, algumas delas continuam tradicionais na cidade. Conheça suas histórias e o “segredo” de sua popularidade.
O Comércio de Bauru antes do Calçadão
O calçadão de Bauru foi construído há pouco mais de 20 anos, mas antes disso a região central já era conhecida como a área comercial da cidade. Muito antes do grande desenvolvimento do município e da construção de seus shoppings, o calçadão já era o principal centro comercial. A rua Batista de Carvalho, onde inicialmente se instalaram os primeiros comércios, ficou pequena para o grande número de lojas que estavam abrindo naquela área. Rapidamente, as ruas paralelas e perpendiculares à rua principal foram preenchidas pelos mais diversos tipos de estabelecimentos, proporcionando todo tipo de produto para o público.
Com o passar dos anos, algumas lojas foram se modernizando e continuam em atividade e outras, infelizmente, fecharam suas portas, como é o caso da Casa Lusitana, tradicional comércio de Bauru que funcionou durante anos na esquina do Calçadão da Batista de Carvalho com a Praça Rui Barbosa. “Ela vendia de tudo, desde uma caixa de fósforo até uma casemira inglesa, tecidos da China, seda do Japão, cristais da Alemanha”, comenta Luciano Dias Pires, jornalista e memorialista da história bauruense.
No entanto, o estabelecimento não acompanhou as evoluções da época, fator fundamental para o fim da loja: “Era uma casa importantíssima na época, mas ela não acompanhou o progresso, porque ela não tinha lugar para estacionamento. Nesta época, começaram a surgir as grandes lojas em Bauru com estacionamento, e a Casa Lusitana foi perdendo espaço até que fechou” . O prédio foi tombado como patrimônio da cidade e, hoje, abriga algumas lojas em seu primeiro andar e residências em seu segundo andar.
De pai para filho
Muitas lojas que surgiram quando o calçadão ainda nem existia continuam em plena atividade e com uma clientela fiel aos seus produtos, como é o caso da loja de Alcebíades Magezi, conhecido no comércio como Bidi. O lojista se orgulha do fato da freguesia ter passado de geração para geração em muitas famílias. “Tenho clientes de terceira geração, não só de pai para filho, tenho netos comprando aqui já”, conta.
Essa transição de geração para geração não existe apenas no momento de fazer as compras, mas também na administração do comércio. Algumas das lojas mais tradicionais da cidade já estão sendo conduzidas por filhos e netos de seus fundadores, como é o caso da Sampaio Ferragens e Ferramentas, localizada na rua 1º de Agosto, fundada por José Ferraz Sampaio e hoje comandada por seu filho Juarez Vieira Sampaio. Mas engana-se quem pensa que José Sampaio deixou seu filho ficar apenas na administração do comércio. “Com 10 ou 12 anos, eu comecei a trabalhar aqui. Começava de baixo, primeiro como empacotador, depois ia para outra função, depois atendendo”, lembra Juarez ao contar sobre a tentativa de seu pai fazer com que os filhos dessem valor ao trabalho desde cedo.
Quando perguntamos às pessoas sobre lojas tradicionais de Bauru, uma das mais citadas, além da Sampaio, é a Ótica e Relojoaria Exata que está no mercado há mais de 58 anos e tem uma de suas unidades no Calçadão da Batista. Foi fundada por Almerindo Papassoni, que passou para seu filho e, desde o início do ano, é administrada por sua neta Caroline Juliani Papassoni. Apesar de não estar mais a frente dos negócios, isso não significa que Almerindo abandonou de vez a loja que abriu. “ Ele visita a gente bastante aqui, pelo menos uma vez por semana ele dá uma passada para ver como a gente está, eu bato um papo com ele”, comenta Caroline.
Segredo do sucesso
É grande o número de empreendimentos que abrem mas acabam fechando suas portas com pouco tempo no comércio. No entanto, outras continuam com clientes fiéis após décadas de sua abertura. Será que existe algum segredo para o sucesso?
Para Bidi, a receita se concentra em dois pontos: “Primeiramente, gostar do que você faz é muito importante. Depois, dar um atendimento para o cliente do jeito que você gostaria de ser atendido. Se você vai a uma loja, você quer ser bem recebido, quer que o vendedor que vai te atender não tenha preguiça e te mostre tudo com disposição”, explica ele.
Juarez Sampaio acha que, mesmo com a concorrência, sua loja tem um diferencial que atraía seus clientes e os tornava fiéis, “ O slogan ‘a Sampaio tem’ é uma coisa que o povo falava, porque você ia em algum lugar e perguntava ‘e isso, onde eu acho?’ e respondiam ‘vai lá no Sampaio que lá tem’ ”, conta ele.
A ótica Exata também tem clientes que a acompanham desde a época de sua abertura: “Acredito que isso é fruto da qualidade. A gente preza muito por isso, pela perfeição. As meninas têm um atendimento diferenciado, elas recebem treinamento antes de entrar. Acredito que são pequenas coisinhas que fazem a diferença”, completa Caroline.
Reportagem: Annelize Pires
Produção: Amanda Tiengo
Edição: Paula Monezzi