Passado e presente do ginásio mais famoso de Bauru envolve vôlei, basquete, futebol e lembranças de torcedores
Quando se fala de esporte na cidade de Bauru, no coração do Estado de São Paulo, o ginásio Panela de Pressão é uma das principais referências no assunto. Antes de qualquer coisa, vale explicar a origem deste nome singular. Segundo o historiador João Francisco Lima, bailes de carnaval começaram a ser feitos no local, com multidões que chegavam a atrair aproximadamente dez mil pessoas. Por ficar muito apertado, os frequentadores do baile afirmavam que o lugar se parecia com uma “panela de pressão”, o que deu origem ao apelido pelo qual o local é conhecido até hoje.
Como tudo começou
A história oficial do Clube data de 1954, quando o Esporte Clube Noroeste disputava o primeiro campeonato de times profissionais do município. Com o sucesso que o clube obteve na competição, seus dirigentes decidiram investir em um centro específico para treinos esportivos. Assim, em junho de 1956, o Panela foi inaugurado oficialmente na Vila Pacífico.
Sobre a inauguração, o comerciante Raduan Trabulsi, jogador do primeiro time de basquete da cidade de Bauru, lembra que foram convocados os times Texas Cowboy e Lobby Trote, trazidos por Babi Barioni, idealizador dos Jogos Abertos do Interior, para iniciarem as competições esportivas do ginásio. Ele conta que foi escalado para jogar em um dos times e assim participou da inauguração do Panela.
Trabulsi relata que, a partir desse jogo, já foram montados times de Bauru e da região. “Foram formadas as equipes do Colégio Guedes, o Bauru Tênis Clube e o Paulista”. Assistente de esportes do Sesc nos primeiros anos de história do ginásio, Raduan narra que a equipe de basquete da cidade não tinha, em seus primórdios, filiação à Federação Nacional.
“O Sesc não podia ser filiado à federação, então, o esporte Clube Noroeste foi filiado e foi a primeira equipe de basquete campeã do interior do Estado. Darci César Improtta encampou o basquete em Bauru”.
Com o passar dos anos, eventos importantes como os Jogos Regionais e a Liga Bauruense de Basquete aconteceram e ajudaram a consolidar a importância de Bauru na modalidade até os dias de hoje.
Algumas histórias com o ginásio
Em 1994, surge o tradicional Bauru Basket, que mobiliza torcedores até hoje. Um deles é Felipe Lopes. Ele conta que sua história com o clube começou no início dos anos 2000, durante o ensino médio, quando saía da escola e ia até o ginásio. “Eu saía da aula cinco e meia da tarde, comia alguma coisa no centro, pegava um ônibus até a Vila Falcão, pegava algum outro ônibus que parasse perto do Panela e assistia aos jogos, com uniforme da escola mesmo”, recorda.
Como não sabia dirigir e dependia de caronas, nem sempre Felipe conseguia ir ao ginásio, por isso recorria ao rádio para poder acompanhar aos jogos. Desde então, a paixão pelo time só aumentou. “Era apaixonante desde aquela época, aquela atmosfera e energia, de poder ir nas grandes finais com o ginásio superlotado. Tenho lembranças das partidas desde quando comecei a frequentar como também recordações de partidas mais recentes”, destaca.
Uma de suas principais memórias é a reinauguração da quadra, que aconteceu em março de 2012.
Era um sonho muito antigo da torcida. Nós íamos sediar a Liga das Américas, mas a FIBA (Federação Internacional de Basquete) exigia um ginásio com capacidade mínima de duas mil pessoas. Quando a reestruturação do Panela foi concluída, eu fiquei muito emocionado. Foi a primeira edição da Liga das Américas em Bauru e o time do Bauru Basket estava em um ótimo patamar.
Outra torcedora é Marina Beppu. Fundadora da torcida organizada Gigantes do Vôlei, dedicada ao SESI Bauru, ela conta que uma de suas principais lembranças é da final da Superliga B, em 2015, quando o time foi para a série A. “Realmente é uma Panela de Pressão. Quando lota, é bem marcante”, opina.
Presente e futuro do Estádio
Apesar de ter muitas histórias para contar e ser um símbolo bauruense, o Panela de Pressão não passa por um de seus melhores momentos. O ginásio está em uma situação difícil, que envolve a Prefeitura Municipal e o Esporte Clube Noroeste.
Desde 2009 há um contrato de aluguel entre a prefeitura e o Noroeste, proprietário do Panela. O município pagava uma quantia de 29,6 mil reais para o Norusca, como é conhecido o time de futebol da cidade. No entanto, o acordo foi quebrado em fevereiro deste ano, sob a alegação de que o Noroeste não honra seus compromissos financeiros há algum tempo.
Para o secretário municipal de esportes, Alexandre Zwicker, a quebra do contrato foi motivada por razões jurídicas. “O Ministério Público vem nos notificando desde o ano passado que nós não poderíamos pagar o aluguel do ginásio para o Noroeste, pois eles possuem uma dívida trabalhista enorme. Para isso não ser tido como improbidade administrativa da prefeitura, o Ministério público determinou a rescisão do contrato”.
Em reunião realizada no dia 1º de março deste ano entre o clube e a prefeitura, ficou determinado que será feito um novo Refis para que o Noroeste consiga a renovação do contrato municipal com o Panela. Além disso, tanto o SESI quanto o Bauru Basket poderão usar as dependências do ginásio até o mês de maio para que os times não precisem se deslocar a outros municípios. Zwicker afirma, ainda, que o prazo de elaboração de um novo Refis depende da aprovação do departamento jurídico da prefeitura e da Câmara Municipal. A Secretaria de Departamento Jurídico foi contatada pelo Repórter Unesp, mas não quis dar entrevista.
Quanto à possibilidade do Bauru Basket e do SESI Bauru não poderem jogar no ginásio após os fins de seus respectivos campeonatos, o secretário diz que o risco não é tão grande quanto parece. “Ambos os times, por serem empresas privadas, podem acertar diretamente com o Noroeste o pagamento de um aluguel pelo Panela de Pressão, pois a prefeitura pagava a locação não só do ginásio, mas também de áreas como a do estacionamento e do campo de futebol. Se o aluguel for só da área do ginásio, o aluguel será bem menor que o que nós pagávamos”, salienta Alexandre.
Procurada pela equipe do Repórter Unesp, o Esporte Clube Noroeste não quis conceder entrevista. O clube afirmou, porém, que não vai se manifestar até o mês de maio, quando o acordo temporário entre a prefeitura e o clube estiver chegando ao fim. No entanto, a assessoria do time replicou a nota oficial que foi emitida à imprensa à época do acordo com a Prefeitura de Bauru, no início de março:
O Noroeste comunica que chegou a um acordo, nesta manhã de sexta-feira (1), no Ministério Público, com a Prefeitura de Bauru e as presidências de Bauru Basket e Sesi Vôlei Bauru. Foi acordado que o município fará um novo Refis, tornando o Norusca apto a ter o contrato do ginásio Panela de Pressão renovado. Desta forma, as duas modalidades sublocatárias e a Semel continuarão utilizando o ginásio e as parcelas do ginásio continuarão sendo destinadas para dívidas trabalhistas do Alvirrubro. Foi firmado também que o Bauru Basket e o Sesi Vôlei Bauru irão contribuir com o Noroeste para fazer os pagamentos do Refis. Os valores serão calculados novamente e divulgados pela Secretaria de Finanças.
Confira a seguir a entrevista que o Repórter Unesp realizou com José Maria Fernandes, o “Seo Zé”, que acompanha o Bauru Basket há mais de 20 anos:
Repórter: Guilherme Augusto Hansen
Produção multimídia: Valquíria de Carvalho
Editora: Ana Carolina Montoro