Brasil: o país do futebol. Só do futebol.

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OPINIÃO.  O site Globo Esporte, um dos principais veículos de informação esportivo do país, tem uma média de 2 entre 10 links da página principal destinados a outros esportes diferentes do futebol. Esse dado é só mais um dos reflexos da realidade do jornalismo esportivo para massas. Enquanto as demais modalidades só ganham visibilidade midiática de 4 em 4 anos, durante os Jogos Olímpicos, o futebol é parte da rotina dos brasileiros. Tendo espaço em jornais diários em diversos horários diferentes, o embate de onze contra onze aparenta ser enraizado na cultura de maneira que a ausência de atualizações sobre as demais seleções não incomoda. Ao menos, não o suficiente.

O marketing do esporte e o marketing através do esporte

O conhecido “país do futebol” não se contenta apenas em formar atletas da modalidade: os jogadores têm papel muito importante dentro de campo, mas mantêm  sua carreira fora dele. Propagandas e patrocínios garantem uma renda aos esportistas, muitas vezes maior do que seus salários já astronômicos, e assim o futebol torna-se um produto essencial para negócios altamente lucrativos.

A partir da consolidação de seus principais personagens como produtos, o esporte torna-se um elemento importante na indústria do entretenimento – e vem sendo assim desde 1970, quando importantes mudanças estruturais ocorreram e o futebol passou a ter relevância regional, chamando a atenção e cativando um público maior.

A mídia trabalha com o futebol de variadas formas, em pequenos e grandes campeonatos. A presença de patrocínios e propagandas exige que os jogos sejam transmitidos para o maior número de pessoas possível – assim, as estampas nas camisetas e no próprio campo fazem valer a quantidade paga como apoio aos times. O processo transforma-se em uma bola de neve: quanto mais marcas anunciam seus produtos através e a partir dos jogos, mais a mídia é encorajada a divulgar o futebol. Quanto mais a mídia divulga o futebol, mais espaço é criado para anúncios. Toda essa construção faz com que o público cultive laços emocionais e culturais – e quanto mais firmes esses laços, maior a vontade e a necessidade de consumir produtos e mídias relacionados ao futebol.

O efeito contrário do investimento

Seguindo a lógica da impulsão do marketing para apelo do público e visibilidade na mídia, outros esportes menos populares quase não têm apoio de instituições privadas em troca de divulgação de suas marcas. Os demais esportes, então, acabam dependendo apenas dos incentivos da Lei Agnelo Piva e do programa Bolsa Atleta. Essa lei prevê que 2% da arrecadação bruta das loterias federais seja destinado ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) e Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Além disso, o programa governamental apresenta-se como o maior em incentivo e patrocínio individual de atletas do mundo. Apesar de significativos para o crescimento dos esportes, esses investimentos não são o bastante, e as grandes empresas não têm interesse por receio de pouco retorno financeiro. Sem o patrocínio dessas marcas, as modalidades saem perdendo.

Com pouco investimento, há pouca visibilidade. O efeito bola de neve que gera lucros e visibilidade ao futebol também aparece aqui, mas dessa vez invertido: com pouca visibilidade, falta processo de profissionalização aos dirigentes das confederações no Brasil, e isso faz com que a gerência dos esportes seja considerada precária. Com uma gerência precária, não espera-se mais investimento.

Brasil, o país dos esportes olímpicos

Os esportes da confederação brasileira ganham espaço merecido na mídia de 4 em 4 anos. Diversos canais de TV nacionais transmitem jogos, partidas e competições e fica acessível a toda população o resultado do desempenho e treino dos atletas. Em 2016, atletas levaram o verde-e-amarelo ao pódio em 16 modalidades e conquistaram o maior número de ouros para o país em Jogos Olímpicos. Nessa edição, o judô, a vela e o atletismo foram os maiores destaques, com 22, 18 e 17 medalhas, respectivamente.

Além das Olimpíadas, cada modalidade tem campeonatos nacionais que servem para seleção de atletas, e competições de nível continental e internacional muito importantes espalhadas, inclusive anualmente. Analisando esse cenário, é uma pena que esportes tão significativos e que representam outras habilidades e empenhos físicos tenham pouco espaço na mídia – e por conta desse acesso prejudicado, pouco interesse da população. 

Repórter: Júlia Belioglo

Editora: Gabriela Arruda

Foto de capa: Andre Borges/Agência Brasília/Reprodução

 

 

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