OPINIÃO. O esporte pode trazer muitos benefícios para a sociedade. Hoje, leis e normas que asseguram a prática já foram estabelecidas em diversas instâncias, como na Constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), confirmando seu caráter indispensável na sociedade.
Diversos são os valores aprendidos com a prática esportiva, como liderança, trabalho em equipe e respeito às regras. É desenvolvida, também, uma socialização evidente entre os componentes do grupo, que devem trabalhar juntos para chegar ao mesmo objetivo.
Além disso, as pessoas envolvidas também adquirem um senso crítico ao participarem de um jogo ou uma competição. Por esse suporte e essa mentalização que a prática esportiva traz, muitos defendem sua inserção na educação de crianças e jovens.
Neto Canineu, ex-jogador de futebol com passagens por Corinthians, Fluminense e São Bento e hoje técnico de times de futebol nos Estados Unidos, escreveu em uma de suas colunas: “A prática regular de um esporte coletivo não somente auxilia no desenvolvimento social de uma criança, como a prepara para o futuro, ensinando-a valores que serão importantes na sua vida adulta”.
Ele também aponta que, na prática esportiva, a vitória e a perda são coletivas, e não individuais. Dessa forma, a criança aprende a se desprender de pensamentos individualistas e consegue pensar no coletivo.
Existem hoje muitos projetos de Organizações Não Governamentais (ONGs) e programas sociais que trabalham levando a prática esportiva à população, principalmente a jovens. O esporte aqui não faz distinção de gênero, renda, condição social ou de qualquer outro tipo, mas serve de instrumento para o desenvolvimento pessoal e social.
Os diferentes papéis durante a história
As práticas corporais sempre estiveram ligadas ao desenvolvimento do ser humano. O homem pré-histórico, para sobreviver, precisava realizar uma série de ações. Caminhava, caçava e se movimentava constantemente para autodefesa.
Em dado momento da História, o esporte começa a se relacionar com o lazer. Existem registros de diversos povos que realizavam atividades esportivas desde a época pré-histórica, como os de egípcios que praticavam esgrima, arremessos e remo, em 4.000 a. C.
O conceito de esporte começou a se relacionar com o de educação na Grécia Antiga. Esse momento foi o que mais teve notoriedade nesse processo, onde espartanos eram belicistas e realizavam exercícios corporais, enquanto atenienses, que eram tidos como intelectuais, interpretavam os jogos esportivos como parte da cultura, da religião e como método de educação.
O conceito de competição também surgiu na Grécia. Os Jogos Gregos iniciaram a divisão entre times, com as Olimpíadas, os Jogos Fúnebres e os Jogos Píticos.
Assim como a História nos mostra, a origem do esporte foi se mesclando com o momento de vida do desenvolvimento humano, criando e estabelecendo práticas corporais para sua sobrevivência e lazer. O que nasce como uma necessidade de modelo de vida acaba, com o tempo, tornando-se um fenômeno social presente nos dias atuais.
Em busca da inclusão social
O papel do esporte mudou com a sociedade moderna. O desenvolvimento de tecnologias e o aprofundamento da segregação social causam impacto direto nesse processo. Grande parte da população de baixa renda não tem acesso a práticas esportivas, o que torna indispensável investimentos públicos na área, a fim de democratizar o esporte na sociedade.
Na cidade de Bauru, existem projetos esportivos que visam promover essas práticas. Eles fornecem a muitos jovens uma oportunidade para se ocupar, tirá-los das ruas e também dar novas oportunidades. Muitos atletas chegam até a competições de nível internacional.
O projeto da Associação Bauruense de Desportes Aquáticos (ABDA) é um exemplo disso. Ele educa crianças e adolescentes nas modalidades natação, polo aquático, atletismo e também conta com uma filarmônica. O projeto existe desde 2010 e hoje tem aproximadamente 4.500 jovens atletas atendidos. O único requisito para entrar na ABDA é o jovem estar matriculado na escola e manter boas notas nas disciplinas.
Projetos sociais e suas consequências
Outro projeto existente em Bauru é a Associação Garra de Tigre de Kung Fu. Essa entidade sem fins lucrativos ensina a jovens o estilo de luta Hung Gar e outras atividades ligadas ao Kung Fu, como o Sanda, Shuaijiao, Tai Chi Chuan, Dança do Leão e Dragão.
Três estudantes da universidade que já conheciam as modalidades do esporte idealizaram o projeto, em 1996, que reunia as modalidades de Kung Fu e Judô.
Um dos estudantes, Richard Leutz, que já treinava Kung Fu, hoje é o coordenador da unidade da Garra de Tigre que existe em Bauru. “Nesses mais de 20 anos, foram inúmeras dificuldades enfrentadas, mas ainda assim, a escola é referência de qualidade e resultados”, relata.
Apesar deste projeto contar com financiamento público, ainda existem muitas falhas nas políticas públicas para o esporte. Leutz afirma que “nossos atletas estão entre os melhores do mundo, mas quase sempre, mal tem recursos para um simples uniforme. Nosso maior sonho é uma sede própria que não dependa do poder público”.
Por mais que existam dificuldades, o esporte hoje deve ser visto como uma ferramenta para promover e incluir toda a sociedade sem nenhuma diferenciação. Por fornecer um código universal de regras e atividades, ele pode servir como meio de estabelecer ordem dentro de uma sociedade e de desenvolvimento pessoal dos indivíduos frente aos desafios propostos.
As políticas públicas devem estabelecer meios de financiar e promover sempre esses projetos sociais, pois eles podem ter um grande impacto na vida de pessoas que, por conta de um sistema desfavorável, podem não ter oportunidades igual.
Repórter: Júlia Cortezia
Editora: Gabriela Arruda