Números da violência sem pudor, de gênero e com cor
Os números da violência no Brasil são alarmantes. O problema social está enraizado na sociedade e atinge de formas e níveis diferentes a população. Dados de 2011 comprovam que, no Brasil, o maior número de homicídios ocorre entre jovens de 15 a 24 anos, dentre os quais, mais de 70% são pretos e pardos e 93% são do sexo masculino.
A exposição desses jovens evidencia a carência de políticas públicas que vão além da problemática da segurança e passam atingir a saúde e a educação. As razões para tais índices estão relacionadas às causas socioeconômicas, culturais e ideológicas. O fator socioeconômico é determinante para a realidade a qual os jovens têm acesso. E o descaso do governo em tentar auxiliar uma parcela carente da sociedade acaba por colaborar para que jovens negros sejam vítimas vulneráveis a assassinatos.
De acordo com o Mapa da Violência: anatomia dos homicídios no Brasil (2010), o risco de jovens afrodescendentes serem vítimas de homicídio no país é 130% maior que o de um jovem branco. Como contraponto a esse quadro de violência, algumas alternativas são apontadas como favoráveis por uma parcela expressiva da população, como a diminuição da maioridade penal para 16 anos. Além disso, as expectativas não são favoráveis quanto à alteração desses índices.
Entretanto, os índices de violência no país não atingem apenas os homens. As mulheres são vítimas do esquecimento da sociedade. A violência contra a mulher é múltipla e ignorada. Os casos variam desde machismo, violência doméstica, homicídio doloso até o estupro.
Dados de 2012 demonstram que, a cada dez casos de violência sexual, 8,5 são contra mulheres. Considera-se violência: estupro, assédio sexual, atentado violento ao pudor, pornografia infantil, exploração sexual e outros crimes sexuais. No caso específico dos estupros, houve um crescimento de 157% dos casos de 2009 a 2012.
De acordo com dados da 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os estado com maiores índices de violência sexual contra as mulheres são Roraima, Rondônia e Santa Catarina. A pesquisa aponta que os menores índices são dos estados de Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Minas Gerais.
O estado de São Paulo acompanha o crescimento. De acordo com a Secretaria de Segurança Publica de São Paulo (SSP/SP), em 2012 houve um aumento de cerca de 67% na incidência dos casos de estupro. Calcula-se que a média seja de uma mulher estuprada por dia no estado.
E, no que diz respeito à segurança da mulher, a cidade de Bauru não está imune. A violência sexual é considerada o terceiro principal problema da cidade. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado alertam para o crescimento das ocorrências de estupros na cidade. De janeiro a março de 2012, foram registrados 157 casos. Já em 2013, houve um aumento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Apesar do aumento da violência sexual, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ-Violência) 2013 destacou pontos positivos da região. A pesquisa da ONG comprovou que a os jovens do centro-oeste paulista estão menos expostos à violência:
O IVJ – Violência atentou para a tendência de um processo migratório da violência dos grandes pólos econômicos do país. Índices comprovam que a vulnerabilidade de jovens nas capitais do Sudeste tem reduzido, e aumentado consideravelmente nas regiões do Nordeste. Destaque para Alagoas, que ficou em primeiro lugar como estado do mais vulnerável para jovens. A Bahia abriga cinco dos dez municípios com maior índice, inclusive a primeira cidade do ranking, Eunápolis.
Segundo estudo realizado pela ong Mapa da Violência, o panorama da violência no Nordeste é reflexo do “processo de interiorização do surgimento de novos polos dinâmicos da violência no interior dos estados tradicionalmente violentos” e da “disseminação ao deslocamento dos eixos da violência para áreas tradicionalmente tranquilas ao longo de todo o país”. Este movimento origina um segundo deslocamento: dos municípios de grande porte para os municípios de pequeno e médio porte, periféricos até então nos mapas da violência.
Professor da ECA e autor do livro “Mídia, cultura e violência”, Dennis Oliveira contextualiza o problema social:
Reportagem: Mariana Tavares
Produção: Amanda Lima
Edição: Leonardo Zacarin