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A alternativa ao lugar-comum

Carteiras enfileiradas, lousa, giz. Professor pedindo silêncio, alunos com a atenção dispersa. Não é uma cena difícil de ser encontrada nas escolas de ensino básico e, até mesmo, nas universidades. Isso não é uma regra, mas também não é exceção.

A exceção, na verdade, é encontrada em escolas que se propõem a ensinar de maneiras diferentes das que são reconhecidas como convencionais. Se o jeito tradicional de educar não desperta o interesse da maioria dos estudantes, então, para alguns profissionais da área, isso é sinal de que algo tem que ser mudado.

Marcia Bello, professora do 5º ano da escola municipal EMEIF Profª Christina Cecília Luporini de Freitas Pereira, de Pederneiras, é uma dessas profissionais que, ao entrar em contato com métodos alternativos de ensino, resolveu mudar a abordagem dos conteúdos passados em sua aula. “Desde o início de 2014 tenho tentado desenvolver uma metodologia diferenciada com meus alunos chamada Aprendizagem Cooperativa (AC). Embora seja pouco conhecida aqui no Brasil, ela é largamente utilizada em outros países, principalmente nos Estados Unidos e no continente europeu”, ela conta.

Tal método se baseia em fazer com que os alunos trabalhem de modo cooperativo. Nada de competições para ver quem tira nota mais alta: o objetivo aqui é que, ao fim do dia, todos tenham aprendido juntos. Para isso, os estudantes são agrupados em quatro ou cinco pessoas com características diferentes entre si e trabalham juntos, em sala, até o fim do ano ou do período.

Até aí, trabalho em grupo não é novidade, mas a AC permite que todos participem do processo, em vez de só um estudante fazer o trabalho todo pelos colegas. Assim, cada um tem uma função pré-definida. No caso da turma da Marcia encontra-se um leitor (que lê em voz alta as pesquisas e textos que o grupo vai usar, exercitando a própria fluência de leitura e a escuta ativa dos outros), um escriba (que anota as discussões e as conclusões a partir do material), um cartazista (que planeja e monta um cartaz com o que o grupo estudou) e um expositor (que conta para o resto da sala o que eles aprenderam). Mas, para ninguém se acomodar, as funções rodam entre os membros da equipe e todos têm a oportunidade de exercer cada função.

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Mesmo com essa divisão, os alunos são incentivados a colaborar com os colegas que estão atuando em outra posição, auxiliando e fazendo o possível para que o trabalho de cada um fique mais fácil e interessante. Depois de realizada a atividade, é a hora da autoavaliação individual e do grupo. Com os resultados, é decidido quais serão as habilidades trabalhadas na próxima atividade para que as deficiências sejam corrigidas gradualmente. Outro ponto forte da autoavaliação dentro da AC é o novo jeito de encarar a crítica feita por si mesmo e pelos colegas sobre o que cada aluno deve mudar em seu comportamento. Em vez de ofensa, as sugestões viram possibilidade de melhora.

Segundo Márcia, por mais que faça pouco tempo que o método foi posto em prática em suas aulas, os resultados já são visíveis. “Já consigo perceber algumas mudanças no comportamento dos meus alunos em relação, principalmente, à autonomia e responsabilidade. Mesmo quando não estamos trabalhando em grupo, os alunos têm a iniciativa de procurar informações em dicionários, mapas, textos e fazer até pesquisas em casa para sanar suas próprias dúvidas e a dos colegas”, ela diz. “Também percebi uma pequena melhora na qualidade das discussões que realizamos em sala de aula. Os alunos se apoiam em materiais didáticos para defender suas ideias e, com isso, compreendem melhor os conteúdos trabalhados”. Para Marcia, por mais que ainda tenha bastante a ser melhorado, os primeiros resultados são suficientes para motivá-la a continuar usando inovações pedagógicas para favorecer o aprendizado de todos os estudantes.

Arte: Marcela Busch

Arte: Marcela Busch

Inovações não tão novas assim

Por mais que não seja muito difundida no Brasil, a Aprendizagem Cooperativa, assim como Marcia disse, é muito usada em outros países. Segundo a professora de Pedagogia da Unesp Vera Lucia Capellini, essa metodologia não é tão recente. “Ela era muito utilizada até a década de 1930 na Europa e nos Estados Unidos”, diz. Vera, que fez seu pós-doutorado na Espanha, teve a oportunidade de ver em prática esse método de ensino tanto na educação básica quanto no ensino superior. Depois disso, resolveu trazer a AC para o Brasil e trabalhar com seus alunos dessa maneira no curso de Pedagogia.

Mesmo assim, vários dos exemplos que encontramos em nosso país de educação alternativa ainda pertence à rede privada. Questionada sobre o porquê de isso acontecer, Vera disse acreditar ser, em partes, culpa do desconhecimento dos profissionais da área quanto às metodologias alternativas de ensino. Além disso, ela pontua que também há a comodidade que o método tradicional oferece ao professor: “é mais fácil seguir o que já está pronto. O professor tem que ser supercriativo [quando usa outros métodos], então dá trabalho”.

O fato de a profissão não ser valorizada também influencia. “Muitos professores preferem ganhar pouco e fazer o raso do que ter o compromisso de fazer diferente”, ela acredita. “E a formação dos nossos professores foi precária e ainda é. Estamos melhorando”. Pelo que as experiências dessas professoras indicam, isso é verdade.

Reportagem: Vanessa Souza

Produção Multimídia: Marcela Busch

Edição: Wagner Alves