Homens e travestis esbarram no preconceito
Thays, 27, foi morta com um tiro no tórax durante um ataque à casa em que morava com outras cinco travestis. Safira, 23, levou cinco tiros enquanto trabalhava no cruzamento das ruas Borba Gato e Benjamin Constant. Evelyn, 19, foi espancada e esfaqueada. Trinta horas depois da agressão, foi encontrada em um matagal.
Esses são apenas alguns dos casos recentes de violência a travestis registrados na cidade de Bauru, interior de São Paulo. De acordo com dados apontados no Relatório sobre violência homofóbica no Brasil (2012), as travestis são as mais vitimizadas, totalizando 51,86% dos casos – um acréscimo de 1,36% em relação ao ano anterior.
Dados alarmantes como esses permitem questionar os fatores que tornam esse segmento da sociedade mais vulnerável. “Trata-se de uma identidade socialmente deterioriada. As pessoas não querem estar muito envolvidas com pessoas estigmatizadas, principalmente aquelas associadas a desvios sexuais. A gente aprendeu que a sexualidade revela a verdade total e mais absoluta do sujeito. Então, se você anda com uma travesti, você é também tão desviante quanto ela”, explica a cientista social e professora de Antropologia da Unesp, Larissa Pelúcio.
Para a cientista social, essa dificuldade de vida harmônica observada no caso das travestis, muitas vezes, se converte em atos de violência física e simbólica. “A conivência dos adultos levou e ainda leva muitas travestis jovens e muitos meninos a abandonarem a escola e tentarem a sorte de outro modo”, afirma. A prostituição é, nesse contexto, uma alternativa. “O caminho da prostituição para muitas travestis não é propriamente a única saída que resta para ganhar dinheiro. É também porque esse é um ambiente de socialização, aprendizado, de estar entre iguais, fazer amizades, ser desejada, encontrar alguém que a ame, alguém que queria pagar até para se deitar com ela. É muito menos pelo sexo e mais pelo sentimento de valorização”, esclarece Larissa.
Na pele
Valéria é travesti e prostituta há cinco anos. Assume, de maneira tímida, que se tornou garota de programa por necessidade, mas não nega gostar da função. “Meus familiares no começo não aceitavam, mas com o tempo entenderam”, conta. Questionada sobre a violência sofrida por travestis envolvidas com a prostituição, Valéria comenta que o comportamento de algumas delas é um fator determinante. “Algumas andam nuas no meio do povo, e as pessoas não aceitam. Acho que tudo depende do respeito da gente também. Eu acho que não combina andar nua durante o dia. Durante o dia eu ando vestida, comportada, e ninguém mexe comigo”, pondera.
Garoto de programa – ou como ele próprio define: prestador de serviços sexuais –, Alan Souza trabalhou como ajudante de serviços gerais em um prostíbulo e, nove meses depois, fez seu primeiro programa com um casal. Em 2012, ele lançou um livro de memórias, intitulado Mentiras e Farsas, e mantém um blog com suas experiências.
Alan acredita que a prostituição masculina ainda é assunto restrito na sociedade. “É um tabu falar de prostituição masculina”, comenta. Em suas experiências, já foi evitado por amigos por conta de sua página da internet e excluído de fotos de entrevistas das quais participou. “Sofro preconceito. Me incomoda, mas tento equilibrar”, confessa.
Reportagem: Amanda Lima e Annelize Pires
Produção: Paula Reis
Edição: Amanda Lima