Opinião | Humanizar é preciso
Com a crescente de casos de violência e maus tratos nas maternidades, o parto humanizado surge não mais como alternativa, mas como necessidade
A que se deve essa tendência de humanizar algo tão natural como o parto? Segundo este artigo de 2010 sobre a violência no parto no País, nas maternidades brasileiras não são raras violações dos direitos humanos, da integridade corporal e autonomia das mães. Por conta disso, cada vez são mais as mulheres que decidem viver uma gestação diferente, em que elas e seu bebê sejam os protagonistas.
Segundo a pioneira pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, publicada em 2010 pela Fundação Perseu Ábramo, no Brasil, uma cada quatro mulheres já sofreu algum tipo de violência física, verbal ou emocional durante o parto.
Essa discussão não é nova. Há quase quarenta anos, depois de uma reforma nacional no sistema de maternidades, as cesáreas começaram a ganhar espaço nos leitos brasileiros. Hoje, a prática se disseminou e é responsável por cerca de 53% dos nascimentos no País, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A porcentagem recomendada pela organização é de apenas 15%.
O parto humanizado surge, então, como uma alternativa natural, que busca recuperar a dignidade da mãe e do recém-nascido através de uma atitude ética, evitando quaisquer intervenções médicas desnecessárias. Ainda assim, há uma resistência à este tipo de operação. A principal crítica é de que o procedimento significaria um atraso perante a todos os avanços científicos e tecnológicos no campo da medicina.
É importante ressaltar, então, que o parto humanizado não vai contra esses avanços, mas que procura que o processo respeite a natureza da gestação. Afinal, é também uma conquista científica saber identificar quando há real necessidade de intervenção médica.
O parto humanizado no Brasil está ganhando popularidade graças à uma luta de mais de 30 anos, de mães e médicos conscientes, que cobraram do governo ações como a Rede Cegonha, a regulamentação dos partos humanizados no SUS e o pacote de incentivos à hospitais que diminuíssem os números de cesáreas, além de proporem um debate no Senado. Ainda assim, as políticas públicas e o apoio aos partos humanizados tem muito a melhorar.
O parto é o princípio, o ponto de partida da vida, com o potencial de afetar o resto da vida de uma pessoa. Quando se tenta tornar mais humano algo tão natural como isto, a luta vai além do respeito aos direitos humanos, se tornando uma fundação na construção de uma sociedade e de um país mais ético, justo, e, por que não, humano.
Repórter: Julian Vivas Banguera
Produção multimídia: Herculano Foz
Edição: Lucas Ayres e Anna Satie