Entrevista – Uma jogada para além das quadras
Nas quadras do Bauru Tênis Clube (BTC), Alessandro Coelho, 38 anos, terminava uma de suas aulas particulares de tênis. Atencioso, cada saque e jogada da aluna eram seguidos por palavras de motivação e correção do treinador. Ao fim do treino, o professor, solícito, buscou cadeiras para que sentássemos.
Alessandro é formado em Educação Física e, há 10 anos, dá aulas de tênis no BTC. “Comecei, com 10 anos de idade, como pegador de bola aqui no clube. Acho legal ressaltar isso. Saí e fui trabalhar numa empresa, também ligada ao tênis. Depois de um tempo, voltei para o clube e hoje dou aulas”, conta o professor, que, além das aulas particulares, faz parte de um projeto em que ensina tênis para crianças carentes, o CRESCER.
O Projeto é uma iniciativa do Centro Espírita Amor e Caridade em parceria com a prefeitura de Bauru e o BTC e já tem quatro anos. Durante dois dias na semana – quartas e quintas – é ensinado tênis a um total de 30 crianças no período em que elas não estão na escola.
Repórter Unesp: Como é a sua rotina como professor de tênis no projeto Crescer?
Alessandro Coelho: Muito gratificante, porque minha origem é igual a dessas crianças. Comecei como pegador de bola. Aprendi o Tênis só de olhar e hoje ensino o esporte. Tem gente que fala que é esporte de rico, que precisa de uma condição financeira muito boa para praticar e é verdade. Os materiais e tudo relacionado ao esporte é muito caro, por isso a minha gratificação de estar atendendo as crianças, de ver a alegria, ensinar um esporte que é novo e diferente para elas. Futebol, por exemplo, é bem mais fácil de jogar e praticar, agora, o tênis, não. Se não tivesse essa ação social, dificilmente essas crianças teriam a oportunidade.
R.U.: Você acha que o esporte é pouco divulgado?
A.C.: Muito pouco. Hoje é até conhecido porque mais gente pode ter acesso a canais fechados, mas, ainda assim, comparado com o futebol, por exemplo…
R.U.: Qual é a sua motivação no projeto?
A.C.: Eu me identifico bastante com as crianças. Na faculdade você também aprende muito isso, a trabalhar o lado social. O prazer vem não de você ganhar o dinheiro, mas de estar trabalhando com pessoas, com crianças que precisam de ajuda. Isso te torna uma pessoa mais legal, sabe. Eu já passei por essa fase que elas passam hoje, então eu sei bem.
R.U.:Para a criança fazer parte do projeto, o que precisa?
A.C.:O projeto Crescer exige que as crianças estejam frequentando a escola.
R.U.:E quais são as maiores dificuldades?
A.C.: A maior dificuldade é a financeira. O material para essas crianças – tênis, raquete, todo material esportivo – é caro. Tem algumas pessoas que ajudam, tem a parceria com a prefeitura, e a gente vai tocando o projeto nesses quatro anos. Se a gente tivesse mais divulgação, talvez teria mais patrocínio, mais pessoas querendo ajudar. Para investir no tênis é complicado porque você pode não ter um retorno financeiro e nem de marketing como em outros esportes.
R.U.:E as crianças gostam?
A.C.: Eu acredito que sim (risos). Elas gostam muito porque vêm 15 crianças e a própria assistente social fala que tem outras pedindo para fazer as aulas. Como são 15 por dia e uma hora e meia para trabalhar, eu não consigo por mais. O horário curto com muita gente não dá para fazer um trabalho legal. Quinze ainda é muito, mas como a gente já vem trabalhando há quatro anos, muitas já estão ali, batendo certinho e desde o começo do projeto, a gente continua.
R.U.: Tem alguma que se sobressai?
A.C.: Então, tem hora que dá vontade de fazer uma seleção, mas não dá para excluir, principalmente por ser um projeto social. Se tivesse mais oportunidade, mais horário de atender essas crianças, talvez uma seleção poderia ser feita sem necessidade de exclusão.
R.U.: E porque esse horário tão curto?
A.C.: Uma é questão do clube, horários que ele pode oferecer e outra é o meu horário. Como eu sou professor autônomo, dou aula particular. Se eu quisesse pegar três vezes por semana para dar aula para as crianças, não conseguiria porque eu tenho meus alunos particulares também. Seria difícil.
R.U.:Como você trabalha a expectativa das crianças?
A.C.: Nessa idade, entre seis, sete anos, ainda não dá para trabalhar a parte competitiva, mais a parte de aprendizagem mesmo, mas elas se saem bem. Além desse projeto, aqui tem os meninos que jogam o competitivo. Eles também vieram por essa parte social. Começaram novinhos aqui no clube e agora competem. Hoje não é permitido mais que crianças de 10 anos frequentem o clube. A entrada é rigorosa, mas como esses meninos já estavam aqui, conseguimos que eles continuassem e formamos a equipe competitiva do clube.
R.U.: Você tem alguma expectativa em relação ao projeto?
A.C.: Eu espero que a gente continue por muito tempo com esse projeto e também queria que houvesse um jeito de aumentar os horários de treino para elas. Uma vez por semana, uma hora e meia de treino, dá para tirar um “Guga daí? Pode até ser, mas é difícil.
A importância do esporte na infância
Reportagem: Tânia Rita
Produção Multimídia: Lívia Lago
Edição: Mariana Amud Fernandes
One thought on “Entrevista – Uma jogada para além das quadras”