Qual a importância de preservar o Cerrado em Bauru
A vegetação do cerrado ocupa apenas 1% do Estado de São Paulo. A região de Bauru possui importantes áreas de preservação do bioma.
A cobertura vegetal de Bauru pertence predominantemente a Mata Atlântica e o Cerrado. Esse biomas são caracterizados pelas vegetações de floresta estacional semidecidual e cerradão, respectivamente.
A fim de formalizar ações de preservação ambiental, o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica e do Cerrado de Bauru foi criado e assinado, em 2015, pela ex-secretária de Meio Ambiente de São Paulo, Patrícia Iglecias e pelo então prefeito de Bauru, Rodrigo Agostinho, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.
Através de levantamentos do pesquisador Francisco José do Nascimento Kronka em 1993, sabe-se que a floresta primitiva do Estado de São Paulo, que ocupava 88% do território, hoje ocupa menos que 13,4%. Com o Cerrado a situação também é drástica. Somente entre 1962 e 1992, houve uma redução de 87% das áreas do bioma. Hoje o ecossistema está em apenas 1% do território estadual.
A preservação do Cerrado se faz necessária e urgente, pois, além de ocupar uma área pequena no Estado, o ecossistema é rico em fauna e flora. Cerca de 11 mil plantas nativas foram catalogadas no bioma. Mais de 360 espécies foram identificadas no Cerrado em Bauru. O desmatamento amplifica gravemente o processo de assoreamento nos rios.
Conhecendo a vegetação de Bauru
Grande parte da vegetação remanescente concentra-se na parte sudeste de Bauru. Os 803 hectares, são caracterizados pela fisionomia do Cerradão – além de uma quantidade menor de Floresta Semidecidual nos fundos dos vales –, situados na Reserva Legal do Campus de Bauru, Jardim Botânico Municipal e Reserva Ecológica Beneficente Éneas Carvalho de Aguiar.
O Prof. Dr. Osmar Cavassan, da Faculdade de Ciências da UNESP Bauru, responsável por importantes levantamentos da cobertura vegetal bauruense, pesquisas sobre a fisionomia do Cerrado e curador do herbário UNBA, esclarece algumas questões sobre a vegetação do município. Segundo o professor, no Cerradão as “árvores tem uma fisionomia de floresta, embora sejam espécies de cerrado”. A média da altura da cobertura das árvores pode variar de 8 a 15 metros. A formação vegetal corresponde principalmente às Áreas de Proteção Ambiental do Rio Batalha e Vargem Limpa – Campo Novo.
Já a margem esquerda do rio Bauru há o predomínio da Floresta Estacional Semidecidual. A vegetação pertencente à Mata Atlântica, correspondente aos 288 hectares da Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva, Área de Proteção Ambiental Água Parada.
A fragmentação da cobertura vegetal bauruense seu deu principalmente pela ação humana, sobretudo no que diz respeito a expansão da fronteira agrícola. Na área urbana há fragmentos de cerrado e mata atlântica, a maioria com graves pertubações antrópicas. Fragmentos como os observados próximos ao bairros Jardim Nicéia e Presidente Geisel são citadas no Plano Diretor como Áreas de Relevante Interesse Ecológico. As ARIEs permitem formas de manejo de seus ecossistemas. Em muitos locais observa-se a transição de fisionomias vegetais.
Osmar Cavassan explica que, ao observar trechos de vegetação sem influência do ser humano, áreas mais abertas de cerrado possuem um solo com menor disponibilidade hídrica “e/ou mais sujeitas a perturbações, como o fogo e o pastejo”. Por outro lado, nas áreas mais fechadas acontece o contrário. De modo que, “se você tiver mais alterações na frequência de perturbações, do tipo fogo ou pastejo, ou qualquer tipo de ação do homem, a fisionomia pode alterar-se.”
Medidas de preservação do Cerrado em Bauru
O texto do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica e do Cerrado traça um diagnóstico da cobertura vegetal remanescente de Bauru e elenca estratégias para a conservação da biodiversidade. Em especial, o documento destaca a “formação de um corredor que conecte os fragmentos florestais”.
As estratégias, detalhadas no documento, são: “recuperação da cobertura vegetal do município por meios de plantio de mudas”, “garantir a conservação da cobertura florestal existente”, “atualizar as informações ambientais do município”, “aplicação dos instrumentos legais visando à conservação e recuperação de áreas de Mata Atlântica e Cerrado no município”, “elaboração de diagnósticos e planos de ações a serem realizados nas Áreas de Proteção Ambiental do município” e “preservação da fauna selvagem”.
Cavassan discutiu sobre o plano em um fórum organizado pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o qual reuniu especialistas para lançar luz sobre as estratégias do documento. O pesquisador alerta que “todo projeto de restauração ecológica, deve ser adequado para uma determinada situação. “Se eles buscavam receita única, essa receita não existe.” afirma o pesquisador.
Procedimento
Osmar também relata que nem todo o procedimento de restauração ecológica depende do plantio. “A natureza tem uma grande capacidade de restauração natural” afirma. Em seguida, completa. “Desde que a área tenha Cerrado com porção subterrânea bem desenvolvida, é só isolar, acompanhar, tirar o agente de degradação. Naturalmente ele restaura com custo pequeno em relação ao benefício”
Para cumprir as estratégias do Plano, sobretudo nas propriedades privadas, diversas organizações oferecem serviços de preservação e reflorestamento. É o caso da ONG SOS Cerrado. Fundada em 2008 a organização tem uma atuação importante no monitoramento e preservação do Cerrado.
As áreas de proteção ambiental, no entanto, podem sofrer severas mudanças. O prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSD) e a Mesa Diretora da Câmara Municipal defendem a alteração do artigo 73 do Plano Diretor Participativo. A norma em questão dispõe sobre a ocupação residencial da Área de Preservação do Rio Batalha.
Confira no mapa abaixo, um dos principais pontos de conservação do Cerrado em Bauru, espalhados pelo município.
Reportagem: Lucas Marques
Edição multimídia: Karina Rofato
Edição: Guilherme Sette e Victor Pinheiro