Inclusão digital na terceira idade aumenta no Brasil nos últimos 5 anos
As gerações mais velhas estão se adaptando às novas tecnologias, tanto no uso das redes sociais quanto em conhecimentos básicos de informática aprendidos em cursos gratuitos de universidades
A inclusão digital já se tornou parte da rotina de pessoas em todos os lugares mundo – passa-se cada vez menos tempo “desconectado” e utiliza-se os recursos digitais para a realização de muitas ações e tarefas. Em uma época na qual a “internet das coisas“ é realidade cada vez mais frequente, aqueles que não se adaptam se tornam “analfabetos digitais”, praticamente excluídos da sociedade contemporânea.
Para as gerações mais novas, que já nasceram em um mundo digital, na maioria das vezes isso não representa nenhuma dificuldade; mas e para os mais velhos? É característico das gerações mais antigas não apresentarem tanto conhecimento em relação a isso. A partir de certa faixa etária, muitas pessoas não ficam a par de todas as funcionalidades digitais e essa parcela aumenta juntamente com a idade. Entretanto, a terceira idade vem mostrando que não quer ficar de fora desse mundo novo.
Uma pesquisa do IBGE comprova que, ao contrário do que se imagina, os idosos usam cada vez mais a internet. Em cinco anos, o número de pessoas acima de 60 anos que acessam a rede mais que dobrou: eram 5,7% em 2008, superados pelos 12,6% em 2013. Outra pesquisa de 2015, realizada pela AVG Technologies em diversos países, incluindo o Brasil, descobriu que o celular é o dispositivo mais utilizado entre os idosos, abrangendo 86% dos entrevistados. 76% deles utilizam o Facebook e apenas 9% não usam nenhum serviço de comunicação.
Um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, realizada com 100 indivíduos acima de 65 anos de idade, analisou o nível de aceitação da tecnologia pelos entrevistados. Descobriu-se que, em sua maioria, os idosos aceitam as novas tecnologias, mas a rejeição ainda é considerável. Para a pesquisadora e terapeuta ocupacional Taiuani Marquine, um dos principais fatores que levam a essa rejeição é que essas pessoas já eram adultas ou mesmo idosas quando as tecnologias começaram a surgir. Outra informação relevante da pesquisa é que 24% dos entrevistados afirmaram ter medo de usar as novas tecnologias, e 40% possuíam receio de danificar os aparelhos eletrônicos. Entretanto, os resultados mostraram que os membros do grupo conseguiram superar as dificuldades após frequentarem cursos de inclusão digital.
Em Bauru, existem algumas iniciativas que auxiliam os idosos a se aproximarem das novas tecnologias. Na Universidade do Sagrado Coração, USC, o projeto Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) existe desde agosto de 1993, e já atendeu diversos alunos em seus 23 anos de existência. O objetivo do projeto é desenvolver ações que promovam a integração de pessoas da terceira idade com a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Entre as atividades oferecidas, estão cursos de informática, oficinas de teatro, aulas de línguas estrangeiras, trabalhos de artes, grupos de dança, entre outros, que ocorrem quase todos os dias da semana.
Na Unesp, a Universidade Aberta para a Terceira Idade (UnATI) está presente em diversos campus. Em Bauru, o projeto é coordenado há três anos pela Profª. Drª. Maria Antônia Benutti. De acordo com ela, a UnATI tem o objetivo de trazer o idoso para a universidade para que ele participe de várias atividades. “Atualmente, no campus, nós temos diversas atividades para idosos. Nós temos duas que pertencem a UnATI, uma é a Inclusão Digital e a outra é o Rejuvenescendo com Arte, onde a gente trabalha tanto a arte como o artesanato”, explica.
A professora ainda afirma que as aulas de inclusão digital são importantes para que eles se sintam atualizados, e não excluídos, diante da tecnologia. “A intenção do projeto é fazer com que eles façam pelo menos o básico. Alguns tem até medo de pegar no mouse, são coisas que, para a gente, são intuitivas. A reclamação é que ‘em casa, eu peço pra me ensinarem, mas vão lá e fazem pra mim’, e não é isso que eles querem, eles querem aprender mesmo. É interessante essa postura deles, e eu acho que é muito importante”, afirma.
Oscar (71) e Heloídes Grahl (66) estão juntos há 46 anos, e começaram a frequentar as aulas da UnATI esse ano. Eles afirmam que procuraram o projeto para se manterem atualizados. “Eu nunca fiz curso nenhum, mas fico mexendo. É como eu falei, meu celular, coitado, trava sempre, de tanto que eu mexo, porque eu gosto”, diz Heloídes. Ela também explica que ficar à margem das coisas foi o que a fez tentar aprender. “Ele (Oscar) tinha computador em casa, nossa filha ficava trabalhando e usando o computador também, e eles conversavam e eu comecei a ficar sem entender nada e de fora da conversa dos dois”, explica.
Já Oscar identifica que o problema é a falta de oportunidades para a terceira idade aprender. “[Faltam cursos] que iniciem do básico, como esse aqui. Porque falam ‘computador é fácil, faz isso e aquilo’, mas a pessoa que não conhece nada não consegue fazer. Mesmo o movimento de mexer no mouse não é fácil pra quem não tem dinâmica”, ele afirma.
As pesquisas deixam claro: a terceira idade não quer ficar de fora desse mundo que surge com as novas tecnologias. Mesmo com as dificuldades, a disposição em aprender e estar conectado é muito maior, e quem somos nós para duvidarmos da capacidade deles? Em alguns anos, possivelmente, a nova geração de idosos já estará muito mais inserida nesse contexto, e as dificuldades serão cada vez menores.
As aulas da UATI e UnATI já começaram, mas é possível entrar em contato com os projetos através das informações abaixo:
UATI/USC
Telefone: (14) 2107-7027
terceiraidade@usc.br
Atendimento: segunda à sexta-feira – 13h às 18h
UnATI/Unesp
Telefone: (14) 3103.6066 / 3103.6063
mariabenutti@faac.unesp.br
Aplicativos úteis
Se você está procurando aplicativos que sejam úteis para celulares ou tablets, aqui vão algumas sugestões, e que são principalmente utilizadas pela terceira idade.
- Caixa de Remédios: O nome já diz tudo. Esse aplicativo não deixa ninguém esquecer dos medicamentos que precisamos tomar, e que são cada vez mais comuns conforme a idade avança. Com design intuitivo e simples, esse app é extremamente popular e gratuito.
- Pocket Yoga: Uma opção para quem não quer ficar parado em casa, com exercícios de ioga que podem ser definidos pela dificuldade. É pago, mas alguns semelhantes são gratuitos.
- Google Maps: Geralmente já vem nos celulares, mas é sempre bom conferir. Esse app é bastante popular e constantemente atualizado, é impossível se perder com ele, em qualquer lugar do mundo. Conta ainda com GPS e também é gratuito.
- EasyTaxi e 99taxis: Esses aplicativos são semelhantes e simples. Como o próprio nome sugere, é uma forma rápida de pedir um táxi. Os apps são gratuitos.
- CPqD Alcance. Originalmente desenvolvido para deficientes visuais, esse app tornou-se popular por ajudar idosos a navegarem em seus celulares, já que nessa faixa etária, problemas de visão são bastante comuns. Também é gratuito.
Reportagem: Alexandre Wolf
Produção Multimídia: Bárbara Christan
Edição: Daniela Leite
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