“Levo o mundo e não vou lá”
Quando Cássia Eller cantava os versos de “E.C.T.”, em 1995, a internet começava a se popularizar no Brasil. Depois de vinte anos, os carteiros já não entregam mais tantas cartas ou postais. Mas com a internet e as novas plataformas de comunicação digital, qualquer distância diminui de dias para segundos. Sem envelopes ou selos, a única condição para trocar mensagens, hoje, é clicar em “Enviar”.
O celular vibra: novas mensagens. No Twitter, ela contou que embarcaria às 10h04min. Tirando a #ansiedade e um pequeno atraso para pegar as malas, a viagem foi tranquila. Ela mandou no Snapchat um vídeo da casa onde moraria pelos próximos meses: bem moderna e com vista para um jardim. 106 curtidas na foto do Instagram com as colegas de quarto, e 58 em uma da nova universidade. No final de semana, tinha feito planos para ir à cidade vizinha, mas no Whatsapp contou que perdeu o trem. Decidiu, então, visitar um museu e gravou um vídeo para o Youtube, com 72 visualizações. No Facebook postou uma foto de um jantar com os amigos, um poema sobre a nova cidade e a sua música preferida (aproveitando pra comentar que já estava com saudade do Brasil).
Fazer intercâmbio hoje significa estar online o tempo todo. Em um mundo que transborda tecnologias, as distâncias ganham novas definições, mais relativas: os quilômetros se transformaram em milésimos de segundos. Estar no exterior, longe de casa e dos amigos, não quer dizer mais um isolamento momentâneo. É fácil acompanhar – e em tempo real – o cotidiano das pessoas, tanto das que viajam quanto o das que ficam. A sequência anterior, espécie de timeline, mesmo não sendo verdadeira representa a realidade das redes sociais. A simultaneidade é cada vez maior, mudando as formas de se comunicar e formando novas conexões afetivas. A saudade continua, mas as novas possibilidades virtuais de interação conseguem preencher parte do vazio que é estar longe ou, principalmente, que é ter alguém longe. Não dá para fugir do clichê: as tecnologias encurtam a distância.
Os versos da música E.C.T. (sigla que se refere à Empresa de Correios e Telégrafos) cantam sobre uma época passada. Em 1995, a conversa com brasileiros em outros países dependia de longas cartas escritas à mão, cartões postais ou caros telefonemas. Vinte anos e as redes sociais encerraram esse arranjo. O postal é hoje apenas um símbolo nostálgico de uma era pré-internet, num mundo onde quase não se conhece mais a letra das pessoas. A correspondência é em tempo real, o contato passou a ser diário, e várias vezes por dia. Os vínculos se criaram entre smartphones, notebooks e tablets. Das cartas, sobra o sentimentalismo, a emoção de se receber algo ao qual alguém dedicou tempo para escrever. Da melodia, ficam as observações sobre a mudança, sobre a comunicação no seu constante rearranjar, na qual parece ter vencido o imediatismo.
Quem leva o mundo, hoje, é a internet.
Texto: Lígia Morais
Edição: Mariana Caires