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MEC levanta debate sobre inovação

Avanços tecnológicos estimulam projeto do MEC que mapeia instituições com propostas inovadoras para a educação básica no Brasil

Alunos do Centro de Educação Integral Júlio Moreira, uma das escolas de Curitiba que está no Mapa da Inovação e Criatividade do MEC. (Imagem: Ana Paula Matheus)

Com o objetivo de conhecer e fomentar iniciativas que se direcionam para inovações e para uma superação no modelo tradicional de educação no Brasil, o Ministério da Educação elaborou, no fim de 2015, o Mapa da Inovação e Criatividade na Educação Básica.

O Mapa cumpre com o objetivo de primeiro conhecer e identificar as instituições no País que já desenvolvem algum tipo de projeto inovador de educação ou que orientem sua política pedagógica nesse sentido. Uma chamada pública foi feita em setembro de 2015, estabelecendo as cinco dimensões nas quais as organizações deveriam apresentar iniciativas inovadoras e os critérios que seriam avaliados em cada uma delas: gestão, currículo, ambiente, métodos e articulação com outros agentes.

No fim do período de inscrições, feitas através de um site lançado pelo MEC junto com a chamada, um total 683 instituições haviam sido inscritas, com representantes dos 24 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Uma comissão avaliadora, composta por membros de um grupo de trabalho nacional e regionais, realizou uma leitura dos trabalhos enviados com base nos critérios avaliados e selecionou candidatos para uma segunda fase. Nessa nova etapa, as instituições que ainda não haviam enviado imagens, juntamente com uma síntese dos resultados atingidos pelos seus projetos, receberam uma nova solicitação de envio. Foram desclassificadas aquelas que não responderam à solicitação. Uma entrevista por telefone ainda foi feita com aquelas instituições em que o caráter inovador ainda não havia ficado claro com as respostas dos formulários. Por fim, os resultados nos índices nacionais de qualidade na educação  – IDEB, ENEM e ANA – foram verificados. No final de todo esse processo, 178 instituições – escolas e organizações não-governamentais – foram selecionadas.

A motivação para tal iniciativa, segundo o próprio Ministério, vem do desafio lançado à educação pelas mudanças em duas grandes esferas que moldam nossa maneira de viver, nos organizar e nos relacionar. A primeira delas são as transformações nas relações de trabalho, menos rígidas e regulamentadas, causadas pelas diferentes atividades profissionais surgidas nos últimos anos e nas próprias mudanças ocorridas na economia em escala global. A segunda mudança considerada essencial para a necessidade de avanço em ideias inovadoras na educação é o desenvolvimento tecnológico e a revolução vivida na maneira como pessoas e instituições se comunicam. Além disso, o fácil acesso às diferentes inovações tecnológicas transformou o contato de crianças com a informação e com o conhecimento muito mais abrangente e dinâmico, o que coloca em cheque o tradicional modelo de escola, baseado no aluno passivo que recebe ensinamentos dentro de um ambiente rígido e limitado, além de estar enquadrado sempre em disciplinas separadas e que pouco se dialogam.

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No CEI Júlio de Moreira, a utilização de tecnologias durante as aulas é uma forma de inclusão social. (Imagem: Ana Paula Matheus)

A pedagoga Fernanda Scaciota, que trabalha no Centro de Educação Integral Júlio Moreira da prefeitura de Curitiba, uma das escolas selecionadas pelo Mapa da Inovação e Criatividade do MEC, diz que a instituição busca sempre aliar os componentes curriculares de forma transdisciplinar, apostando no diálogo entre práticas educativas. “Com isso, há uma série de praticas inovadoras que aliam os saberes científicos aos saberes culturais e sociais, que surgem a cada ano”, completa. A integração entre diferentes agentes – dimensão avaliada pelo MEC – também é realizada pela escola na capital paranaense. “Por exemplo, neste inicio de ano um assunto atual que foi amplamente trabalhado na escola foi a dengue, como promover as mais diferentes ações articulando a comunidade, os estudantes e crianças de diferentes faixas etárias, os professores, os agentes de saúde da região e a unidade de saúde, a Guarda Municipal, entre outros, articulando os componentes curriculares de Ciências, Artes, Língua Portuguesa e Literatura, Geografia.

Para Scaciota, é necessário que a tecnologia, por ser um componente presente na vida cotidiana e na sociedade, esteja presente nos projetos e ações da escola. “A escola utiliza-se das mais diferentes esferas da tecnologia: livros, músicas, revistas, jornais, computadores, netbooks, youtube, páginas na internet (entre elas a página da escola), o que permite o acesso criativo e inovador ao conhecimento e ao aprender. É assim que a escola tem buscado utilizar-se de todas as esferas tecnológicas para a construção coletiva da consciência do ser humano como indivíduo e parte da sociedade onde vive”, explica a pedagoga.

No entanto, o uso da tecnologia na educação de crianças também deve ser vista com ressalva e outras formas de aprendizado são utilizadas para o desenvolvimento da liberdade e da criatividade dos mais novos. “A tecnologia a gente usa pouco com as crianças porque elas precisam exatamente, no nosso olhar, de ter essa liberdade de criar, de sonhar, de brincar com o ambiente, de forma mais orgânica”, comenta a antropóloga e psicopedagoga Alcinda Santos Stamato, fundadora do Centro de Estudos e Apoio Pedagógico Casa Dyuna-Rosa, de Botucatu, um dos projetos selecionados pelo MEC como referência em proposta de inovação e criatividade em educação básica no Brasil.

A Dyuna-Rosa, que ainda está em fase de construção e experimentação, possui um projeto pedagógico que se baseia no que Alcinda chama de “educação neo-humanista”, que seria o “alicerce” da casa. ”A partir desse alicerce sobem os pilares que são a pedagogia da emoção e do afeto, que é fundamental em qualquer faixa etária, a pedagogia da cooperação, a educação sistêmica, a educação para a paz, a neurociência e a termacultura, aí levando para a questão ambiental”, explica. O objetivo final desse processo é alcançar a educação para a autonomia, “algo aberto que essas crianças e educadores podem abrir seu conhecimento para se tornarem autônomos na maneira de pensar, de sentir e de agir”.

Reportagem: Vinicius Passarelli

Produção multimídia: Bheatriz D’Oliveira

Edição: Gabriel dos Ouros

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