O break é a frase
Era o rap que, num ritmo acelerado, parecia acompanhar os movimentos dos B-Boys na sexta a noite, e não o contrário. Com bombetas e blusas largas, eles revezavam a vez de ir para o centro da sala, exibindo power moves e freezes que animavam todos os observadores. A dança dos B-Boys, mais conhecida como break, reunia aproximadamente 20 jovens num galpão da Vila Aviação.
O B-Boying junto com o rap, DJing e o grafite compõem os quatro elementos da cultura Hip Hop. Esse movimento surgiu nos anos 70, dentro das comunidades latinas e afro-americanas de Nova Iorque. Assim como os outros elementos da cultura, o B-Boying é uma expressão artística que nasceu com função social, na tentativa de afastar a violência das periferias da cidade. Na década de 80, o movimento cresceu e se espalhou pelo mundo, desembarcando inclusive no Brasil. Das ruas da maior cidade dos EUA, a arte do break também está em Bauru.
Muitos B-Boys se reúnem para treinar toda sexta a noite no galpão da Wise Madness, entidade social sem fins lucrativos que promove arte, educação e cultura aos jovens de Bauru. Não há restrições de idade, mas os frequentadores costumam ter entre 14 a 25 anos. Na parte superior do galpão, depois das escadas, um dos grupos de dança da cidade – o Bauru Breakers Crew – gira no centro da sala cheia.
Os giros do Bauru Breakers Crew
Amendoim e Major fazem uma pausa no treino. Lembram da quinta-feira de outubro de 2011 quando, junto com Kustelinha, formaram um dos grandes grupos de B-Boying da cidade: o Bauru Breakers Crew. Ao lado dos dois está Tizil. Ele entrou no grupo mais tarde, mas já é B-Boy há sete anos e diz que “viciou” na arte.
“Eu? Já faz 11 anos que estou ralando as costas no chão”, conta Major, que já participou de campeonatos na Venezuela, no Paraguai, no Peru e de grandes competições no Brasil. “O break entrou na minha vida pra me salvar, foi numa época em que eu dava muito trabalho”. Depois de assistir uma apresentação da dança na escola, começou a ter aulas e, quando se deu conta, tinha “pegado gosto”. Quando o professor parou o curso, continuou treinando por conta própria. “Entrava no ônibus e ia sozinho participar de campeonatos”, comenta. Depois de um tempo, juntou os amigos e formou a crew de Bauru.
O Major sempre treinou pra competições e virou professor de break por acaso, depois do convite de um amigo. Ele foi, então, atrás da didática e do processo pedagógico para dar aula para as crianças. “A gente que vem da periferia sabe como esse trabalho é importante. Hoje eu sinto a necessidade de passar adiante o que aprendi e de plantar essa sementinha lá”, explica.
Em Bauru, o movimento Hip Hop tem se fortalecido, principalmente com a atuação de algumas ONGs, mas ainda é difícil trabalhar profissionalmente na cidade do interior. Major define a situação: “não se vive da arte, se sobrevive”. Mas ele completa ressaltando a importância do movimento: “se não fosse o break, o hip hop, esse tipo de arte, se não fosse isso nas periferias, ia ter muito mais corpo na vala”.
Saiba mais sobre as ONGs vinculadas ao movimento Hip Hop que atuam em Bauru
O movimento Hip Hop na cidade de Bauru
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Confira o perfil do B-Boy de Bauru que representou o Brasil em mundial de breakdance em 2014
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