Os bastidores de outra ponta da indústria: o cinema pornô
Conheça a história de pessoas que não aparecem nos filmes eróticos, mas acabam lucrando com esse mercado
Em busca do prazer ou por curiosidade, muitas pessoas acabam tendo contato com a pornografia. Atualmente, o principal meio de visualização é através da internet. Porém, antes do avanço tecnológico digital, já existiam os cinemas pornográficos. O “cinema pornô’’, como também pode ser chamado ganhou força após o surgimento dos filmes com conteúdo erótico, por volta da década de 70.
A cidade de Bauru, no estado de São Paulo, possui um Cinema Pornô, localizado na rua Araújo Leite, no Centro. Conhecido como “ Cine Athenas’’, o local atrai mais de trinta pessoas diariamente e a maioria são homens. Existem salas que exibem filmes héteros e homossexuais. O ingresso fica em torno dos 20 reais, e segundo os funcionários, a prática sexual é livre.
Em visita, tivemos a oportunidade de conhecer algumas pessoas que trabalham no cinema. Conversamos com Denner Sammer, funcionário há 6 anos. Seu horário de trabalho é das 6 da manhã até as 14 horas. Ele fica responsável pela limpeza e manutenção, além da recepção.
Quando o assunto é pornografia e local de trabalho, surge um questionamento a respeito do preconceito que pode vir a existir. “As pessoas até acham legal, interessante. Não vou dizer para você que é coragem trabalhar em um lugar desses, porque é um trabalho digno como qualquer outro. Estranhar? As pessoas estranham um pouco porque não conhecem, mas a maioria que estranham são mulheres’’, argumenta completando “Não acho que exista tabu. Tá tudo normal. As pessoas acham tudo normal. Existem alguns preconceitos mas se a gente se importar com isso, a gente não vive.’’
Sobre a indústria pornográfica, ele admite que o número de pessoas que vão cinema diminuiu e relaciona esse fato com o avanço tecnológico, no âmbito da internet. “[…]hoje você tem sexo em todo lugar, principalmente pela internet[…]’’.
Conversamos também com Laura Pereira de 18 anos. Ela é funcionária do cinema das 14 ás 22 horas e nos contou que começou a trabalhar em novembro de 2015 como freelancer, mas que foi efetivada há pouco tempo, cerca de 1 semana. “Não é um lugar bom, mas como a gente necessita de emprego[…]. A primeira coisa que apareceu eu peguei’’, argumentou. “Eu fico sentada na recepção assistindo tv, se alguém chegar eu anoto o nome e recebo o pagamento, se precisar de alguma bebida eu levo …é bem sossegado,’’ explica sobre suas tarefas e rotina.
A respeito de como sua família lidou com o assunto, Laura explicou que sua mãe no início estranhou. “Tem certeza que você vai trabalhar disso? ”, mas que depois acabou aceitando devido a situação financeira. “Eu estou trabalhado aqui porque preciso. Se eu pudesse trabalharia em outro local. Nada como um local digno. É algo que nunca vou colocar no meu currículo, tenho medo que pensem que eu faço algo errado. Não é bem visto’’, argumenta.
Sobre os clientes, ela contou que a maioria são casados ou homossexuais. Pessoas, que segundo ela, tem medo de se assumir diante da sociedade ou da família. “Tenho um amigo que vem aqui. Morre de vergonha de sair na rua, os pais dele não sabem, ele tem um comércio e não quer aparecer. A maioria que vem aqui estão nessa condição, não querem ser vistos aqui”, completa.
Felipe Canalle, escreveu uma matéria para o “vice”, uma plataforma online a respeito da sua experiência de visitar 3 cinemas pornôs em São Paulo. Na entrevista, ele conversou com uma funcionária que reforçou a ideia de que as pessoas não querem ser vistas num cine pornô por medo, preconceito ou porque ficariam “mal-faladas”. Abaixo encontra-se um trecho da entrevista.
Reportagem: Camila Gabrielle
Edição: Pepita Martin Ortega