Os trabalhadores (não tão) invisíveis da Unesp Bauru
Conheça alguns dos responsáveis pela limpeza e segurança do campus
Com quase oito mil frequentadores, Bauru é o maior dentre os 24 campi da Unesp. Os dias passam e os ambientes comuns permanecem limpos e o patrimônio, normalmente conservado. A quem se deve esse trabalho?
Muita gente não se dá conta do tamanho da estrutura de serviços que sustenta a universidade – entre motoristas, zeladores, vigilantes, marceneiros e vários outros, são tantos os funcionários que nem mesmo o supervisor de serviços, Reinaldo Cervatti, sabe dizer quantos são: “Ficamos divididos entre a Faculdade de Ciências, a Faculdade de Engenharia e a FAAC [Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação], então seria necessário ir em cada seção e perguntar para ver mais ou menos quantas pessoas trabalham lá”. Ele estima que só na área de vigilância, na qual ele trabalhou por seis anos, são 35 pessoas. Todos os trabalhadores que prestam serviços auxiliares ao campus são terceirizados.
Um desses é Roosevelt Rodrigues, que tem 56 anos e há 28 trabalha como vigilante no campus da Unesp de Bauru. De toda a sua experiência, guarda muito mais momentos bons que ruins: “A maioria do pessoal que passa por aqui cumprimenta, conversa. Eu conheço todo mundo”. O carinho dos alunos pelo segurança é tanto que ele já foi homenageado seis vezes em colações de grau: “Eu sento lá na banca, junto com os professores. É um reconhecimento dos alunos”, diz.
Roosevelt não é o único que se sente assim entre os funcionários que trabalham no campus. Ana Maria de Oliveira, que tem 56 anos e trabalha na Unesp há cinco, diz que vem trabalhar feliz todos os dias: “Me dou bem com todo mundo, com os alunos, brinco com eles. A gente chega aqui cedo, sai à tarde. Então a gente vive aqui. É como se fosse a nossa família. Um professor já foi até na minha casa levar uma cesta de Natal”.
Entre as funcionárias da limpeza entrevistadas, todas disseram que se sentem valorizadas em seu trabalho. Cátia Laurentino, que cuida dos laboratórios de química e informática, até brinca: “Eles cumprimentam, pedem licença. Falam ‘E aí, tia?’ e eu respondo ‘E aí, sobrinho?’”. Sua companheira de trabalho Andreia, que cuida das salas de aula, complementa sua fala: “Os alunos veem a gente limpando e perguntam se podem passar. Pedem licença, olham a gente no olho. Para mim, é muito importante que me olhem no olho quando falam”. Ela diz também que acha que a relação dos alunos com os funcionários na Unesp é especial: “Já me olharam torto em vários lugares em que trabalhei. Aqui nunca”.
Wilson Pereira dos Santos tem 61 anos e 17 de carreira como vigilante da Unesp. Como trabalha em serviço de escala, troca de portarias com frequência. A que ele mais gosta de ficar é o CTI (Colégio Técnico Industrial) da Unesp. “A gente vê os meninos todos os dias, eles chamam a gente de ‘tio’. Às vezes, eles passam na faculdade, me veem na portaria e reconhecem”, conta. Ele diz que se sente valorizado em seu trabalho, mas que sofre um pouco de preconceito por causa de seu posto: “Às vezes, quem olha de fora acha que a gente não faz nada, que fica aqui sentado o dia todo. Mas você imagina, todo o patrimônio da Unesp, sem ninguém para tomar conta?”. Para ele, o mais importante é ele mesmo saber da importância do seu trabalho: “A gente nunca vai convencer todo mundo, né? O pessoal não dá valor, às vezes. Mas o nosso trabalho é muito importante”.
Sobre o preconceito, a fala de Cátia é marcante: “Já sofri muito preconceito. Não aqui, mas do pessoal de fora. Eles ouvem que a gente é faxineira e perguntam ‘Ah, não tinha outro trabalho, não?’. Mas eu gosto daqui. Gosto dos alunos, dos professores, do meu horário. O trabalho é pesado, mas eu gosto muito”. Mas ela diz que o sonho ainda não acabou: “Já fiz curso de recepcionista, vários outros. Só não fiz faculdade. Ainda!”. Perguntada sobre qual graduação ela escolheria, responde com um sorriso no rosto: “Artes”.
Reportagem: Anna Satie
Produção multimídia: Lucas Rubio Ayres
Edição: Raphael Soares
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