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Por trás das câmeras

Conheça um pouco mais do mundo de DeMonique, uma atriz que atua em filmes adultos e acredita na pornografia para mulheres

Apaixonada por fotografia e pela liberdade da mulher, DeMonique tem 28 anos e uma postura que transborda atitude, desde as roupas que veste até a sua personalidade. Conheceu o mundo da pornografia mais de perto quando foi convidada por um colega a participar de um filme adulto. Em entrevista, ela conta como ela vê o mundo da pornografia e como essa experiência influenciou sua vida.

DeMonique em foto tirada por um amigo. Créditos :Wandeclayt Melo – Bunkermedia Photography

Como você diria que a pornografia entrou na sua vida?

DM: O 1º trabalho que tive foi com webshows num site gringo. O dinheiro era bom e depois eu fui pegando gosto pela arte de dar prazer. Eu conheci em seguida um fotógrafo, o Thiago Marzano. Ele me introduziu ao Xplastic – produtora de filmes pornográficos, conhecida por suas produções pertencentes ao “pornô alternativo” – e uma coisa foi levando a outra.

Você atuou em quantos filmes? Como foi a decisão de atuar?

DM: Atuei em quatro filmes, o primeiro em 2010 e o ultimo em 2015, para um TCC de faculdade com temática pornô. Optei participar por precisar de dinheiro e por gostar de fazer parte de algo diferente.

Você comentou com amigos e familiares? Qual foi a reação deles e como você se sentiu quanto a isso?

DM: Meus amigos sempre sabem o que estou aprontando! {risos} Eles nunca me julgaram e me dão todo o apoio que preciso. Minha família sabe em partes, mas nunca cheguei a mostrar nada, porém mais por medo da reação deles do que por vergonha dos trabalhos.

Como foi durante a gravação? Você se sentiu nervosa? O ambiente foi de alguma forma hostil?

DM: As gravações foram bem tranquilas! Nervosismo sempre bate, mas depois que começa, você acaba se envolvendo e quando percebe, já acabou… Não senti hostilidade nos ambientes que fiz, porque eu sempre faço muitas perguntas e só topo se sinto confiança. E eu tive sorte!

Na sua opinião, mulheres que trabalham com pornografia sofrem preconceito de seus familiares e amigos?

DM: Com certeza. Tenho relatos de amigas que trabalham com isso que, quando não se escondem, acabam sendo expulsas do lar para sempre.

Você já sofreu algum tipo de violência durante as gravações?

DM: Violência, nunca. Mas quando se é novata, rola um estranhamento de se ver numa situação que apesar de simples, é intima…

Você se sente influenciada de alguma forma pela pornografia? Poderia me explicar quais são essas influências?

DM: Eu gosto de ver filmes, acompanhar as reações e expressões dos atores e atrizes e tento pescar algo emocional deles… A pornografia me libertou de muitas formas e eu hoje em dia sou muito grata pelo empoderamento que tenho, graças à pornografia.

Você conhece meninas que sofreram algum tipo de violência em set?

DM: Sim. Dentro e fora dos sets… É uma realidade dura e difícil, mas está lá.

Na sua opinião, a indústria pornográfica acolhe bem as mulheres que atuam?

DM: Acredito que a indústria tente, mas por ser um nicho onde a maioria dos produtores e distribuidores são homens, pode fugir algo do controle que eles não se dão conta.

Alguém chegou a te reconhecer pelos filmes? Como foi?

DM: Pelos meus filmes pornôs nunca, mas fui reconhecida por um filme de zumbis que gravei em 2013.

Você pretende atuar novamente?

DM: Eu gosto de atuar e seria legal participar de mais alguns. O clima de gravação é sempre muito gostoso e quando você vê o resultado final de horas de empenho, é muito gratificante! E dinheiro é sempre bom, né?! {risos}

Você assiste a pornografia?

DM: Sim, como qualquer pessoa!

Então pornografia também é coisa de mulher?

DM: Claro que sim! Nós, mulheres, podemos fazer o que quisermos! Já passou da hora de invadirmos alguns nichos onde os homens predominam.

De alguma forma você acha que a pornografia vem se naturalizando? Isso na sua opinião é positivo ou negativo?

DM: Eu sinto isso sim, e acho ótimo! As pessoas podem aprender a respeitar a privacidade do próximo sem medo de ser invadido ou julgado pelos fetiches que gosta de ver ou fazer.

Você acha que atores são mais prestigiados e sofrem menos violência do que as atrizes?

DM: Não tenho convivência com nenhum ator, então não tenho opinião sobre eles.

Na sua opinião, a indústria pornográfica brasileira é diferente do resto do mundo quanto ao seu comportamento perante as mulheres?

DM: Eu nunca trabalhei com outras produtoras, fora as brasileiras… Mas parece que nos outros países não é uma profissão tão marginalizada como aqui.

Na sua opinião, os filmes pornográficos reforçam padrões estéticos?

DM: Sim. Mas é preciso relembrar que os padrões não estão apenas na indústria pornográfica!

Você acha que a indústria pornográfica precisa de mudanças?

DM: Acredito que mais investimento e ouvir mais o que os clientes e toda a equipe têm a dizer.

Você acha que a pornografia atual é pensada também para o público feminino?

DM: Não exatamente. Agora tem mais estúdios, diretores, diretoras que estão percebendo que podem ampliar os ganhos fazendo material que seja agradável aos olhos das mulheres. Estão rolando mais pesquisas de mercado e acredito que muito em breve o conceito de “pornografia pra mulheres” será considerado o padrão geral e tudo ficará mais diverso e divertido!

Reportagem: Letícia de Maceno

Edição: Daniel Linhares

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