A cidade de Bauru foi avaliada, recentemente, como uma das cidades para implantação da Escolinha da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. A possibilidade de implementação suscitou um debate entre os cidadãos e o Governo Municipal da importância da existência de projetos sociais, culturais e esportivos para a formação dos jovens da cidade.
O Secretário de Esportes e Lazer, Luiz Faustini, afirma que o projeto está em construção. Sua primeira etapa foi realizada com uma reunião e visita de avaliação da equipe responsável pela Escolinha. O interesse pela cidade de Bauru é da Escolinha da CBF e parceiros da cidade. Enquanto não é aprovado, a nossa reportagem mapeou outros projetos sociais que transformam a vida de jovens bauruenses assistidos por programas como esse.
Formação cidadã para crianças e jovens
Muitas pessoas tem criado iniciativas para oferecer uma formação educacional para além das salas de aula. Tiago Donizetti Ildefonso é uma dessas pessoas. Professor de boxe, ex-atleta e presidente da Associação Desportiva Leões do Ringue que apoia o Cidadão Campeão. O projeto social visa o ensino da disciplina esportiva com o intuito de ajudar na educação e na formação do cidadão através do esporte.
No Cidadão Campeão, explica Tiago, “os jovens aprendem a trabalhar em grupo, respeitar as diferenças, ajudar uns aos outros, compartilhar as coisas e a respeitar hierarquias”. Para ele, Bauru tem um bom número de projetos sociais. A maioria, porém, passa pelas mesmas dificuldades.
O ex-atleta argumenta que “a quantidade de projetos sociais na cidade não é ruim e, claro, que quanto mais, melhor é para a formação dos jovens”. No entanto, acredita que “é mais importante as empresas apoiarem os que já existem hoje que a criação de outros”. Assim, os que já existem teriam a capacidade de ajudar um número bem maior de pessoas, avalia Tiago.
Já para Fulvia Negri, coordenadora pedagógica do Projeto Caná, que desenvolve atividades culturais ,esportivas e sociais, tem idades mais assistidas que outras. A maioria das iniciativas se destina para crianças dos 6 aos 15 anos de idade. Para as de 3 a 5, são poucas opções. “Existem muitas instituições assistenciais, cerca de 60 em média, na cidade”, comenta. O Projeto Caná foi criado para atender, a princípio, as primeiras famílias do bairro Ferradura Mirim. As pessoas que ajudaram esse bairro, hoje fazem parte da Associação do Projeto Caná. Com o tempo foi priorizado trabalhar com as crianças”. O Caná atende hoje 197 crianças entre 3 e 14 anos.
Números
A Prefeitura Municipal mantém projetos sócio-culturais na Divisão de Ensino às Artes (DEA). O diretor da Divisão, Nilson Batista Junior, explica que o DEA oferece cursos na área de dança, teatro, música e artes plásticas em diferentes unidades. Segundo Nilson, os projetos do DEA tem uma procura de 5.000 a 6.000 inscrições para as 1.200 vagas à disposição. “Para atender a todos, precisaríamos de mais infraestrutura, isto é, mais salas, professores e materiais para as práticas”. Quanto à importância do projeto, Nilson diz que “oferece-se a base, e aí vai da vontade do aluno”. A Secretaria de Cultura não delimita valores fixos para destinar às iniciativas culturais como o DEA, o Teatro Municipal e a Biblioteca.
Transformando vidas
Naia Muller Mariano, 31 anos, é professora de Dança na Secretaria Municipal de Cultura de Bauru e começou a dançar com 16 anos em projeto apoiado pelo DEA. Ela conta que a experiência foi muito importante para a sua formação profissional e cidadã. “Quando estava na fase de cursinho e vestibulares tinha dúvidas, mas ganhei uma bolsa integral para cursar Licenciatura em Educação Física e me encontrei no curso”.
Das aulas de dança vieram conhecimentos sobre anatomia e didática e o interesse pela pesquisa. “A nossa professora inseriu vários dos alunos (inclusive eu) no mercado, com pequenos trabalhos orientados por ela. Então começar a dar aula, para mim, foi acontecendo naturalmente. Hoje me sinto uma cidadã com boa consciência em relação a mim, ao próximo e ao mundo, pois filosofávamos muito durante as aulas”.
De acordo com Naia, além das coreografias e o palco, o processo importava, a rotina juntos, a confiança e conhecer a dança de cada um dos bailarinos era essencial. Ela conta que “buscávamos contato constante com o interior de cada bailarino, procurando trazer o melhor do grupo e o melhor de si mesmo a cada momento. Mesmo não tendo total consciência da amplitude e de tudo que envolvia estar ali, era principalmente intenso”.
O bailarino Henrique Hokamura, de 19 anos, fez parte do curso de dança do DEA por três anos. O jovem destaca que a importância desses projetos sociais gratuitos é a descentralização do capital cultural na cidade. “A arte é essencial na formação do indivíduo enquanto ser social. Ela fornece códigos para enxergar o mundo sob uma outra ótica do subjetivo/singular, além do autoconhecimento”, completa. Atualmente, Henrique cursa Dança na Universidade de Campinas (Unicamp).
Resultados
Nilson Batista Júnior, diretor do DEA, se alegra com os relatos. Para ele, a intenção do projeto sempre foi formar um consumidor de arte crítico. O propósito é fornecer uma visão de mundo pela qual compreenda os processos de construção de simbologias. Em sua avaliação, os envolvidos devem se interessar por informação e conhecimento. Desse modo, serão “profissionais criativos, o que lhes garante destaque no mercado de trabalho”, avalia Nilson.
Tiago Donizetti, do Leões do Ringue, comenta sobre dois de seus alunos que hoje competem no circuito de boxe nacional. “A história mais recente é do aluno e hoje atleta Yago que se tornou Campeão Paulista de Boxe 2017 na classe cadete (atletas de 15 e 16 anos). E Jefferson que já conquistou vários títulos e hoje é treinador e sobrevive do esporte”, explica.
Para muitas crianças, o processo de crescer envolve o reconhecimento individual e de grupo, comenta Fulvia Negri. A coordenadora do Caná ainda explica que é importante a educação trabalhar a identidade pessoal, social e de grupo. “É isso o que a gente quer: crianças protagonistas de suas vidas. Então, trabalhamos o artístico, usamos arte como educação. E através dela mostrar aos participantes que eles podem ser, estar e fazer o que eles querem, pois é possível”, completa.
Reportagem: Ana Flávia Cézar
Produção Multimídia: Ana Carolina Ribeiro
Edição: Jéssica Dourado