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Suicídio: Abordar ou não abordar, eis a questão

Dotada de grande potencial formador de opinião, a mídia tem escolhido não noticiar o suicídio; seria a clausura em torno do tema, de fato, a escolha mais sensata?

O suicídio, além de ainda ser um tabu em nossa sociedade, também se caracteriza por ser um grave problema de saúde pública no mundo inteiro. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, o que representa mais de 800 mil pessoas por ano. As razões podem ser diversas, mas as principais entre elas são transtornos psicológicos como depressão e crises de ansiedade, que podem ser tratadas através de acompanhamento médico adequado.

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O suicídio está ligado à necessidade de buscar a morte como um refúgio do sofrimento que se torna insuportável, por isso é comumente relacionado a transtornos psicológicos (Foto: Nicholas Liby)

Por definição, suicídio é todo ato de autodestruição e realização do desejo de tirar a própria vida. Segundo dados do mesmo relatório da OMS, é a segunda maior causa de mortes entre pessoas de 15 a 29 anos, em sua maioria, do sexo masculino. O Brasil está em oitavo lugar no ranking de países com maiores índices de suicídio no mundo.

Pode-se estabelecer relação entre estes índices alarmantes e uma divulgação problemática do quadro. A veiculação escassa de informações sobre o tema não conscientiza, não o desmistifica para a sociedade. Para o médico psiquiatra Neury José Botega, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp, se considerarmos que na maioria dos casos de suicídio um transtorno mental estava presente, “é inegável que a prevenção [do suicídio] deve ser encampada como uma luta na área da saúde”. Ou seja, é importante que o tema tenha visibilidade para que exista prevenção, assim como quaisquer outros casos de saúde pública que assolam o país, como por exemplo AIDS, dengue, câncer de mama, Zyka vírus, entre outros. “Infelizmente, pouco se faz a respeito no Brasil”, completa o psiquiatra.

No entanto, o suicídio difere-se dos casos anteriormente lembrados por estar ligado a uma instância psicológica, que não diz respeito somente a meras condições fisiológicas do organismo. Desta forma, há uma ideia de que falar sobre o assunto através dos meios de comunicação pode incentivar pessoas que têm predisposição a realizarem tal ato.

Botega diz que “em tese isso é possível, se reportagens forem feitas sem os devidos cuidados e sem sensibilidade; mas uma boa reportagem, ao contrário, auxilia pessoas que sofrem emocionalmente e pode ajudá-las a buscar e conseguir ajuda especializada”. Se calar acaba sendo uma forma de negligenciar esse problema que, na maioria das vezes, poderia ser evitado. Adriana Rizzo, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV), organização que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio, alerta sobre a importância de se divulgar o assunto. “Existe muito tabu a respeito do tema e desconhecimento pela maioria dos jornalistas sobre a forma de como noticiar o suicídio. Muitos ainda consideram que falarmos sobre o suicídio pode desencadear mais mortes, o que acreditamos [no CVV] não ser verdade se o assunto for tratado com a devida seriedade”. Segundo Rizzo, 80% dos casos poderiam ser evitados se todos procurassem ajuda ou alguém para conversar sobre o problema.

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A OMS, diante de tantos casos, publicou em 2000 um manual de como os jornalistas devem se portar diante da produção de notícias sobre suicídio. Nele, uma das orientações mais importantes é o fato de que noticiar de forma apropriada, útil e cuidadosa pode prevenir perdas de trágicas vida.

Para Botega, que pesquisa o tema suicídio e sua relação com a mídia, os principais cuidados que se deve ter na hora de noticiar fatos relacionados ao assunto consistem em não romantizar o acontecimento. “Não transformar pessoas que se matam em heróis, mas procurar focalizar o seu sofrimento. Se havia uma doença mental, dar quadro com sintomas e sinais, locais onde obter ajuda. Também deve-se evitar reportagens, fotos ou chamadas sensacionalistas, primeira página, ou mesmo dar detalhes do método utilizado no suicídio”, explica.

Apesar da abstenção da mídia em relação à temática, o combate ao suicídio ganhou uma campanha própria, o Setembro Amarelo. Semelhantemente a campanhas mais famosas, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, trata-se de um movimento mundial que visa a conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio, que é idealizado pela OMS e pela Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP, em inglês). O movimento começou a ter destaque no Brasil no ano passado, através de algumas ações realizadas pelo CCV e pela Associação Brasileira de Psquiatria (ABP), durante a semana do dia 10 de setembro – Dia Internacional da Prevenção ao Suicídio. Segundo Rizzo, para a campanha pretende-se iluminar grandes símbolos das principais cidades brasileiras com a cor amarela, além de “planejar ações que chamem a atenção da sociedade para a questão do suicídio como um problema de saúde pública, que deve ser visto e pode ser evitado”. A voluntária diz ainda que, neste ano, a mobilização pretende atingir um público maior e que os envolvidos contam com a colaboração da imprensa para a divulgação.

Serviço

O CVV presta atendimento voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Atende pelos número 144 (24h) e 188 (gratuito para o Rio Grande do Sul), pessoalmente (nos 72 postos de atendimento) ou pelo site via chat, VoIP (Skype) e e-mail.

Reportagem: Tatiana Olivetto

Produção Multimídia: Daniela Leite

Edição: Ingrid Woigt

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