Tecnologia aproxima os que estão distantes, mas também pode afastar os que estão próximos

No Brasil, a quantidade de telefones celulares já é maior do que o número total de habitantes, e em alguns países o celular já se tornou a primeira tela. A questão é: como essa realidade está afetando as relações humanas dos que possuem o celular? Para Fabiana Grieco, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, “é delicado afirmar que as novas tecnologias afetam positiva ou negativamente as relações interpessoais; podemos dizer que o uso dos smartphones possibilita diferentes formas de interação”, afirma.

João Galdino aproveita o smartphone para manter contato com os familiares que estão distantes (Imagem: Rafaela Nogueira)

João Galdino, 20, é estudante de Letras-tradutor na Universidade do Sagrado Coração e mantém contato com a família que mora em outra cidade por meio das tecnologias (WhatsApp, Skype, Messenger, entre outros). “[Esse] contato passa a sensação de amenizar a distância, pois é frequente e podemos contar tudo o que está acontecendo em tempo real, amenizando a saudade”, afirma o garoto. Já Virna Vergara, 24, chilena que esteve em intercâmbio acadêmico no Brasil no final do ano passado e início deste ano, conta que conversava bastante por meio dos aplicativos instantâneos com sua família, com exceção de seu pai, que não possuía um smartphone. “Com meu pai era mais difícil, tínhamos que falar por meio de chamadas internacionais, o que era bastante caro. Assim, acabávamos conversando pouco [por telefone] e enviávamos mais e-mails”, diz a estudante. Para ela, fazer intercâmbio sem a opção do contato por meio da internet seria uma experiência mais difícil, mas tão boa quanto. “[Nós intercambistas] sentiríamos mais falta de nossas famílias e amigos ao não saber constantemente como estão, acho que até voltaríamos a escrever cartas e enviar cartões postais. Agora me parece inimaginável não ter internet, mas creio que nos acostumaríamos a essa distância maior”, afirma. As relações interpessoais têm se reconfigurado conforme os avanços da tecnologia. As pessoas se adaptam ao que é novo, e não só os jovens como também os adultos, apesar de terem mais dificuldades. “Faz mais sentido falar em desenvolvimento de novas competências e habilidades. O que temos observado é essa mudança no comportamento da população conectada”, conclui a doutoranda Grieco.

A conexão constante deve ficar sob atenção para não prejudicar relacionamentos (Imagem: Rafaela Nogueira)

Por outro lado, João também acredita que o celular vem afastando bastante as pessoas, pois “muitas o utilizam enquanto deveriam interagir pessoalmente”, relata. Fabiana pontua que “nota-se uma aproximação e, ao mesmo tempo, um afastamento das pessoas que se relacionam através das mídias sociais. Nesse sentido, há quem diga que a internet aproxima quem está distante e distancia quem está próximo”, afirma.

A questão passa a ser como utilizar a internet de modo saudável, sem prejudicar as relações com os que estão à sua volta e utilizando suas facilidades para acrescentar, e não para prejudicar. Virna confessa que tem o costume de usar o celular quando está com seus amigos, mas tenta evitar. “Não é tão agradável estar com alguém e a pessoa prestar mais atenção ao celular que a você”, diz a garota. João também tem procurado fazer um melhor uso do aparelho. “Às vezes, uso o celular na presença de amigos, mas sei o momento certo para isso. Quando saímos, procuramos proibir o uso do celular para melhor aproveitarmos o momento”, relata.

A doutoranda Fabiana ressalta que é inegável que a internet tem modificado a questão da autoria e da legitimidade de quem fala e quando se amplia a possibilidade de participação nas redes, também se amplia a oportunidade de diálogo, do poder de fala. “Nesse sentido, fazer um bom uso da tecnologia tem a ver com a possibilidade de uma leitura crítica dos conteúdos acessados, uma análise pautada no levantamento de informações advindas de diferentes fontes e uma atuação mais consciente de seu papel como ator em rede”, conclui Grieco.

Reportagem: Rafaela Nogueira

Produção multimídia: Laiza Castanhari

Edição: Bruna Malvar