Transmitindo o gosto pelo futebol
O que temos como herança no futebol? Nessa breve contextualização, entenda um pouco a relação do Militarismo e do Rádio na construção da memória futebolística brasileira.
“(…) poucos relatos são mais fascinantes do que a prática inaugurada pelo 1º Batalhão do 18º Regimento de Londres, servindo em Loos, em 1915. Ninguém sabe ao certo de quem partiu a ideia, mas esta consistia em atacar os alemães a partir de uma bola chutada em direção à trincheira inimiga. A prática, apesar de arriscada, parecia magnetizar os soldados e logo os relatos se multiplicaram”.
(Trecho do livro “Vencer ou Morrer – Futebol, Geopolítica e Identidade Nacional”, de Gilberto Agostino)
Foi na batalha de Somme, em 1916, durante a 1º Guerra Mundial, que a ofensiva ficou registrada, acionada pelo capitão W. P. Nevill. A trincheira alemã tornou-se o gol, e a guerra, um jogo. No Brasil um exemplo da relação entre futebol e militarismo se dá durante o período da Ditadura Militar, na qual a Seleção Brasileira era o instrumento de propaganda política e popularização do regime militar.
Anteriormente, na Era Vargas, em 1930, o futebol também foi usado como arma política. Em 1933 o esporte vira profissão, posteriormente sindicalizada, o que diminuía – mesmo que aparentemente – o controle da elite sobre a prática e aproximava a população do sentimento de pertencimento à uma nação brasileira. Todos esses “benefícios” iam diretamente ao encontro dos interesses de cunho populista de Getúlio e de controle do futebol pelo Estado.
“OLHA LÁ, OLHA LÁ, NO PLACAAAAARR!”
Foi no ano de 1938 a primeira partida de futebol transmitida pelo rádio no Brasil, irradiada por Gangliano Neto. O historiador e professor aposentado da Unesp João Tidei de Lima conta que após a parada do futebol em consequência da Primeira Guerra Mundial, o Brasil, já entrando para a Era Industrial e assumindo o patrocínio do Mundial, constrói o Estádio do Maracanã. Dez por cento da população do Rio de Janeiro assistia a final com o Uruguai.
“Era a melhor geração de futebolistas que já tivemos em nossa história”, relembra Tidei, citando Pelé, Nilton Santos, Didi e Djalma Santos na Copa de 1958, na Suécia, na qual o Brasil ganhou seu primeiro título. Quase pela mesma geração e com a ajuda da estrela Garrincha o Brasil conquista sua segunda taça, em 1962, no Chile.
É nesse ano que a transmissão de imagens chega ao Brasil, mas mesmo assim não diretamente, e sim por meio dos videotapes, transportados para o país. Só em 1966, na Copa da Inglaterra, que as transmissões passaram a ser diretas. Antes disso, quem produzia o imaginário futebolístico brasileiro era o rádio.
Pela “especificidade, agilidade e perenidade”, como caracteriza Tidei, o rádio foi um grande influenciador no futebol, não só dando acessibilidade às partidas mas também como transmissor de uma afetividade pelo esporte. Na Copa de 1958, por exemplo, a audiência nas transmissões chegou ao alcance de 70% do país. Mesmo assim, a tecnologia da época limitava a comunicação com o Brasil nos eventos. O historiador comenta sobre as dificuldades enfrentadas pelos profissionais nas transmissões.
A frase vibrante do subtítulo acima é do narrador de futebol Geraldo José de Almeida. Você não está lá para “olhar o placar”, mas e daí? A “mágica” na transmissão de jogos de futebol pelo rádio está possivelmente na desenvoltura do locutor de fazer você ver, ouvindo. De fazer sentir, só ouvindo. A emoção, fruto desse único sentido, provoca quem torce. E torna o futebol, nesse efeito, um gosto contagiante.
Reportagem: Maria Tebet
Produção Multimídia: Wagner Alves
Edição: Marcela Busch
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