Do íntimo ao banal
De frases sem sentido a desenhos sentimentais: a tatuagem se espalhou e atingiu novas formas de se expressar
Gabriel de Castro
Para Marcelo, seu círculo de amizades é muito influenciado pelas suas tattoos (Foto: Maria Tebet)
Valor, arte e beleza. Quem tem tatuagem atribui a ela significados definitivamente diferentes daqueles que parte da sociedade enxerga. Enquanto os adeptos das tattoos veem nelas uma forma de se expressar, outros, principalmente idosos, enxergam-as de forma negativa.
Ninguém nega o símbolo de rebeldia que a tatuagem representa, pois seu passado está diretamente ligado à crítica a valores impostos e a desobediência. Porém, atualmente, a pele se tornou alvo preferido desses “adornos”, tenham valor sentimental ou não.
“Uma tatuagem bonita, em um mundo frenético e rápido, às vezes em uma fila de banco, pode mudar seu interior, levantar seu humor na hora”, diz Marcelo Paro, tatuador profissional, em Bauru, desde 1996, “uma tattoo que tem significado já muda seu astral, emana energia positiva para as pessoas”. É positividade, como ele sugere, uma espécie de amor verdadeiro.
Marcelo vai além do gosto pelas inscrições na pele.Para ele, as tatuagens, infelizmente, se tornaram moda. Cabe ao tatuador saber escolher qual tatuagem fazer, não colocando o dinheiro em primeiro plano, mas sim sua própria arte.
“Tem que ser autêntico. Você só coloca no seu corpo coisas que tem expressão. Que você entende, que já viveu, ou que gostaria de viver. Mas que seja verdadeiro. Não é o que a capa do Google te sugere. Nossa vida não é um catálogo. A gente que vai atrás das nossas escolhas”, acrescenta.
“Quando você escolhe uma é porque ela tem muito a ver com você”
Johnny Tattoo, como é conhecido, é antigo no universo das tatuagens. Iniciou sua carreira antes da década de 80. Na época, já desenhista, começou a aprender em São Paulo a arte de tatuar. O material produzido no Brasil tinha pouca variedade, por isso começou a vir de fora em meados dos anos1980, garantindo uma variedade de pigmentos.
Atualmente,após mais de 30 anos vivendo de tatuagem, Johnny vê um público muito diferente de antes. “Hoje mudou muito. Está na mídia, meu. Antigamente, você ia assistir a um filme e quem tinha tatuagem era o bandido. Hoje, é o mocinho”, diz ele.
Se as tattoos viraram moda? Talvez. Mas uma moda que não se põe na gaveta. Diferente de uma roupa, que você pode tirar se cansar, a tatuagem vai estar sempre com você, e é daí que vem a alta carga de significado que que ela tem: “Eu vejo a tattoo como uma expressão íntima da pessoa. Quando você escolhe uma, é porque ela tem muito a ver com você”.
Busca pelo novo
Angelita Prado vê na tatuagem mais que significados de desenho. A esteticista analisa as inscrições corporais a partir da descoberta e valorização do corpo, principalmente das mulheres.
“O fato de você escolher o lugar, de você pensar ‘aqui eu vou ficar mais feminina’, faz com que você se sinta mais bonita”, ela conta. “A minha fênix, por exemplo, fez com que eu usasse shorts. Antes eu não usava, achava minha perna muito grossa e não gostava”.
Ao mesmo tempo, ela acha que cada tattoo tem sua unicidade. Por mais que muita gente tenha um desenho parecido, o que você tem é seu, foi feito exclusivamente para você. Isso, segundo ela, ajuda na melhora da autoestima da mulher: “Cada uma que você faz é uma sensação diferente”.
“Eu acho que as mulheres tem isso em relação às tattoos. É uma busca constante pelo diferente, pelo novo e pela melhora da autoestima, para se olhar no espelho e se sentir bem”, acrescenta. “Para mim, a tatuagem é um estilo de vida. Muita gente acha que é acessório, mas não entendem que não é como um brinco, que você troca. É para sempre”.
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