Browse By

Do som litúrgico ao secular: o poder identitário por trás da música

Partindo do pressuposto de que a música é inerente à vida humana, é de se esperar que ela seja um elemento essencial na construção da identidade, moldando o pensamento, o corte de cabelo, as roupas, grupos sociais e várias outras faces da vida de uma  pessoa.

No aspecto religioso há influência da música e a união das duas é milenar. O som dos batuques nas religiões indígenas e africanas é característico, assim como as flautas nos templos japoneses, os pianos e as harpas na igreja católica, e os cânticos, que estão presentes em inúmeras manifestações religiosas ao redor do globo. Cada religião tem uma música característica, que é tocada de um jeito por algum motivo específico e incentiva o grupo a agir de uma determinada forma.

Dentro dos templos

Na Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, a música é utilizada para iniciar o fiel na religião. Uma fonte que não quis ser identificada diz que o fiel que acabou de chegar na Igreja ainda não conhece as orações, os textos e que a música é a maneira mais eficiente de fazer um primeiro contato, que se aprofunda posteriormente.

Quando questionada sob uma perspectiva mais particular, a fonte disse que em sua vida pessoal a música sempre foi muito importante em momentos de aflição. “Quando as coisas estavam ruins, eu parava e pensava nas músicas que ouvia na igreja, assim conseguia me acalmar”.

Parece intuitivo pensar que a música tem um contato direto com a subjetividade de cada um, sendo, portanto, repleta de sentimentos. Para os fiéis da Universal a história é outra: lá eles ouvem música só com o cérebro, não podem se deixar levar pela emoção. “Se eu tivesse me deixado levar pela emoção em alguns momentos da minha vida pessoal, não teria evoluido, não estaria aqui”, conta.

Música e outras manifestações religiosas (fontes: Sophia Andreazza e Wagner Luig arte: Maria Tebet)

Já na umbanda, a perspectiva é completamente diferente: lá eles trabalham com a transmissão de energia. O ogã, líder dos trabalhos em um terreiro (escolhido para ficar lúcido em todas as cerimônias, ele não entra em transe mas tem uma alta intuição espiritual), é responsável pela captação das energias em trânsito e, a partir dessa leitura, toca uma ou outra batida, sendo que cada uma delas está relacionada a um orixá. “Dentro de um terreiro, os ogãs são escolhidos pelo astral como representantes da musicalidade”, diz Luizão Ogã, que é ogã há trinta anos.

Nessa ocasião, as músicas nunca são ensaiadas ou combinadas, e sim consequência direta da troca de energia que acontece no momento. “Não é nada aleatório e não é nada combinado, tudo vem através de uma intuição, existe uma influência, ‘vá por aqui, não vá por ali’, a gente é conduzido dessa forma e sempra dá certo, tudo acaba em harmonia”, afirma Luizão.

Fora das cerimônias religiosas e num âmbito mais pessoal, a música também tem um papel determinante por ser a expressão de uma subjetividade diretamente para outra. Veja aqui algumas relações com a música fora do ambiente religioso.

Colaboração: Julia Germano Travieso e Vanessa Souza

2 thoughts on “Do som litúrgico ao secular: o poder identitário por trás da música”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *