Do som litúrgico ao secular: o poder identitário por trás da música
Partindo do pressuposto de que a música é inerente à vida humana, é de se esperar que ela seja um elemento essencial na construção da identidade, moldando o pensamento, o corte de cabelo, as roupas, grupos sociais e várias outras faces da vida de uma pessoa.
No aspecto religioso há influência da música e a união das duas é milenar. O som dos batuques nas religiões indígenas e africanas é característico, assim como as flautas nos templos japoneses, os pianos e as harpas na igreja católica, e os cânticos, que estão presentes em inúmeras manifestações religiosas ao redor do globo. Cada religião tem uma música característica, que é tocada de um jeito por algum motivo específico e incentiva o grupo a agir de uma determinada forma.
Dentro dos templos
Na Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, a música é utilizada para iniciar o fiel na religião. Uma fonte que não quis ser identificada diz que o fiel que acabou de chegar na Igreja ainda não conhece as orações, os textos e que a música é a maneira mais eficiente de fazer um primeiro contato, que se aprofunda posteriormente.
Quando questionada sob uma perspectiva mais particular, a fonte disse que em sua vida pessoal a música sempre foi muito importante em momentos de aflição. “Quando as coisas estavam ruins, eu parava e pensava nas músicas que ouvia na igreja, assim conseguia me acalmar”.
Parece intuitivo pensar que a música tem um contato direto com a subjetividade de cada um, sendo, portanto, repleta de sentimentos. Para os fiéis da Universal a história é outra: lá eles ouvem música só com o cérebro, não podem se deixar levar pela emoção. “Se eu tivesse me deixado levar pela emoção em alguns momentos da minha vida pessoal, não teria evoluido, não estaria aqui”, conta.
Já na umbanda, a perspectiva é completamente diferente: lá eles trabalham com a transmissão de energia. O ogã, líder dos trabalhos em um terreiro (escolhido para ficar lúcido em todas as cerimônias, ele não entra em transe mas tem uma alta intuição espiritual), é responsável pela captação das energias em trânsito e, a partir dessa leitura, toca uma ou outra batida, sendo que cada uma delas está relacionada a um orixá. “Dentro de um terreiro, os ogãs são escolhidos pelo astral como representantes da musicalidade”, diz Luizão Ogã, que é ogã há trinta anos.
Nessa ocasião, as músicas nunca são ensaiadas ou combinadas, e sim consequência direta da troca de energia que acontece no momento. “Não é nada aleatório e não é nada combinado, tudo vem através de uma intuição, existe uma influência, ‘vá por aqui, não vá por ali’, a gente é conduzido dessa forma e sempra dá certo, tudo acaba em harmonia”, afirma Luizão.
Fora das cerimônias religiosas e num âmbito mais pessoal, a música também tem um papel determinante por ser a expressão de uma subjetividade diretamente para outra. Veja aqui algumas relações com a música fora do ambiente religioso.
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