Somos acostumados, desde sempre, a entender música como um conjunto de sons ritmados produzidos por instrumentos, combinados de forma harmoniosa, acompanhados ou não por uma letra. Mas será que é só isso?
O que faz a música é a musicalidade, e, se a musicalidade precisa do ritmo e da harmonia, tudo pode ser música. O choro de um bebê, o agudo e estridente som da britadeira nas construções de grandes centros urbanos, as buzinas de carro que compõem uma orquestra ordenada na desorganização, o canto dos pássaros e o som das cigarras, o fluxo de automóveis em uma estrada: tudo é som, tudo é harmonia, tudo é música.
Dessa forma, o cotidiano do trabalhador que todos os dias acorda à mesma hora para pegar o mesmo ônibus para o mesmo local de trabalho para desenvolver as mesmas atividades também compõe um ritmo. Dessa forma, a planta – que nasce da semente, cresce, floresce e morre, mas que antes de morrer espalha novas sementes, de onde surgirão novas plantas (ufa!) – também, neste ciclo da vida, é um ritmo, e é, então, música.
Esta edição do Repórter Unesp se propõe a mostrar a música que existe fora das estações de rádio, fora dos players que carregamos por aí junto aos fones de ouvido, que são hoje em dia parte inseparável da anatomia de grande parte da população mundial. A música é muito mais que isso e está em muito mais lugares que isso.
Nas nossas reportagens, você verá que a nossa rotina também é música, que a natureza também é música, que o silêncio – por que não? – pode ser tão musical quanto uma banda de rock’n roll ou uma roda de samba. Também vamos mostrar que, além de tudo, a identidade de um povo, a representação de uma região ou um grupo, é também presente na música. Afinal, não são o hip hop, rastafári, cânticos religiosos, rock, samba, funk, blues, jazz e tantas outras vertentes musicais o retrato de um povo, de um grupo, de uma sociedade, de uma vida? Identidade também é música. Aliás, tudo é música.
Felipe Altarugio
NESTA EDIÇÃO:
Crônica: A fluidez do cotidiano
A música secular na construção de identidades
Do som litúrgico ao secular: o poder identitário por trás da música
Silêncio que quebra barreiras do som
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