Ligando os Pontos de Cultura à internet
A música toca em um aparelho de som portátil, cercado por várias pessoas ouvindo as notas reverberarem pelas paredes brancas da sala. Do lado de fora, pinturas em grafite invadem o espaço aberto com cores e tons fortes, mostrando uma arte política feita em spray.
O cenário faz parte do Ponto de Cultura Acesso Hip Hop, localizado no centro de Bauru. Muito mais do o nome sugere, o local não apenas divulga a música Hip Hop, mas toda a arte que rodeia o movimento.
O Acesso Hip Hop é um dos dez Pontos de Cultura de Bauru que foram contemplados pelo edital de 2011. Os Pontos fazem parte do projeto Cultura Viva, do Ministério da Cultura do Brasil, lançado em 2009.
Você sabe o que são os Pontos de Cultura?
“O Ponto de Cultura Acesso Hip Hop é um braço do Instituto Acesso Cultural, uma ONG fundada em 2006, onde a ideia é trabalhar com cultura, educação e formação política. Em 2011, abriram os editais do Ministério da Cultura (MinC), dos Pontos de Cultura, mandamos o projeto e fomos contemplados em abril do mesmo ano”, comenta Renato Magú, coordenador técnico do Acesso.
O objetivo do projeto é subsidiar ações do movimento cultural. Por isso, conta com estúdios para a gravação de músicas e clipes, além da produção de documentários. “Fazemos vários eventos pra desenvolver ações, que, além de promover o Hip Hop, criam um espaço para que os militantes do movimento consigam mostrar a sua arte”, diz Magú.
[metaslider id=930][metaslider id=930]
Segundo o Diretor da Divisão de Ensino às Artes, Nilson Batista Junior, os Pontos de Bauru possuem grande diversidade (apenas dois têm o mesmo foco) e contribuem para levar novas identidades culturais para bairros da periferia. O Presidente do Ponto de Cultura Instituto Cultural Aruanda (ICA), Rodrigo Queiroz, concorda que “quando chega o incentivo dos Pontos de Cultura para a cidade, há o aumento do potencial das comunidades, que divulgam seus trabalhos, criando uma maior repercussão”.
É na rede que se ligam os Pontos
Além de incentivar práticas culturais, existem os chamados Pontões de Cultura, que atuam na gestão e apoio dos Pontos de Cultura de uma região. Esses tipos específicos de Pontos também disseminam o uso e desenvolvimento de softwares livres, produzindo conteúdo em mídia livre e propagando uma nova cultura: a digital.
“A cultura digital traz uma bagagem que potencializa a produção de conteúdo, o seu barateamento e estimula a criação de novos espaços como alternativa de divulgação”, aponta o midialivrista Artur Faleiros.
Não é preciso ser um dos Pontões de Cultura para utilizar a internet como ferramenta de divulgação. Com mais de 1.470 curtidas no Facebook, o Acesso Hip Hop faz da internet a sua ligação com o público. Segundo Magú, foi através da internet que o Ponto teve “mais visibilidade nas ações. Mostramos nossos projetos via Facebook, via Youtube. Não precisamos que os outros falem da gente, nós mesmos podemos falar”. Faleiros concorda que, no caso do Hip Hop, “cada um desenvolve um trabalho, mas eles entendem a importância de estarem conectados em algum momento para conseguir uma maior visibilidade, ter público”.
Keytyane Medeiros, estudante de jornalismo, costuma frequentar os Pontos de Cultura de Bauru, em especial o Acesso Hip Hop. Atraída pelos shows, batalhas de MCs, cine-debates e discussões com a Frente Feminina de Hip Hop, Keytyane acredita que é por meio da internet que os eventos ganham impulso em suas divulgações. “O acesso quase que gratuito à internet faz com que a divulgação tenha um custo financeiro bastante baixo se comparado com a repercussão desses eventos realizados nos pontos de cultura em número de pessoas. Isso, na minha opinião, ajuda a manter os pontos de cultura, diminui gastos e potencializa os eventos”, conta.
O Ponto de Cultura ICA tem um forte trabalho na área digital. Além da divulgação nas redes sociais, o Instituto possui uma plataforma de ensino online, com palestras e cursos sobre a cultura afrodescendente. Com o incentivo do MinC na criação dos Pontos, houve um aperfeiçoamento das características estruturais do projeto, “sendo que estão todos voltados para as plataformas online e há um público muito forte de todo o Brasil, que visualiza o nosso trabalho através da tecnologia, dos canais online”, diz Rodrigo Queiroz.
A cultura digital de conteúdos – o que Artur Faleiros chama de autogestão de carreira -, segue a ideia de que “você tem uma relação direta com as redes sociais e começa a pensar não só a sua produção em pequena escala, mas a sua relação de encaixe com outros processos que estão acontecendo. A cultura digital nos projetos culturais é uma ressignificação da própria lógica do pensamento, como a gente se coloca diante da mensagem e tendo uma autonomia na hora de se apresentar. Usamos a nossa linguagem, a nossa identidade, uma comunicação direta”, diz.
Faleiros ainda discute a questão da identidade. Para ele, muito mais do que conectar pessoas, a internet tem o poder de definir características únicas de um determinado grupo cultural. Ouça o depoimento do midialivrista:
Reportagem: Nayara Kobori
Produção: Leonardo Zacarin
Edição: Mayara Abreu Mendes
One thought on “Ligando os Pontos de Cultura à internet”