O outro lado do mundo hacker
Quando ouvimos a denominação “hacker”, logo pensamos em um sujeito desonesto, disposto a gastar todo seu aprendizado e inteligência para cometer crimes virtuais e enriquecer. Apesar desse estereótipo existir, ele não é o único no mundo hacker.
Por definição, ‘hacker’ é um indivíduo de amplo conhecimento, que explora as tecnologias ao seu limite e se torna capaz de invadir, quebrar ou encontrar falhas de segurança em sistemas. Isso não significa, no entanto, que ele vai usar seus conhecimentos para prejudicar alguém ou alguma instituição.
Outro termo bastante utilizado, principalmente pela mídia, é o ‘cracker’, aquele que atua sem ética e fora da legalidade, usando seus conhecimentos de computação intrusiva para obter proveitos, geralmente financeiros. Os hackers ainda são classificados em ‘chapéus’ de diferentes cores: “Quanto mais escura a cor, menos ele se prende a conceitos morais e éticos propostos pela sociedade para atingir seu objetivo. Ou seja, quanto mais escuro for o chapéu, mais valerá a máxima ‘os fins justificam os meios'”, explica Felipe Avelar, bacharel em Ciências da Computação.
Apesar de existir diferentes noções sobre o que é certo ou errado na cibercultura, há uma ética hacker, em que o ponto chave é o livre acesso a informações e a melhoria da qualidade de tecnologia. No entanto, os procedimentos devem ser feitos dentro da lei. “Se falarmos da Microsoft, por exemplo, estaremos ultrapassando limites ao quebrar alguma parte de um código que não deveria ser revelada, ou explorarmos alguma parte do sistema que também não deveria ser quebrado. É essencial que estejamos bem cientes das barreiras e contratos que temos com as marcas e fabricantes. É uma questão de bom senso!”, afirma Carlos Rodrigues, administrador de redes e sistemas.
Como na vida fora das telas, existem punições para aqueles que não seguem o que é previsto e prejudicam terceiros. No Brasil, a lei 12.737/2012 – conhecida como Lei Carolina Dieckmann – entrou em vigor no ano passado, com o objetivo de prevenir crimes virtuais. “Com essa lei, invadir dispositivos como computador, smartphones e tablets de outra pessoa para obter informações sem autorização é crime, com pena de detenção de três meses a um ano”, explica o perito forense computacional Deivison Franco.
O hacker no mercado de trabalho
Afinal, o hacker pode atuar de forma positiva na sociedade? Com certeza! Aliás, essa categoria é extremamente responsável pela evolução computacional e pela atualização dos sistemas. “Graças a inúmeras lendas do hackerismo, conhecemos diversas falhas que poderiam causar grandes prejuízos. Os bancos brasileiros são os mais seguros do mundo, justamente porque os hackers daqui já roubaram tanto que foi preciso se especializar na segurança desses sistemas”, comenta Edson Borelli, formado em Sistemas da Informação.
Além disso, o hacker pode atuar em diferentes áreas no mercado de trabalho. Ele pode ser contratado por uma empresa para explorar possíveis falhas e vulnerabilidades do sistema, gerando relatórios de segurança e políticas internas implementadas pela administração. A Google, por exemplo, está com um concurso aberto oferecendo US$20 mil para quem conseguir quebrar a segurança do Google Chrome. “Cada vez mais vemos jovens hackers contratados por empresas famosas como Google, Facebook, Apple, Microsoft, etc”, afirma Carlos.
Outra área com espaço para hackers é a Computação Forense, uma área de pesquisas que busca investigar soluções para problemas relacionados à coleta, organização, classificação e análise de evidências digitais. A aplicação disso não é tão simples, já que encontrar uma evidência em um computador pode ser uma tarefa árdua.
Ser hacker não é uma tarefa fácil. Não só por todo o preconceito e distorção sobre o trabalho, mas também pela grande quantidade de conhecimento que o assunto envolve. Mas todos os especialistas consultados deram o mesmo conselho para quem deseja seguir esse caminho: estude, pesquise, tenha vontade e não canse de adquirir conhecimento!
Reportagem: Renan Fantinato
Produção Multimídia: Leonardo Zacarin
Edição: Mayara Abreu Mendes