Onde a hipnose, acupuntura e o chá de boldo se encontram
Acupuntura, hipnose, tratamentos caseiros. Quem são as pessoas que usam dessas técnicas? Conheça a história de pessoas que procuram nas terapias alternativas um caminho para a saúde.
¹ Clique aqui para conferir a entrevista com Cheng Wen Hua em vídeo interativo.
Joana dos Reis tem dois filhos e uma dificuldade. Moradora do Geisel, bairro periférico de Bauru, teve de matar o dia de serviço para levar o mais velho ao Hospital de Base no centro da cidade. Havia uma semana que o menino se queixava de uma tosse com sangue na qual um chá de boldo com mel aparentemente não surtia efeito. A suspeita era de pneumonia já avançada. Por que não viera antes? A resposta é honesta: “A gente tem que trabalhar. Aí não dá tempo de olhar. Achei que era bobaginha, que ia passar rápido, dava pra cuidar em casa”. Balançando ansiosamente a perna, aguarda o diagnóstico incerto do filho.
Nossa reportagem conheceu a história de pessoas que, como Joana, procuram nas terapias alternativas um caminho para a saúde, seja por motivos econômicos, culturais ou mesmo para complementar um tratamento tradicional.
Em mandarim
Os Cheng não escondem sua origem. Desde a decoração à vestimenta, o escritório familiar de terapias orientais é repleto de escritos e imagens que remetem à China. “É Taiwan”, corrige o patriarca Cheng Wen Hua¹, que prefere ser chamado apenas pelo primeiro nome.
Há 30 anos, Cheng estuda e pratica a acupuntura oriental, com que trata da maioria dos males de sua família e de seus clientes. Embora não fale bem o português, não é difícil entender sua paixão pelo tratamento milenar. Com a ajuda de Francisco², seu filho e tradutor, ele explica de onde vem isso. “É bonito, pois ela [acupuntura] não é ensinada em escolas. É passada de um mestre para seu discípulo. Um ensina, o outro aprende”.
Os clientes de Cheng são dos mais variados. Orientais ou não, independente de classe social, ele afirma: “tem de tudo por aqui”. Mas aponta um denominador comum: a indicação é seu melhor marketing. “Quando a medicina tradicional trabalha junto com a oriental, estamos no melhor caminho”, acredita o taiwanês.
Só de resfriado
Embora nunca tenha feito acupuntura, Mariana Lasak concorda com Cheng. Mãe há quase 10 anos, usa técnicas que aprendeu na família para aliviar dores. Porém, não exclui a ajuda médica. “Aprendi uma vez com meu pai que apertar a cabeça, assim, de cima para baixo, ajuda a diminuir a dor. Meu filho tem muita enxaqueca e uso isso para melhorar. Mas também levo ele no médico, não sou entendida pra tratar”, explica a faxineira, mostrando o movimento com a mão.
Mariana representa a mudança de gerações de sua família. Para ir ao hospital, precisa convencer o filho e a mãe. “Ela me diz que hoje tudo é pra correr pro médico. Que na época dela, cuidava das pessoas em casa. Acho que as coisas mudaram. Pra mim, cuido só de resfriado e olhe lá”, confessa.
“A gente tem que cobrar conforme as pessoas podem pagar”
Adriano Queiroz se considera um fisioterapeuta diferente. Trabalha com pilates, hidroterapia e outros tratamentos. Um deles o faz mais excêntrico: a hipnose. Queiroz, como geralmente é chamado, usa da técnica como complemento da fisioterapia, no combate à depressão, à baixa autoestima, entre outros motivos. No pensamento de “mente sã, corpo são”, diz que contribui para eficácia do tratamento físico. Há três anos, começou a estudar o tema, fazer cursos e tratar seus pacientes com hipnose. Mas apenas alguns. “É preciso confiar muito para deixar ser hipnotizado. Às vezes, é difícil convencer uma pessoa sem conhecimento de que eu não vou pegar alguma senha ou descobrir os segredos dela. Tem um preconceito grande aí”, afirma.
Apesar disso, já tratou de muita gente diferente, desde comerciantes a jogadores de futebol. “Uma vez, até tratei de um jogador de futebol antes de entrar para jogar uma final. Vem aqui gente rica, gente pobre, já veio de tudo”, conta.
Para poder atender pessoas como Joana, Queiroz é enfático: “é preciso adequar o valor ao meio em que vivem”. Para o fisioterapeuta diferente, cada paciente é um universo novo, de passado novo e de ideias novas. Por isso, negocia cada tratamento de forma individual.
No final, tudo se acerta
Quarenta minutos depois que chegou, Joana sai da sala do médico com várias certezas. Era sim pneumonia. O menino teria então de tomar uma série de comprimidos, mas ficaria bem. E quanto ao remédio caseiro? “O doutor disse que o mel é bom pra garganta. Mas o chá só dá de noite, pra ajudar a dormir se tiver tosse. Acabou que deu tudo certo”. No final, Joana, vai tratar do filho em casa.
² Francisco se chama originalmente Cheng Shang Te, porém adotou esse nome para facilitar o entendimento no Brasil.
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Reportagem: Wagner Alves
Produção Multimídia: Gabriel de Castro
Edição: João Vitor Reis