“Hoje eu vou batistar”
Há quem diga que os grandes centros das cidades são formados majoritariamente por comércios. Na cidade de Bauru, o quadro não é diferente. Entretanto, em meio a uma infinidade de lojas, existem outras atividades espalhadas mais discretamente pelas quinze quadras da Batista de Carvalho.
De acordo com o secretário de planejamento de Bauru, Paulo Ferrari, o Calçadão tem “uma importância econômica muito grande, por ser um ponto regional do comércio, que gera emprego e receita”. Mas não é só no quesito economia que a calçada enriquece Bauru. O Calçadão é também um enorme espaço público de lazer, onde as pessoas vão para comer ou apenas para dar uma caminhada entre os turnos de trabalho.
De acordo com o arquiteto da EMDURB (Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru), João Felipe Lança, isso se deve ao fato de o Calçadão ser “exclusivamente dos pedestres”, o que proporciona “um contato com a cidade”. Isso faz parte de um planejamento urbano de “cidade para as pessoas”, segundo João Felipe.
Dona Solange Meira vai ao Calçadão três vezes por semana porque, para ela, lugares como shopping centers são para gente jovem. Lá, ela encontra suas amigas, Maria Aparecida Lucas e Ana Diva Deronzi, que estão na Batista todos os dias da semana. As três encontram outros amigos de longa data pelos quarteirões e logo sentam-se em um dos bancos espalhados pelo Calçadão. Conversam, tomam um sorvete, dão boas risadas e, antes de anoitecer, vão embora. Igual a essas três senhoras, outras tantas pessoas vão ao Centro para “batistar”: caminhar, conversar, rever conhecidos, tomar um café e, claro, fazer compras.
Vida de dia, vazio à noite
Assim como as senhoras, todos vão embora assim que a noite começa a surgir. A vida nas calçadas só existe enquanto o Sol está lá e, por isso, o Centro acaba ganhando o aspecto perigoso no período noturno. A ideia, então, não é de revitalizar o centro – já que existe vida na região -, mas sim, “readequá-lo em alguns pontos”, conforme explica o arquiteto João Felipe. “Não adianta colocar uma calçada bonita e arborizar se o centro não tiver vida durante todo o tempo”, completa.
O incentivo ao comércio noturno e à moradia na região central promoveriam uma mudança de perfil na sociedade bauruense, uma vez que movimentaria locais já conhecidos pela população em mais um período do dia. “A partir desse ponto, você vai traçando outras atividades de infra-estrutura, como adequar o passeio público, arborizar e manter características históricas”, argumenta João Felipe.
Outros espaços públicos de lazer em Bauru
De acordo com Paulo, um espaço público em Bauru é “onde as pessoas vão e se divertem, ficam no tempo livre, podem realizar atividades esportivas e culturais, passar o tempo”. Além disso, é também um ponto para interação social fora das paredes domiciliares.
A prefeitura, conforme consta em lei, visa instaurar ao menos um espaço público de lazer em cada bairro da cidade. Para isso, as secretarias de Bauru se dividem para implementar atividades físicas, sociais e culturais em diversos lugares e com vieses diferentes – como espaço para idosos, centros de leitura e eventos promovidos pela própria prefeitura.
João Felipe acredita que muitas áreas de lazer da área urbana “acabaram virando espaços ociosos” e que “poderiam ser melhor utilizados”. Cidades do porte de Bauru acabam por ter um contraste social muito grande e, por conta disso, a região central acaba virando muito mais comercial ou de serviços e regiões mais abastadas têm seus espaços públicos preteridos aos privados. Sendo assim, as regiões periféricas acabam por ter maior concentração de espaços de lazer ativos.
Reportagem: Mayara Abreu Mendes
Produção Multimídia: Felipe García
Edição: Carolina Ito