Sobre etimologia e digitalização
Comentário referente à edição número 5 – Terapias Alternativas
O jornalista deve ser atento a diversas coisas, se não a tudo. É uma tarefa bastante ingrata – devido à dificuldade em empenhá-la – se policiar constantemente sobre o que acontece ao seu redor, o que é notícia em potencial, o que vai se transformar de fato em notícia e como vai ser transmitida essa notícia.
Surge, então, uma preocupação constantemente subestimada e esquecida com a codificação da linguagem do jornalismo, no que diz respeito à escolha das palavras na hora de escrever ou contar uma história. Eventualmente, cometemos deslizes etimológicos e semânticos que podem provocar ambiguidades e/ou incoerências lógicas. Em casos mais graves, e felizmente mais raros, tais deslizes podem sugerir uma falta de conhecimento ou um preconceito com determinado objeto.
Na quinta edição do Repórter Unesp, que tinha como tema “Terapias Alternativas”, houve um pequeno deslize etimológico que, apesar de pequeno, merece um pouco de atenção. Nesse aspecto, a escolha da palavra “bizarro” para definir alguns exemplos de terapias traz à tona uma importante discussão sobre a utilização desse termo.
“Bizarro”, palavra utilizada para caracterizar um ser extravagante e estranho, já integra o repertório popular com um sentido que, geralmente, tende a um aspecto negativo da palavra “estranho”. Quando se deparam com a palavra bizarro, as pessoas já esperam encontrar algo totalmente incompreensível e fora do comum, criando, incoscientemente, uma certa ressalva em relação àquilo que é descrito como bizarro.
Em uma edição que tinha como proposta editorial mostrar aos leitores que a terapia alternativa pode ser tão eficaz no tratamento de doenças e distúrbios psicológicos e físicos quanto a medicina tradicional, a mudança da palavra “alternativa” para “bizarra” é um tanto quanto brusca e causa, sim, um certo estranhamento. “Bizarro”, às vezes, é uma palavra um pouco forte e sua escolha pode, em certa instância, ir de encontro à hipótese defendida pela pauta.
Talvez, descrever essas terapias como “alternativas” ou ainda “excêntricas” fosse causar uma melhor impressão e uma maior coerência de significação com a proposta da edição.
Jornalismo na era digital
Custaram à humanidade alguns milênios para que conseguíssemos desenvolver o software do Windows 95, mas, em apenas vinte anos desde então, já alcançamos uma tecnologia 4G. Isso mostra que o desenvolvimento tecnológico é não apenas evidente, como também exponencial.
Um dos grandes desafios do jornalista na chamada e tão falada “era digital” é adaptar os conteúdos de suas produções às novas plataformas. Essa necessidade decorre não de um preciosismo de formatos ou de uma vaidade, mas sim da nova necessidade de tornar o conteúdo interessante ao público que consome informação em plataformas digitais. Uma evolução tão rápida implica uma mudança na forma das pessoas perceberem e interagirem com o mundo.
Dessa forma, elaborar um conteúdo online é um constante desafio imposto à equipe do Repórter Unesp. Na já comentada quinta edição, que foi ao ar há duas semanas, é notável a evolução do conetúdo multimidiático em relação às primeiras publicações. A elaboração de mais infográficos e de um vídeo interativo se aproxima muito do modelo considerado ideal para o webjornalismo.
Felipe Altarugio