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Amadorismo 1 X Negócio 0

O futebol brasileiro começou por paixão. Não tanto pela prática em si, mas para demarcar sua própria identidade: criar (e participar de) um clube era uma maneira de reunir pessoas com interesses em comum para se conhecer, se exercitar, se divertir. O futebol só se tornou modalidade esportiva organizada em 1979, com a criação da CBF – anos e anos depois de momentos importantes como a construção do Maracanã, das seleções emblemáticas dos anos 50 e 60 e de grandes campeonatos entre os times daqui.

A oficialização pode ter significado profissionalização, mas não mercantilização. Apesar de terem surgido nos modelos europeus, os clubes brasileiros não seguiram o mesmo caminho. A paixão ainda os mantém, de certa forma, amadores: a gestão dos negócios é complicada, com marcas e grandes empresários envolvendo-se em competições antes dominadas pelos atletas federados.

Para José Carlos Marques, pesquisador em comunicação esportiva e futebol, poucos clubes conseguem lutar contra o imediatismo brasileiro e criar um planejamento orgânico. Há alguns casos bem sucedidos, mas que misturam tradição e tendências comerciais. “O Corinthians manteve sua identidade como clube e como time de futebol, e recentemente conseguiu profissionalizar seu departamento de marketing. A vinda do Ronaldo Fenômeno, por exemplo, foi bastante criticada, mas trouxe uma carga simbólica muito importante para eles. Já o São Paulo foi o grande modelo de gestão esportiva nos anos 80 e 90. Os presidentes eram empresários de sucesso, que tinham experiência no mercado e que conseguiam gerir o clube como uma empresa – em situações como locar o Morumbi para espetáculos musicais, por exemplo”, explica.

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Desigualdade ou amadorismo?

O Brasil possui, hoje, cerca de 13 mil times e 500 clubes profissionais de futebol – números muito diferentes das poucas dezenas que detém os espetáculos televisivos e as grandes cifras. Para Paulo Roberto Trombini Amaral, técnico de futebol da Unesp Bauru, as principais dificuldades dos clubes menores são o orçamento e o calendário. “Muitos desses clubes tentam oferecer contratos de um ano para os atletas, mas os campeonatos duram apenas quatro ou cinco meses. Além disso, os patrocínios geralmente só são dados em competições de maior expressão, o que dificulta sua situação financeira”, comenta.

Quem trabalha nos bastidores também enfrenta o amadorismo, mesmo que em times profissionais. Embora o Brasil seja referência internacional em preparação física e fisiologia, em alguns clubes do interior não há departamento médico ou nutricionistas para acompanhar os atletas. “Já apitei jogos em que a Federação Paulista exigia um médico no banco de suplentes, ou então em que o médico do outro time se responsabilizava em atender o adversário em caso de acidente. E tudo isso no estado de São Paulo, que é o mais rico da Federação”, comenta José Carlos, que também já foi árbitro de futebol.

A desigualdade se reflete, inclusive, no comércio de produtos dos times e nos ingressos. Embora seja possível comprar uma camisa licenciada, idêntica a do seu jogador favorito, por uma pequena fortuna, o mercado informal encontra espaço para oferecer não só camisetas diversas, mas também copos, chaveiros, roupinhas de bebê, artefatos esportivos… Curiosamente, os únicos itens não pirateados são as camisas das torcidas organizadas. “Parece que eles conseguem unir a paixão a um modelo de negócio muito efetivo. O trabalho de vigilância e fiscalização contra camisas falsificadas é assombroso”, pontua José Carlos.

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Reportagem: Amanda Tavares

Produção: Rodrigo Rosa

Edição: João Ernesto Beltrão

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