Museu do Futebol, memória e Copa do Mundo
O Museu do Futebol, uma instituição da Secretaria de Estado da Cultura, está localizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, e é um dos principais contadores da história do futebol no país. Recentemente, inaugurou o Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), o primeiro centro de referência brasileiro sobre futebol.
“Memórias das Copas do Mundo” é o tema central do mês de maio no Museu do Futebol. E uma das pessoas que mantém a memória viva na produção das exposições do museu é Aira Bonfim. Originalmente de Campinas, ela é bacharel e licenciada em Artes Visuais pela Unicamp, especializada em Linguagens das Artes pelo Centro Universitário Maria Antônia – USP, já trabalhou em exposições no Sesc e bienais, e artista-educadora nos CEUs – Centro Educacional Unificado. Hoje é pesquisadora do Museu do Futebol e se dedica a desenvolver alguns projetos únicos, como você descobre na entrevista abaixo.
A partir de uma breve análise do público que visita o Museu, seu comportamento, faixa etária, exposições que geram maior interesse, etc, como relacionar esse gosto por Futebol pelos brasileiros com a memória?
Aira – Hoje o nosso maior público é composto por escolas públicas e privadas, crianças que desde cedo iniciam sua formação junto aos espaços museológicos. Porém, nosso grande desafio é o de aproximar o público praticante e/ou envolvido com o futebol de um museu. Apesar do MF estar fisicamente em um estádio significativo para a memória do esporte, ele padece da presença desse mesmo público como visitante. Museu muitas vezes é erroneamente taxado como um lugar muito chato, sem movimento e silencioso, e cada vez mais, instituições se esforçam para transcender o significado de salvaguardar e transmitir a nossa memória de forma criativa, educativa, tecnológica e responsável.
Os sentidos “aflorados” e as sensações proporcionadas pelas exposições no Museu podem ser relacionados à absorção da documentação e memória sensitiva dos visitantes? Como essa relação é estabelecida no esporte?
Cada visitante se relaciona de maneira muito particular com as exposições do MF. Cada um tem uma história de vida que o leva a identificar-se mais ou menos com o percurso proposto e o conteúdo exposto. Existe sim um apelo visual e interativo que faz com que esse museu deixe de ser estático, mas isso sem estar atrelado ao conhecimento exposto, vira parque de diversões. Existe por exemplo, um trabalho cuidado e executado pela equipe de Conteúdo de atualizações dos campeonatos e Copas, que não deixa de ser uma ferramenta inclusiva uma vez que gerações mais novas se reconhecem nessas informações e imagens. Outro dado importante é a crescente preocupação em registrar a memória para além dos muros Rio-São Paulo. Cada vez mais assumimos a responsabilidade trazer uma futebol nacional e dessa forma, receber contribuições de todos os estados, grupos de estudos, pesquisadores e qualquer pessoa que possa contribuir com a memória do futebol.
Período de Copa do Mundo faz as pessoas irem mais ao Museu? Mesmo que não compareça mais pessoas, como explicar essa afeição pelo evento Copa do Mundo por parte da maioria dos brasileiros – principalmente aqueles que normalmente não são fãs de Futebol?
Muitas escolas estão tratando o tema ‘futebol’ em suas aulas e muitos estrangeiros que visitam São Paulo fazem do museu, um trajeto turístico. O museu triplicou o número de visitantes desde o último mês e acreditamos que esse número ainda vai aumentar. Não existe uma afeição ao campeonato, mas uma forte construção midiática e comercial que nos impede de seguir alienados, principalmente depois de um comprometimento político assumido nacionalmente e nos faz atores dessa escolha. Hoje, a Copa do Mundo FIFA 2014 vai além de gostar ou não de futebol. Ela interferiu na construção do aeroporto da sua capital, no dinheiro que não foi investido na educação ou mesmo no preço da tradicional cervejinha do final de semana. O brasileiro torce para o brasileiro, e nessa partida, estamos perdendo de goleada.
Reportagem: Maria Tebet
Produção Multimídia: Wagner Alves
Edição: Marcela Busch
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