O consumo de cultura em Bauru
O consumo de cultura depende de dois fatores: o primeiro está relacionado ao artista, que faz sua arte com o objetivo de ser apresentada a alguém. O segundo relaciona-se ao público. Tendo em vista a simples relação entre quem produz e consome cultura, a intrigante pergunta que surge na cidade de Bauru é se a comunidade realmente aprecia e se aproveita das oportunidades existentes no município.
Os bauruenses, em sua maioria, conhecem a existência dos projetos culturais que são oferecidos na cidade, mas isso não implica necessariamente que eles participam efetivamente desses programas. “Talvez existam outros projetos dos quais eu não tenha conhecimento, acredito que seja por falta de divulgação”, diz a estudante Victória Scallet Barnabé.
Fato é que quando há uma cidade com muitos habitantes, como Bauru, há também uma demanda maior de pessoas querendo participar de programas culturais, como aulas de dança, teatro, música etc. No entanto, a demanda de vagas oferecidas a esses programas não consegue acompanhar o número de candidatos inscritos, fazendo com que muitas pessoas fiquem de fora dos projetos dos quais queriam fazer parte.
Além disso, o consumo de cultura também depende se as pessoas têm o hábito de consumi-la. Na maioria dos casos, a falta de tempo, divulgação e incentivo para com a população é o que determina a pouca adesão dos bauruenses . “Hoje não tenho mais interesse por falta de tempo. A rotina se tornou específica para a profissão e acaba limitando o tempo”, opina Ghessika Pedroti, publicitária e moradora de Bauru.
Os bauruenses consomem cultura de diferentes formas. Alguns vão ao cinema e teatro, outros vão às exposições fotográficas e eventos musicais. “Vou em apresentações teatrais e musicais, faço cursos sempre que possível em minha área de atuação ou para aprender algo novo”, explica a fotógrafa Caroline Rohwedder.
Em relação aos lugares onde os bauruenses podem ter acesso a eventos culturais, entre os mais populares estão o Sesc, o Parque Vitória Régia e o Teatro Municipal, segundo uma enquete levantada nesta reportagem.
Apesar de Bauru contar com investimentos em lazer e cultura, o seu consumo ainda é baixo na cidade. É preciso que haja uma maior participação dos bauruenses para que haja um maior crescimento dos investimentos e maior oferta por todo o município.
Viver de cultura
Quem vive de arte precisa fazer um esforço enorme para que os espectadores tenham um espetáculo pronto e possam se divertir. Esse não é um trabalho fácil, uma vez que o possível desconhecimento ou falta de procura da população por eventos culturais promovidos na cidade representam um empecilho.
Um dos lugares que está na lista daqueles que querem começar a motivar o consumo da cultura em Bauru é a Casa de Cultura Celina Neves. Desde que a casa foi inaugurada, em 2011, são oferecidos cursos culturais gratuitos. Um exemplo é o curso livre de teatro Paulo Neves, que já conta com um total de 70 alunos.
[metaslider id=4170]
A casa faz vários eventos durante o ano para a comunidade bauruense. Um deles é a mostra de teatro Paulo Neves, que ocorre no mês de janeiro. É o evento mais importante da casa. Além dele, a Casa de Cultura Celina Neves conta também com mais duas semanas de mostras durante o ano, no qual todos os dias são apresentados espetáculos. Nesses eventos, os alunos têm a chance de entrar em cena para colocar em prática o que aprenderam. Todos esses eventos são feitos com o objetivo de criar uma programação cultural constante e assim ter uma formação de público sólido em Bauru.
“No começo – faz quatro anos – a gente não tinha uma agenda cultural tão extensa, mas depois foram-se formando grupos e juntando forças para fazermos uma agenda cultural, para que a cidade começasse a respirar um pouco mais essa cultura”, afirma Roger Lima, produtor cultural da Casa Celina Neves.
Trabalhar com cultura requer paciência, esforço e constância. Esta é a realidade ao qual o artista e suas obras de arte estão fadados. “A maior dificuldade que o artista enfrenta em Bauru é o fato de não ter um público acostumado a consumir a arte que nós produzimos. A gente produz algo para alguém assistir e quando não há esse alguém que a aprecie, fica uma coisa incompleta”, desabafa Roger.
Além dessa árdua realidade com a qual o artista precisa enfrentar, há uma outra faceta oculta que acaba por dificultar ainda mais o trabalho de quem vive de cultura. “Trabalhar com cultura demanda insistência e valorização, pois a cultura tem alguns estereótipos com os quais o próprio artista lida. Lamentavelmente as pessoas acham que o artista não come, não vive, que seu trabalho não tem valor”, comenta Nilson Batista Junior, diretor do programa Ensino às Artes do Teatro Municipal.
O apoio do governo, ao investir em políticas públicas que visem à cultura em todos os seus aspectos depende muito do interesse da população. Se a sociedade cobra asfalto, o governo vai se focar em asfalto. Se cobra educação, vai se focar em educação”, afirma Nilson ao assegurar que a partir do momento em que a sociedade cobrar mais investimentos em cultura, esta deve melhorar.
As implicações negativas sobre a luta de quem trabalha com produtos culturais são muitas, mas as pessoas que estão envolvidas com sua arte ainda acreditam e amam o que fazem. “Viver da cultura é algo muito prazeroso, mesmo a gente sabendo que não é tão recompensador financeiramente e conhecendo as dificuldades do artista em si”, conclui Roger Lima.
Reportagem: Felipe García
Produção: Nayara Kobori
Edição: Jéssica Fonseca
Foto de destaque: Lucia Nobuyasu Guimarães