Os limites do lazer em Bauru
Devido sua grande expansão territorial, a cidade de Bauru ainda conta com grande concentração de seus espaços públicos de cultura e lazer.
Bauru é o município mais populoso do centro-oeste paulista e conta com diversos equipamentos de cultura e lazer para atender seus habitantes. Devido ao rápido crescimento da cidade e à falta de planejamento prévio, nem todos os bairros são contemplados por esses serviços. Assim, muitos moradores da periferia precisam se deslocar para o centro para ter acesso a eles.
Pensando nisso, antes das eleições municipais de 2012, a rede Fora do Eixo criou o documento A cidade que queremos com propostas de políticas públicas na área cultural. O ponto-chave do documento é a descentralização da cultura através da realização de ações nos bairros periféricos.
Na ocasião, o prefeito Rodrigo Agostinho declarou que previa para 2013 um investimento R$ 8,1 milhões em recursos da Cultura e também planejava a implantação do caminhão palco e o desenvolvimento de atividades artísticas nos Centros Comunitários dos bairros, nas praças e em outros locais públicos.
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O projeto do caminhão palco ainda não foi concretizado, mas o chefe da ação cultural, Francisco Mello Nóbrega, conta que atualmente existem bibliotecas ramais nos bairros e que a Secretaria de Cultura procura promover ações culturais na periferia.
Contudo, ele reconhece que esses pontos não são suficientes para atingir a demanda populacional e, como o prefeito, acredita que o caminhão seria essencial para levar cultura aos bairros mais afastados.
Quanto aos espaços de lazer, o secretário de planejamento urbano Paulo Roberto Ferrari cita uma série de projetos da prefeitura para a melhoria dos mesmos, como a manutenção e reparos em parques e praças, ampliação da pista de atletismo, investimento na cancha de bocha e a reforma da Estação Ferroviária.
A população reconhece o investimento da prefeitura, mas a periferia precisa de mais atenção e muitos moradores não têm acesso aos pontos de cultura e lazer da cidade localizados na região central.
Esta realidade não se limita a cidade de Bauru, mas a vários centros urbanos do Brasil: “Os espaços de lazer são criados para não terem acesso. A maioria do povo não tem condições de pagar para ir a um teatro, por exemplo. Não só pelo preço do ingresso, como pelo geral de gasto (transporte/alimentação). Faltam também campanhas para que o povo vá mais a esses espaços. A população não aproveita nem o grande número de locais que são gratuitos, porque não recebe incentivo para ir”, relata Alessandro Buzo, colunista do quadro SP Cultura no programa SPTV, sobre a cultura na periferia na cidade de São Paulo.
Confira a entrevista com Alessandro na íntegra
Alex Mariano mora no Jardim Nicéia e concorda com a ideia de que os espaços culturais de Bauru são concentrados no centro da cidade. “Eu acho que a Prefeitura poderia investir mais aqui [no bairro]. Na praça tem espaço para colocar mais coisa”, opina. Ele conta que costuma se deslocar para o centro para ir ao cinema e completa: “eu aproveitaria muito mais se tivesse alguma coisa aqui, em vez de ter que sair daqui para ir lá longe”.
A lei que rege a ocupação do espaço urbano de Bauru data de 1982 e o secretário de planejamento reconhece suas falhas no contexto atual. “Antigamente, toda gente vinha ao centro para conseguir serviços e fazer compras. Essa realidade mudou. Se a pessoa mora no Mary Dota, ela compra no Mary Dota, e muitos trabalham lá. Nossa legislação ainda não chegou nesse ponto, a cidade andou na frente, como sempre”, explica Ferrari. Apesar disso, ele afirma que as coisas estão mudando. “A tendência é mudar. Por exemplo, agora a Prefeitura faz seus eventos nos bairros, no Mary Dota ou na Falcão, – antes era exclusivamente no Vitória Régia”, comenta.
Nos últimos anos, a prefeitura tem ampliado seus eventos e espaços culturais contando com o apoio de ONGs que atuam nas regiões periféricas da cidade. Esses acordos e o planejamento da construção de novos espaços públicos apontam para uma melhora da distribuição dos pontos de cultura e de lazer em Bauru.
Reportagem: Isis Rangel e Maria Eduarda Amorim
Produção: Mayara Abreu Mendes
Edição: Renan Fantinato