Cinema Independente: O Rap pelo Rap
Passei alguns dias pensando em como escrever sobre algo que já vi, mas que sei que existe uma expectativa grande em torno dele. A minha expectativa foi – muito positivamente – vencida, alguns meses atrás.
Conheci o documentário “O Rap pelo Rap” antes por uma razão simples: Pedro Henrique Fávero, diretor e idealizador do projeto, apresentou o doc. como TCC, Trabalho de Conclusão de Curso de Rádio e TV na Unesp Bauru, no início de 2014 e fui lá dar uma espiada no trampo.
Produzido entre 2012 e 2013, O Rap pelo Rap contou com a participação e declarações de mais de 40 rappers, MCs e produtores musicais. Estão lá desde os mais antigos como Sandrão (RZO), KL Jay (Racionais) e Dexter até artistas mais novos como Criolo, Shawlin e RAPadura Xique Chico. O doc. também aborda as mulheres na cena Hip Hop, representadas por Lívia Cruz e Carol Konká – um número pequeno, é claro, mas pra falar das mulheres no Rap, seria preciso um outro doc. – e finalmente, o documentário de Fávero chega à caras de peso na indústria fonográfica independente no Brasil, como Nave Beatz e Daniel Ganjaman.
Pedro se propôs a nos “mostrar como o Rap é heterogêneo. Que não cabe em rótulos, que muda com o tempo, mas que ao mesmo tempo tem muito a falar e questionar sobre ele próprio”, afirma. Inspirado em Eduardo Coutinho e em outros documentários e filmes do cenário independente, como Mestres do Viaduto e Mr. Niterói, “O Rap pelo Rap” tem um formato próprio. Não conta a história do rap no Brasil dos anos 90 ou 2000 pra cá, através da trajetória de um artista, mas se propõe a dar voz para que os principais ícones e nomes do rap nacional possam expor o que pensam justamente sobre o rap nacional.
Ao colocar vários ícones do movimento hip hop em destaque, o documentário, naturalmente, traz falas que dialogam entre si e outras que se colocam em oposição, como no tópico “A revolução será televisionada?”, que fala sobre a relação do rap com a mídia. E aí que mora a beleza do negócio. Não gera a polêmica de quem está certo ou quem tá errado no rap, são opiniões divergentes, apenas. O próprio diretor destaca que “esse formato se encaixa bem no formato do rap, que não tem um artista referência e sim vários, com diversas opiniões”.
A equipe que realizou essa empreitada com o Pedro era reduzida também. Produzido de modo colaborativo, as entrevistas do doc. eram feitas com uma ou duas pessoas e alguns amigos ajudaram com a identidade visual do projeto. Só com o rascunho do roteiro em mente, pouca grana e uma câmera na mão, o projeto começou. As entrevistas foram feitas em Bauru e em São Paulo e só a edição durou 6 meses. Não me lembro algumas coisas daquela banca de TCC – os professores doutores costumam falar muito – mas lembro que Pedro disse que se viu obrigado a reduzir 6h de material em 73 minutos de vídeo.
“Tentei organizar a edição de forma que ficasse interessante de assistir, com ganchos, falas contraditórias e concordantes entre si, momentos de descontração… pois ficar mais de uma hora ouvindo pessoas falarem pode ser muito maçante”, ele conta. Realmente deve ser chato, mas dessa vez não foi.
A estréia vai acontecer essa semana, no Festival Internacional de Documentários Musicais – IN EDIT BRASIL, no Cine Olido e na Matilha Cultural (abaixo mais info!). Mas ainda vai demorar um pouco para podermos vê-lo pela telinha do PC, O Rap pelo Rap só vai ser lançado na internet em 2015, pois agora o foco está nos Festivais de cinema independente.
Até lá, Pedro tem lançado teasers pela página do Facebook/O Rap pelo Rap e outras redes sociais. Os teasers com o GOG, Mano Brown e Neto (do grupo Síntese) tem recebido bastante atenção entre os fãs do rap e foram publicados em páginas como Rap Nacional Download, Vai ser Rimando e Noticiário Periférico.
Seja como for, muito provavelmente irei ver o doc de novo em São Paulo e deixo aqui, o máximo que posso dizer sobre ele e a impressão de que o cinema independente nacional ganhou mais uma importante e inovadora peça.
Reportagem: Keytyane Medeiros
Produção: Keytyane Medeiros
Publicação: Amanda Fonseca, Keytyane Medeiros, Lívia Lago e Marina Moia