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COELHO BRANCO, COELHO VERMELHO

Peça de dramaturgo iraniano chega ao Sesc Bauru na última quinta, dia 22, interpretada por José Carlos Machado


Moralmente inquietante, “Coelho Branco, Coelho Vermelho” é considerada por muitos um testemunho do poder das palavras em transcender culturas e fronteiras.Tudo começa quando o ator chega ao teatro com o objetivo de encenar um monólogo cujo texto só lhe é entregue quando ele sobe ao palco. Assim, sem ensaio e sem diretor, o ator conta apenas com sua expressividade corporal e com os olhos atentos da plateia. Nem mesmo os pouquíssimos elementos que compõem o cenário oferecem dicas de enredo ao espectador. Mas atenção! Não se trata de uma peça de improviso. Apesar do ator entrar em contato com o texto pela primeira vez quando já está em cima do palco, a descrição da história existe e é pré-estabelecida, por isso a necessidade de inovar os intérpretes a cada apresentação.

Escrito pelo iraniano Nassim Soleimanpour, o texto do espetáculo foi encenado pela primeira vez em 2011, no Canadá e a peça já passou por mais de dez países diferentes. No Brasil, foi encenada por figurões do teatro nacional, entre eles, Thiago Lacerda, Lilia Cabral e Fábio Porchat. Em Bauru, quem passou pela estranhíssima experiência foi José Carlos Machado, famoso por participar da segunda temporada de Sessão de Terapia, série dirigida por Selton Mello.

Como fizeram todos os convidados a interpretar o espetáculo, Zé Carlos recebeu um envelope lacrado e o abriu diante da plateia. A partir de então, foi lendo o conteúdo e seguindo as indicações de como agir: “Bem, eu acabo de abrir o envelope e comecei a ler. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer. Vocês, público, podem ou não aplaudir agora.” É visível a surpresa do ator e das pessoas presentes no auditório do Sesc Bauru. A trama é inspirada na experiência pessoal do autor. Nassim Soleimanpour, um jovem iraniano de 29 anos, foi proibido de deixar o Irã durante alguns anos por descumprir a obrigatoriedade do serviço militar. Assim como os homens maiores de 18 anos que não se alistam aqui no Brasil perdem direitos civis, Nassim não pôde ter seu passaporte validado.

Por isso, o texto da peça serve como ferramenta para transcender as limitações de espaço, tempo e até mesmo da censura. Impedido de sair do Irã, mas disposto a fazer sua história correr o mundo, o autor resolveu compor um espetáculo que dispensasse a figura do diretor e privilegiasse a figura do ator, sozinho em um palco sem cenário.

Em certo momento do espetáculo, Nassim se descreve fisicamente, descreve a cidade onde mora e passa seu email ao público, pedindo a alguém que tire uma foto e a envie a ele. A partir daí, fica clara a necessidade que o dramaturgo tem de entrar em contato com o público. A peça foi a maneira que ele encontrou para viajar e conhecer outros lugares – Ela fala de liberdade, de obediência civil, de autonomia, competição e opressão.

Para Zé Carlos, a experiência foi única: “A peça foi emocionante, me pegou de surpresa. O autor vai propondo determinados jogos e durante a leitura, eu não sei se absorvi tudo, mas, curiosamente, a plateia estava ligada!” – afirma o ator. “Acho que a peça, por lidar com o inesperado, traz ao teatro a vibração. Além disso a temática é brilhante. Tratar a liberdade da maneira como Nassim fez torna o tema atemporal. São questões que não se restringem ao Irã”, completa Zé Carlos.

Confira o trailer da peça!

Laura Fontana

William Orima

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