O fortalecimento do Hip Hop bauruense
Impulsionado pela Semana do Hip Hop, o movimento ganha força e maior visibilidade para artistas regionais
Em novembro do ano passado, Bauru ferveu com a Quarta Semana do Hip Hop, agora um evento institucionalizado como lei municipal. Da primeira edição para cá, o cenário do Hip Hop bauruense se desenvolveu e se expandiu.
A Semana do Hip Hop já é referência pra outras semanas do Hip Hop em todo o país, e na cidade há um estúdio de gravação e produção de rap que lança novos artistas do interior. Vários nomes do cenário bauruense já são conhecidos pelo Brasil, como os MCs Coruja BC1 e Dom Black, e a cada dia mais e mais artistas surgem para integrar o movimento. “A gente só tem dois grupos de break em Bauru, mas são dois grupos que podem bater de frente com qualquer um no Brasil e América Latina, tem Bboys que saíram daqui de Bauru e estão estourando no mundo hoje, como o Luan, que está ganhando vários campeonatos.” conta Luis Enrique Frabetti, conhecido como Major, da ONG Wise Madness e Bboy do grupo Bauru Breakers Crew.
Apesar de haver representantes ativos tanto na parte artística do movimento quanto na militância, as coisas não estão tão fáceis para o Hip Hop. Além da falta de marketing e organização dos produtores de eventos e de parte do próprio movimento, “o público valoriza bem mais quem vem de fora e isso é nítido”, afirma Thomas, MC do grupo AlemdaRima.
Para mudar essa realidade, há um tempo surgiu a hashtag #InteriorTemVoz, com o intuito de mostrar que há sim bons artistas saídos do interior, não só nos grandes centros urbanos. De acordo com Thomas, “É uma resposta de auto-afirmação à centralização da atenção da mídia e do publico aos artistas das grandes capitais”. E a hashtag já deu seus frutos: na última edição da Semana do Hip Hop, um palco recebeu o nome Interior Tem Voz, onde vários artistas do interior se apresentaram, entre eles o grupo AlemdaRima e a MC Sara Donato, que questiona o machismo no rap nacional e o padrão de beleza imposto pela sociedade às mulheres.
Hip Hop e Feminismo
Justamente questionando esse machismo, em 2012, durante a preparação para a Semana do Hip Hop daquele ano, surgiu a Frente Feminina de Hip Hop de Bauru. De acordo com Keytyane Medeiros, integrante do movimento, a Frente procura “atingir as mulheres da cidade, mas mais especialmente as mulheres negras periféricas, dada a nossa íntima relação com o Hip Hop”.
O movimento se preocupa também em instrumentalizar as mulheres militantes do Hip Hop acerca do feminismo e temas relacionados. “A importância da Frente é justamente procurar o diálogo entre o movimento Hip Hop e as mulheres que existem dentro dele, dar voz, representatividade e força às mulheres que compõem o movimento. Queremos que as outras minas se sintam representadas pela Frente e que sintam vontade de compor esse espaço, que é um espaço de voz e participação”, afirma Keytyane.
Enquanto o hip hop se volta aos jovens negros de periferia que não enxergavam sua luta e sua realidade nas músicas da indústria cultural, o feminismo reivindica o direito de uma mulher se ver representada em suas opressões pela voz de outra mulher, assim como as canções de rap fazem com os jovens de periferia. Keytyane ainda completa: “o que acontece na casa de uma irmã no mundo, interessa ao feminismo, assim como o que acontece a um irmão negro no mundo interessa ao Hip Hop.”
Para Thomas, o movimento do Hip Hop é de extrema importância: “é uma peça chave numa sociedade tão desigual, onde o povo da periferia tem poucas vozes ao seu favor.”
Saiba mais:
Conheça alguns artistas bauruenses
Confira o novo clipe do grupo AlemDaRima:
http://https://www.youtube.com/watch?v=JBdimiT6uY0&feature=youtu.be
Reportagem: Marilia Garcia
Produção multimídia: Jonas Lirio
Edição: Ihanna Barbosa
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