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O acorde é underground

Face às novas tecnologias e possibilidades midiáticas, a música independente ganha força no cenário nacional e interiorano

Saiba mais sobre as vantagens e dificuldades da cena autoral no interior de São Paulo

Ritmo é o que não falta no cenário musical brasileiro. Ritmo não só pela multiplicidade de estilos e gêneros aqui produzidos, mas também ritmo de mudança. O que antes era considerado como uma tarefa substancialmente difícil pelos artistas independentes, a de se conquistar reconhecimento e – principalmente – público, hoje tornou-se mais simples, graças às novas possibilidades oferecidas pela internet e plataformas de mídia alternativas. Apesar de as dificuldades ainda se mostrarem incisivas nesses e em outros fatores, há diversos novos caminhos para se trilhar, tornando a música autoral independente uma das novas apostas da atualidade para os artistas desse ramo.

Com a internet e a crise da indústria fonográfica, foi necessária a reformulação de estratégias de produção e divulgação, de forma a atingir o público certo com eficácia. Os artistas deixaram de investir na produção de álbuns físicos para a venda em lojas e passaram a utilizar a tecnologia como instrumento de trabalho. Redes sociais, aplicativos de música, dispositivos móveis, Youtube e portais se tornaram grandes protagonistas no processo de consumo musical, o que facilita a produção independente. Além disso, deve ser levado em conta o lado financeiro. Apesar de ser necessário o investimento em equipamentos e espaços para ensaio e gravação, a economia quando se trabalha de forma autônoma é considerável, ainda mais tratando-se de grandes gravadoras, que cobram um alto valor pelo contrato. Sem contar com a liberdade de criação que ilustra o cenário independente, onde as bandas podem produzir sem precisar se prender aos estilos usualmente contemplados pela grande mídia, o mainstream.

Enquanto que em décadas atrás, principalmente nos anos 90, as bandas batalhavam para fechar contratos com grandes gravadoras e, assim, ganhar notoriedade, atualmente o movimento é inverso. O espaço à cena underground segue em constante expansão, e até mesmo bandas que antes produziam ao lado de gravadoras voltaram ao meio independente,  como o grupo de reggae Planta e Raiz. “A diferença é que agora nós conseguimos andar com as próprias pernas e conseguimos produzir a nossa própria música, nosso próprio disco. Acabamos transferindo uma energia muito maior pelo envolvimento mais intenso da banda com a produção do disco”, afirma o baixista Samambaia, em entrevista para o blog Entre Bandas. Já para Digão, vocalista do Raimundos, outra banda conhecida nacionalmente que voltou ao cenário underground, a liberdade criativa para produção das canções manteve-se estável, com a gravadora e sem ela. “Graças a Deus temos uma carreira sólida e, apesar de não dispor do alcance de antigamente, a nossa credibilidade com nossos fãs nos mantém em uma posição bastante agradável”, conta também em entrevista.

Confira as duas entrevistas na íntegra no blog Entre Bandas:

http://www.entrebandas.com.br/2015/02/entrevista-raimundos.html

http://www.entrebandas.com.br/2013/05/bora-viver.html

 

O cenário independente no interior

Longe dos holofotes das capitais e também das grandes produtoras, as bandas independentes do interior de São Paulo usufruem das oportunidades que se inserem fora do mercado comercial tradicional. É assim que a banda piracicabana Victor e o Gramofone, e os grupos bauruenses La Burca e Samanah desenvolvem seu som e o compartilham com o público, seja pela internet ou pela apresentação em shows e festivais. Apesar do menor fluxo de eventos e possibilidades de que dispõe o centro-oeste paulista em comparação com os grandes centros urbanos, há a vantagem de ter menos concorrência e, assim, poder atingir o público com mais facilidade, conforme apontam os integrantes do Victor e o Gramofone.

Já Amanda Rocha, do duo La Burca, afirma que mesmo com esse cenário constante, há um movimento de bandas, o que é importante para fortalecer o som autoral, incentivado por bares que realizam festivais e shows exclusivos para grupos independentes. “Foram anos de inércia – digo por parte dos estabelecimentos – e parece que, de repente, as coisas começam a fluir mais”, conta. Thales Mendes, vocalista e guitarrista do Samanah, aponta, ainda, a maior fidelização com o público estabelecida no interior, vínculos que são mais difíceis de criar dentro da variedade de eventos e bandas das capitais.

Thales Mendes - Samanah (Foto: Jonas Lírio)

Thales Mendes – Samanah (Foto: Jonas Lírio)

Cada qual com seu estilo e segmento – o pós-punklore performático de La Burca, o rock swingado de Samanah e as notas suaves e alegres de Victor e o Gramofone – as três bandas criam estratégias e conquistam seu espaço no interior e no mundo, graças ao empenho para levar esse sonho adiante, ao incentivo local e, claro, a internet. É o que afirma os piracicabanos do Victor e o Gramofone: “A internet encurtou as distâncias, conectou e trouxe infinitas possibilidades a todos que a utilizam. Qualquer banda pode divulgar e levar a sua música para qualquer lugar do mundo. Hoje é possível fazer shows ao vivo online e únicos, e ainda exibí-los em tempo real a qualquer computador, celular ou tablet no mundo”. Thales, do Samanah, também destaca a importância da internet na consolidação do trabalho independente: “Sem ela acredito que não conseguiríamos circular tanto, vender shows e, principalmente, não teríamos onde divulgar nosso trabalho, já que a abertura de rádios e televisão é muito pequena”.

Porém, além das plataformas virtuais, ainda é essencial o contato físico com o público e a música em si, sem se desprender às raízes do underground nacional. E esse contato é muito valorizado pelas bandas. Amanda Rocha juntamente com Lucas Scb fazem dos shows do La Burca verdadeiras apresentações artísticas, levando aos palcos o “ato performático instintivo de tocar”, com a pintura em seus rostos e a conexão com os instrumentos. “Acho massa que adultos e crianças piram com isso, inclusive já pintei várias vezes a molecada que aparece em shows – e adultos também (risos)”, conta Amanda.

Outro fator imprenscindível ao fortalecimento da música independente no contexto interiorano é a união entre as bandas e o incentivo mútuo. “Muitas vezes são as bandas que fazem os eventos em coletivo, alugamos alguma casa de shows e dividimos a portaria. Assim, ajudamos a divulgar umas as outras, e essa união é o que constrói a cena na cidade. Conseguimos fidelizar um público maior e sempre acaba rolando algum evento com banda autoral, o que ajuda a fomentar a cena”, assegura Thales, o qual também evidencia a importância da valorização das músicas autorais, de forma a fugir da cultura do cover, que, muitas vezes, acaba atraindo mais o público em casas de shows.

Confira  a galeria de fotos dos ensaios do grupos Samanah e La Burca:

Conheça mais do trabalho de Victor e o Gramofone, La Burca e Samanah:

Victor e o Gramofone

Site: http://tnb.art.br/rede/victoreogramofone

Músicas: disponíveis para ouvir online em plataformas como SoundCloud, Reverbnation, Facebook, etc. Para download, no BandCamp. Em breve, discos físicos do primeiro EP da banda.

La Burca

Site: http://tnb.art.br/rede/laburca

Músicas: disponíveis para download gratuito, e venda do EP “LA BURCA” em shows e encomenda, no formato de disco físico produzido artesanalmente, por 10 reais.

Samanah

Site: http://samanah.tnb.art.br/

Músicas: disponíveis para download gratuito, e vídeos no Youtube.

Reportagem: Camila Pasin
Produção multimídia: Jonas Lirio
Edição: Ihanna Barbosa

4 thoughts on “O acorde é underground”

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