Entrevista: Consciência e esclarecimento para um bom uso da água
A fim de sabermos um pouco mais sobre o tratamento de água e esgoto que é feito em Bauru, conversamos com o pesquisador e doutorando em Gestão Urbana, Carlos Alberto Ferreira Rino, que possui pesquisa voltada na área de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde em Bauru. Além de explicar o funcionamento da distribuição e gerenciamento do DAE de Bauru, Carlos propôs soluções para o reaproveitamento de água.
Repórter Unesp: Como você avalia a atual gestão do DAE?
Carlos Alberto: A atual situação acredito que é favorável, mas ainda assim temos um certo atraso na questão do esgoto. Nós já estamos há uns 15 anos construindo a Estação de Tratamento de Esgoto, apesar de agora estar em vias de caminhar para que seja possível; ou pelo menos é essas são as informações oficiais que a gente tem.
R.U.: Como você acha que o DAE poderia melhor o sistema de tratamento de água e esgoto?
C.A.: Acho importante separar as duas coisas; água é de um jeito e esgoto é de outro. São coisas distintas. A questão do tratamento do esgoto eu vejo que está encaminhada. Com relação à água ainda precisam ser feitas várias ações. Há muito desperdício por parte do DAE, e precisa ter muitas ações de educação para a população diminuir o consumo, evitando que os próprios usuários façam esse desperdício, para que o sistema não entre em colapso – o que está próximo a ocorrer.
R.U.: Existe a possibilidade de se implantar, em Bauru, algum tipo de sistema que reutilize a água das chuvas para abastecer as casas?
C.A.: Não, isso teria que ser uma ação individual de cada morador. Em lugares como a Austrália, existem leis locais que obrigam as casas a terem captação de água da chuva dos telhados. Logicamente que lá é uma região mais seca do que aqui, não sei se aqui não se tem a necessidade imediata de fazer isso. Mas essas ações poderiam começar a serem feitas por empresas que têm uma grande área de telhado, para poder captar uma grande quantidade de água.
R.U.: Como seria feito um sistema desse tipo numa casa residencial?
C.A.: Você teria que contratar um engenheiro e fazer um projeto para pode captar essa água e armazená-la corretamente. Isso é mais indicado para residências que estão sendo construídas, que são novas, porque a intervenção fica mais barata. Mas tem um custo razoável, não é tão barato. Vai depender do porte da residência e de quanto você quer armazenar de água.
R.U.: Em casos de crise de falta de água, como aconteceu no fim do ano passado, como você acha que o tratamento deveria ser gerido?
C.A.: A melhor solução é o esclarecimento da população. Tem que fazer campanhas educativas na imprensa, explicar o problema… E a população acaba colaborando.
R.U.: Você acha que seja mais um problema mais por parte da população do que por parte da gestão governamental?
C.A.: Não! São os dois problemas paralelos. O DAE tem muita perda de água. Existem dois conceitos distintos. A perda é quando o DAE perde a água sem cobrar; por exemplo, se a tubulação da rua está vazando. Isso é chamado de “perda”. Agora, quando [a água] passou pelo seu hidrômetro e o DAE já está recebendo, e você [o consumidor] está perdendo, aí eles chamam de “desperdício”. Então tem o desperdício, que deve ser combatido por parte da população: pessoas que ficam lavando calçada, que deixam vazamento no banheiro e não consertam… E pelo próprio DAE as perdas de água que acontecem na cidade, que a gente está cansado de ver na imprensa: vazamentos em ruas, que são demorados pra consertar. São duas coisas que têm de ser trabalhadas paralelamente. Mas o principal acredito ser do DAE mesmo. O índice de perda chega a 35% na cidade de Bauru, e isso é muita coisa. A primeira coisa é o órgão dar o exemplo, diminuir isso [a perda] para números aceitáveis, que seria em torno de 10%, para depois poder cobrar da população. Tem que atuar essas duas frentes: o órgão público diminuir as perdas, que são grandes, e depois fazer um trabalho educativo para diminuir o desperdício.
Reportagem: Gabriela Baraldi Passy
Produção: Keytyane Medeiros
Edição: Mariana Amud Fernandes
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