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Água em Bauru: quem é o responsável?

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Rio Batalha em abril de 2015. Por: Keytyane Medeiros

Quando você abre a torneira e não cai um pingo d’água, de quem é a culpa? Da Prefeitura? Do Governo do Estado? Da Presidência da República? Da Secretaria Municipal ou Estadual de Obras? Apesar da discussão sobre gestão de recursos hídricos estar “em alta”, dúvidas como essa são muito comuns – e até compreensíveis – em meio à população.

Em Bauru, o responsável por qualquer assunto que diga respeito ao gerenciamento, administração e desenvolvimento de serviços de água e esgoto, desde a véspera de Natal de 1962, é o Departamento de Água e Esgoto, o DAE . Órgão responsável pela captação, tratamento e distribuição de água, além do encaminhamento de esgoto.

O DAE é uma autarquia, definida pelo artigo 5º, inciso I, do Decreto-Lei nº 200, de fevereiro de 1967, como “serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada”. Desde 2013, o órgão é presidido por Giasone Cândia.

Captação de água

Atualmente, a cidade de Bauru é abastecida por água proveniente do Rio Batalha (38%) e  da captação de águas profundas dos Aquíferos Guarani e Bauru (62%), feita através dos 38 poços distribuídos pela cidade.

Rio Batalha em época de cheia, com 2,60 metros de profundidade. Por Keytyane Medeiros

Rio Batalha em época de cheia, com 2,60 metros de profundidade. Por Keytyane Medeiros

O Rio Batalha nasce no município de Agudos e desemboca, no Rio Tietê. A água do rio é represada em uma lagoa, na divisa de Bauru com Piratininga, e em nível normal tem 2,60m de profundidade. O acesso à área de captação é feito no final da Avenida Comendador José da Silva Martha, através de uma estrada de terra de aproximadamente 2 km.

Segundo José Antonio da Silva, chefe da Seção de Captação do DAE, há períodos do ano – geralmente entre janeiro e março – em que, por causa do grande volume de chuva, se faz necessário abrir as comportas que controlam a quantidade de água represada. Já nos períodos de estiagem, as comportas permanecem fechadas, sempre visando controlar o volume da lagoa.

A água captada passa por um crivo, uma espécie de grade, que retira impurezas maiores, como as algas, por exemplo, e logo depois passa pelo estágio de decantação da areia. Depois disso, a água é conduzida, pela gravidade, para uma casa de máquinas, de onde é impulsionada por motores até a Estação de Tratamento de Água, 140 metros acima do nível do rio. Lá, são feitos todos os processos de tratamento convencionais, que envolvem floculação, decantação, filtração e adição de compostos químicos, tornando a água própria para o consumo humano e pronta para a distribuição.

Distribuição de água em Bauru. Por: Giuliano Barani e Keytyane Medeiros

Segundo José, atualmente trabalham 10 pessoas na captação de água do Rio Batalha, e cinco delas moram dentro da própria seção, em casas construídas na entrada do local. “A gente faz de tudo, cuida da manutenção”, conta ele. A seção também recebe muitas visitas de crianças e idosos.

Já a captação através dos poços envolve um processo bem mais simples, uma vez que a água já vem do subsolo com uma boa qualidade para consumo. A ela são somente adicionados cloro e flúor, conforme as exigências do Ministério da Saúde, através da Portaria 518/2004.

Crise hídrica

Dados do Censo do IBGE de 2010 já apontavam que a população bauruense tinha crescido cerca de 9% nos 10 anos anteriores. Diante de um aumento populacional deste porte, era claro que a demanda por recursos hídricos aumentaria proporcionalmente. Nos meses finais de 2014, Bauru passou por uma fase de longa estiagem, durante a qual o lago de captação do Rio Batalha baixou até chegar ao raso 1,70m de profundidade, segundo José Antonio da Silva.

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Poço artesiano do Mary Dota, Bauru. Por Keytyane Medeiros

‘A falta de investimentos por parte do DAE em melhorias efetivas no sistema de captação e distribuição, aliada à estiagem insistente, fez com que, naquele período, a situação hídrica bauruense se tornasse crítica. Faltava água tanto em áreas periféricas quanto centrais, e o DAE implantou o rodízio de água entre os bairros da cidade.

 Bianca Munhoz, bailarina de 21 anos e moradora da região central de Bauru, conta que passou pela falta de água de maneira bem desagradável. “Eu não recebi nenhum apoio do município. Não ficávamos sabendo nem sobre o revezamento de água nos bairros. Não tinha perspectiva do retorno da água, e portanto não conseguia me programar. Cada vez que eu abria a torneira, era uma surpresa”, desabafa. Segundo Bianca, atualmente não falta água no bairro em que mora.

Apesar de a situação da água estar normalizada e a lagoa de captação do Batalha, cheia, Carlos Alberto Ferreira Rino, pesquisador na área de tratamento de água e esgoto, considera que ainda existem muitos desafios para a gestão local de recursos hídricos. “Há muito desperdício por parte do DAE, e precisam ser feitas ações de educação para população diminuir o consumo, evitando que os próprios usuários façam esse desperdício”, diz o pesquisador. “O índice de perda [por parte do DAE] chega a 35% na cidade de Bauru. Isso é muita coisa. A primeira coisa é o órgão dar o exemplo: diminuir [a perda] para números aceitáveis, em torno de 10%, para depois poder cobrar da população”, complementa.

Carlos acredita que estratégias alternativas para a captação hídrica, como a utilização de águas da chuva para o abastecimento das residências, devem ser tomadas de forma individual pelos cidadãos. “Mas essas ações já poderiam começar a serem feitas por empresas que têm uma grande área de telhado, para poder captar uma grande quantidade de água”, indica ele, apesar de considerar que a situação de Bauru ainda não exige medidas emergenciais como essa.

Gestão dos Recursos Hídricos em Bauru. Por: Keytyane Medeiros

Gestão dos Recursos Hídricos em Bauru. Por: Keytyane Medeiros

 

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Entrevista: Consciência e esclarecimento para um bom uso da água

Reportagem: Gabriela Baraldi Passy

Produção Multimídia: Keytyane Medeiros

Edição: Mariana Amud Fernandes

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