O meio ambiente diante da crise hídrica
A crise de água que assola o Estado de São Paulo gerou repercussão também em Bauru. A falta de chuvas que beneficiam o abastecimento de água na cidade está diretamente ligada à destruição da vegetação nativa da região, causada, principalmente, pela falta de planejamento e o grande crescimento urbano da cidade. Uma ciclo de ações que deveriam ser construídos em cima de uma base, a preservação do meio ambiente.
A destruição do cerrado, bioma nativo da região, afeta a infiltração da água das chuvas pelo solo arenoso, típico desse ecossistema, o que faz diminuir o volume de água dos aquíferos Bauru e Guarani, que também são fontes de abastecimento para os rios localizados na região de Bauru, como o Rio Batalha. “Sem essa infiltração, a água escoa para as cidades, causando alagamentos e destruindo ruas e calçadas”, comenta o biólogo do Jardim Botânico de Bauru, Vinicius Sementili.
Problema além do cerrado
Outro problema que afeta o Rio Batalha é a destruição das matas ciliares, responsáveis por evitar o assoreamento excessivo dos rios e a erosão das margens. “Com o desmatamento das matas ciliares, ocorre erosão, e consequentemente, o assoreamento. Esse assoreamento vai deixando o rio mais raso e diminui o volume de água, podendo inclusive matar os animais que estão ali e alterar totalmente o ambiente”, conta Vinícius. Além dos problemas ambientais locais, ao pensar de forma mais abrangente vemos a influência do desmatamento da Amazônia na falta de chuvas da região Sudeste. “Por questões climáticas, as massas de ar da Amazônia chegam ao estado de São Paulo, então se você for pensar, a redução de umidade na Amazônia gera a diminuição da unidade em São Paulo. É o que nós chamamos de rios voadores, uma quantidade muito grande de água que sai lá da Amazônia, fica naquela região e pelas massas de ar, chegam ao estado de São Paulo”, diz o biólogo.
Uma das conclusões que se têm diante da destruição do cerrado bauruense é de que a cidade cresceu muito rapidamente e sem planejamento diante da questão ambiental. “Falta de planejamento, falta de interesse com as questões ambientais não são de hoje. Eu penso que nós, em nível de Brasil, estamos ainda em uma fase muito inicial de consciência ambiental em comparação a outros países. É uma questão que envolvem várias outras, e não somente o DAE, ou a EMDURB (Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru) ou a SEMMA (Secretaria do Meio Ambiente), é uma questão conjunta e deve haver um desenvolvimento ambiental de todos”, comenta Vinícius. A cidade acabou invadindo áreas de vegetação nativa, impermeabilizando solos com asfalto e calçadas, problema que afeta todo o bioma do cerrado, desde a vegetação até o clima, que se torna cada vez mais seco e com temperaturas elevadas.
Ações de conscientização
Segundo Sementili, a solução para a crise de água é evitar o desperdício e o consumo excessivo de água. O crescimento da cidade pode ser o grande vilão no que diz respeito a esses problemas. Então, deve-se pensar melhor o planejamento urbano das cidades, levando em consideração a questão ecológica, evitando-se construir nas regiões de áreas naturais como matas ciliares e vegetação nativa e conscientizando a população sobre o tema.
No começo desse ano, Bauru recebeu da Agência Nacional das Águas (ANA) 700 mil reais para recuperação do Rio Batalha. O projeto, feito em parceria do DAE com as secretarias municipais de Agricultura e Abastecimento (Sagra) e do Meio Ambiente (Semma), com a ajuda da ONG Fórum Pró-Batalha, consiste em proteger o curso do rio com cercas e recuperar a vegetação nos mananciais com o plantio de mudas desde o lago de captação do DAE até a nascente.
Outra medida realizada para conscientizar o público sobre problemas ambientais é o Centro Ambiental Rio Batalha, inaugurado em 2004 pelo DAE e localizado próximo à divisa das cidades de Bauru e Piratininga, que serve como sede para conscientização de grupos escolares ou visitantes que desejam conhecer mais sobre o sistema de captação de água do rio e outras questões ambientais. O Centro também é responsável por ministrar cursos de educação ambiental.
O Plano Diretor de 1996
Em Bauru, as leis que protegem a vegetação nativa são datadas do ano de 1996, quando foi criado o Plano Diretor Integrado. Esse plano é responsável por orientar as medidas que norteiam o desenvolvimento em todos os âmbitos da cidade, inclusive no que se refere às questões ambientais. Em 2006, uma reformulação no Plano previu melhores medidas em relação às APAs ou áreas de proteção ambiental que estivessem no território da cidade.
O plano também foi responsável por regular o trabalho da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, para que pudesse atender a questões ambientais da região que está inserida a cidade de Bauru. No Artigo 18 do plano está prevista a criação de Unidades de Conservação Ambiental no Município de Bauru, tais como o Parque Municipal ou Jardim Botânico Municipal de Bauru, as Áreas de Proteção Ambiental ou APA’s e os Setores Especiais de Conservação de Fundo de Vale ou SEC’s. Segundo outro artigo do mesmo plano, nessas áreas está proibida a construção urbana, bem como uso para indústrias e outros fins comerciais, além de outras atividades humanas que possam causar danos a vegetação presente no local.
Apesar de regular a ocupação de áreas protegidas, a cidade ainda enfrenta problemas por ocupações irregulares de regiões próximas a córregos – que deveriam ser protegidos no âmbito da lei – que se transformaram em bairros com pouca infra-estrutura. Há também condomínios de alto padrão que foram construídos nessas áreas. Além de problemas ambientais, isso se torna a causa de problemas urbanos e políticos dentro da cidade de Bauru, que se apropria de espaços com alto valor imobiliário, possibilitando que cidadãos de baixa renda se apropriem de áreas irregulares. Dessa forma, a ocupação urbana em Bauru não obedece ao texto do Plano Diretor, o que agrava ainda mais a questão ambiental na cidade.
Reportagem: Giovanna Diniz e Mariana Amud Fernandes
Produção: Keytyane Medeiros
Edição: Mariana Amud Fernandes