Browse By

Os desafios enfrentados para a visibilidade trans no Brasil

Apesar do lento processo, pessoas trans estão começando a ganhar visibilidade na mídia e, o mais importante: estão começando a ser tratadas com respeito pela sociedade.

A Parada do Orgulho LGBT já faz parte do calendário cultural de São Paulo. Mais que uma festa, o evento é um ato político para chamar a atenção para as questões LGBT+ e São Paulo ainda carrega a marca da maior parada do mundo. A 19ª edição reuniu cerca de 4 milhões na Av. Paulista no  dia 7 de maio, mas foi o ato da atriz Viviany Beleboni que gerou uma grande discussão na internet. O protesto de Viviany, atriz, 26 anos e transexual, dividiu opiniões. Ela se prendeu a uma cruz, como Jesus Cristo, e ali representou todo o sofrimento e descaso vivido pela comunidade LGBT, mais especificamente pelas pessoas trans.

A foto desse ato estampada nos jornais foi o que fez o protesto repercutir. “Quando aparece foto de travesti brutalmente assassinada as pessoas não se incomodam, mas bastou encenarmos essa morte, mostrar uma travesti morta numa cruz, para as pessoas começarem uma discussão sobre ‘cristofobia’”, afirma Amara Moira, travesti há pouco mais de um ano, militante e fundadora do coletivo TransTornar na Unicamp. Apesar de críticas rasas e transfóbicas em relação ao protesto de Viviany, o caso foi só mais um exemplo de como a mídia precisa tratar mais sobre as questões LGBT para que a sociedade discuta e avance contra o preconceito e a violência vivida por essa comunidade. Na opinião de Amara: “o que é mais importante: discutir mortes reais ou uma encenação feita pra ilustrar o que vivemos?”.

A visibilidade de pessoas trans na mídia ainda é muita pequena, mas esse espaço tem aumentado nos últimos anos, mesmo que lentamente. Luna Gruntman ainda não se sente representada pela mídia e critica a forma como trans são caracterizadas: “o caso mais comum é quando usam ‘ele’ para uma mulher trans ou ‘ela’ para um homem trans, e também ‘o’ transexual/travesti ao invés de ‘a’. A mídia de certa forma ainda é muito tradicionalista”. Amara Moira ainda critica “homens trans seguem ignorados pela grande mídia, o que faz com que o grosso da população sequer saiba de suas existências”.

Outra questão levantada por Amara é a forma depreciativa em que as travestis são retratadas, principalmente por estarem ligadas de forma íntima, como ela afirma, à “prostituição, marginalização e exclusão social”. Mas a militante já está notando os pequenos avanços da grande mídia com o uso de artigo feminino para mulheres trans e seus nomes sociais, “o que revela que a decisão por respeitar a identidade dessas pessoas está se tornando mais e mais comum, inclusive sem exibirem nomes de registro”, afirma.

[metaslider id=5796]

Na imprensa, duas revistas americanas receberam destaque internacional por colocar mulheres trans na capa. A primeira foi a revista Time com a atriz Laverne Cox, da série Orange Is The New Black, na capa da edição de junho de 2014 e a segunda foi a revista Vanity Fair, com Caytlin Jenner, que já era conhecida pela mídia antes de se assumir uma mulher trans – Caytlin já foi padrasto da empresária Kim Kardashian e campeão olímpico no atletismo.

Contudo, essa visibilidade também teve algumas críticas negativas, a maioria transfóbicas, como a petição online criada para que Caytlin devolvesse a medalha olímpica ganhada em 1976, quase 40 anos antes de sua transição. “Vários criticaram pelo fato de ela ter se assumido tarde, já tendo filhos, e gostar de mulheres, mas isso mostra que existem casos e casos, e ela se sentiu melhor se assumindo agora, e foi de uma extrema coragem”, destaca Luna.

Mas Amara também levanta uma importante questão: é preciso saber diferenciar a visibilidade e a exposição. A visibilidade trans na mídia abre espaço para debates e funciona como um instrumento de transformação da sociedade, mas ela não aposta suas fichas na grande mídia: “faz mais sentido investir esforços na mídia alternativa. No ativismo digital estão surgindo pessoas trans no controle dessas mídias, o que é tão ou mais importante quanto estarmos expostas nessas mídias”.

Saiba mais:
A representatividade LGBT na teledramaturgia brasileira
O outro lado do armário: a publicidade que abraça o LGBT

Reportagem: Ihanna Barbosa
Produção multimídia: Isabela Romitelli
Edição: William Orima

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *