A jogada política da Reforma Política
O que muda com a atual reforma? Quem ganha e quem perde nesse jogo de poder?
Quando falamos em reforma política, isso diz respeito às alterações que podem ser feitas dentro de uma estrutura de legislação vigente, das normas que regulamentam a vida política em determinado país. No Brasil, existe um histórico de reivindicações para dar início de fato a essa reforma. Desde a Constituição Cidadã de 1988, correspondente ao fim do regime militar e ao início do atual período democrático do país, existe um “vazio” no que diz respeito à atualização das leis.
Mandato vai, mandato vem, e a reforma está lá na fundo da gaveta por quase trinta anos. “O tema da reforma política está presente da agenda pública brasileira pelo menos desde o início dos anos 90. Tanto que a PEC que está sendo votada no congresso reúne nada menos que 154 PECs (Projetos de Emenda Constitucional) sobre o tema apresentados entre 1994 e 2014. Sem considerar os projetos de lei ordinários ou complementares, temos em média 7 propostas de emenda constitucional por ano sobre o assunto”, esclarece o Prof. Dr. Emerson Urizzi, do programa de pós-graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná.
Foi então que nas eleições de 2014 Dilma Rousseff (PT) se reelegeu no 2° turno com pouquíssima vantagem pelo candidato Aécio Neves (PSDB), e já no seu discurso da vitória, a presidenta afirmou a necessidade de se fazer uma reforma política, começando por um plebiscito.
Não foi bem o que aconteceu, não é mesmo? As pautas estão sendo votadas pela Câmara dos Deputados e depois passarão pelo Congresso – e a população assiste do sofá, sem ser consultada sobre nada.
Desde o dia 26 de maio de 2015 até agora, a Câmara dos Deputados aprovou diversas medidas que, possivelmente, irão alterar a lei caso sejam aprovadas também pelo Senado e pela presidenta. “O atual modelo é resultado de quase 200 anos de eleições no Brasil. Nossa primeira eleição foi em 1824. Então, temos conhecimento e experiência acumulados o suficiente para podermos dar respostas às novas demandas”, esclarece Urizzi.
O processo da reforma passa por todas essas instâncias antes de realmente começar a valer. Entre as mudanças mais polêmicas aprovadas pelos deputados, por enquanto, está o fim da reeleição e a legalização do financiamento privado de partidos políticos. A pergunta é: o que muda com isso? “Se formos pegar tudo o que foi votado, na minha opinião, ficou pior do que estava. Legitimaram a corrupção [com o financiamento dos partidos pelas empresas], e os interesses dos deputados prevaleceram sobre os interesses do país”, critica o Prof. Dr. Maximiliano Vicente, do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp.
Com o país desestabilizado, surge a reforma política como solução de todos os problemas, mas, diferentemente do esperado, as votações dos parlamentares até agora não mostram à população nenhuma mudança substancial na vida política e partidária, já que agora há o risco de as empresas poderem abertamente “patrocinar” seus partidos. O que deveria ser acompanhado democraticamente pelos cidadãos, com direito a voto, fala, e com direito a uma reforma econômica, transformou-se em justificativa para votação de itens isolados da lei. “Nós somos formados no patrimonialismo, nunca consultamos a população, e sempre se atendeu aos interesses de determinados setores que, hoje, infelizmente, são os mais conservadores que estão no poder. Então essa reforma, que na verdade não é reforma, é fruto do que nós somos”, explica Maximiliano.
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http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/29/politica/1414620232_923180.html
Reportagem: Bibiana Garrido
Produção Multimídia: Marina Moia
Editora: Amanda Fonseca
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